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Influências hispânicas e ambiguidades de Gilberto Freyre foram debatidas no último Seminário de Tropicologia da Fundaj
Uma conversa sobre as influências hispânicas na obra de Gilberto Freyre. Essa foi a proposta do Seminário de Tropicologia, desta terça-feira (29), que aconteceu no campus da Fundaj em Casa Forte. Tendo como palestrante o diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundaj, Mario Helio, o evento trouxe como base de seu debate, o livro “Iberotropicalismo - A Hispanidade, os Orientes e Ocidentes na obra de Gilberto Freyre”, publicado pela Editora Massangana.
“Esse seminário tem a função de ser agregador e renovador do intelecto sobre a cultura. Precisamos ter conversas como essa, pois águas paradas apodrecem. Para debatermos o tema de hoje, teremos a exposição de Mario Helio, que passa conhecimentos numa linguagem parecida com a de Gilberto, o que eu admiro muito”, afirmou o mediador do evento, Lourival Holanda, presidente da Academia Pernambucana de Letras (APL).
Marcando o mês de comemoração de 122 anos do nascimento do sociólogo, escritor e idealizador da Fundação Joaquim Nabuco, a programação foi promovida na Sala Calouste Gulbenkian, no campus que leva o nome do fundador da Casa, em Casa Forte. Iniciando o debate, o palestrante Mario Helio, Diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj e um dos organizadores do livro em questão, trouxe informações de forma didática. “Vamos começar com a definição do nome do escritor. Gilberto tem origem germânica; Mello, portuguesa e holandesa; e Freyre, hispânica”, destacou.
No desenrolar das horas, citou-se que o termo “hispânico” não se limitava somente a Espanha, mas também envolvia toda a península ibérica. E que Freyre começou a se interessar pela cultura referente a esse conjunto de regiões em uma viagem que fez aos Estados Unidos. A partir da comparação com aquele lugar, foi percebida uma identificação do brasileiro com o “ser profundo” da Espanha.
Em seus textos, Gilberto exaltou feitos hispânicos heroicos. “A figura do herói é norteadora do pensamento freyriano. Mas Freyre não só aprecia o heroico Dom Quixote. Ele também se identifica com o sensorial e tem uma ideia de sedução. Don Juan é a figura máxima de sedução e é espanhol. E por fim, ele foi também apreciador de Santo Inácio de Loyola”, afirmou Mario Helio.
Ao final de sua fala, o palestrante ainda leu dois poemas freyrianos. O primeiro, relacionado ao sentido da morte, e o segundo, sobre eternidade. “Em sua sedutora e magistral palestra, Mario mostra sua paixão pelo mundo ibérico e pelo universo de Freyre, que merece ser ainda mais conhecido mundo afora. A obra hispânica de Gilberto, seu pensar e sentir é muito importante para esta casa”, afirmou o presidente da Fundaj, Antônio Campos.
Antes de passar a palavra aos demais debatedores, Lourival Holanda evidenciou a contradição de Freyre, mencionada pelo palestrante: “Mario falou da junção de contrastes, de riquezas interiores. Na linguagem, Gilberto descobre coisas novas e apesar de ser um estudioso intelectual em vida, em sua fala não há sacralidade. Seus textos não são chatos”, destacou.
Na hora dos demais darem suas contribuições, o debatedor Clovis Cavalcanti logo pediu para falar: “Como Mario falou, pude comprovar pessoalmente, em minha relação com Freyre, anos atrás, que ele abordava questões com a motivação sensual e também mística. Era contraditório, como falado aqui’, afirmou. O debatedor José Nivaldo Júnior também fez sua contribuição para o tema: “Nunca vi nada parecido com a dimensão universal do pensamento de Freyre. Seu lado hispânico era também uma militância política contra questões como o eurocentrismo e o racismo. Ele nadava contra a maré naquela época”, comentou.