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Guia orienta docentes sobre como lidar com situações de automutilação que ocorrem em contextos escolares
A automutilação, fenômeno complexo e multifatorial que afeta, principalmente, os adolescentes, foi tema do seminário “Automutilação na escola”, ministrado pela professora e pesquisadora Leonora de Jesus Mendes Tavares, do Instituto Federal do Maranhão (IFMA), no dia (9) deste mês. A atividade marcou a abertura do minicurso "Automutilação em contextos escolares", que faz parte das atividades do Mestrado Profissional de Sociologia em Rede Nacional (ProfSocio) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Durante o seminário, Leonora apresentou o produto educacional em formato de e-book “Como lidar com automutilação: guia prático para docentes do Ensino Médio”, resultado de sua dissertação, que teve a orientação de Álvaro Itaúna Schalcher Pereira e colaboração de Francisco Adelton Alves Ribeiro.
Segundo o coordenador dos cursos de Pós-Graduação da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e supervisor do minicurso, Alexandre Zarias, o trabalho de Leonora, numa perspectiva sociológica, traz uma abordagem que reforça o trabalho que vem sendo desenvolvido com professoras e professores de sociologia do Ensino Médio no mestrado do ProfSocio da Fundaj. “Há uma necessidade muito grande de guias sobre como lidar com esse fenômeno multifacetado, que é a automutilação. A pesquisa de Leonora faz um diálogo muito profícuo e importante entre a sociologia e outras áreas, como a psicologia e a psiquiatria”.
Fabiane Maria Baracho Gama de Amorim é cursista do mestrado do ProfSocio da Fundaj e responsável pela condução das aulas do minicurso “Automutilação: Orientação para Docentes”. O curso faz parte de sua pesquisa de mestrado sobre autolesões no ambiente escolar, no qual investiga os fatores sociais que provocam no indivíduo a vontade de se mutilar. “Não é um tema simples e as instituições de ensino não estão preparadas para acolher esses jovens, muito menos as famílias. Tal comportamento traz prejuízo social muito grande a quem pratica”, enfatiza Fabiane, que também é gestora escolar numa escola da rede pública da Zona Norte do Recife.
Disponível no Portal eduCapes (https://educapes.capes.gov.br/handle/capes/644588), o e-book foi produzido a partir do levantamento das demandas formativas dos docentes do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFMA. “Me interessei pela temática em 2017, quando trabalhava como professora numa escola de tempo integral e comecei a entrar em contato com alguns estudantes que me confidenciaram o recurso da automutilação. De alguma forma eu inspirei confiança neles, que me chamaram à parte e mostraram as feridas e as cicatrizes”, revela a pesquisadora.
Comportamento multifatorial
Leonora ressalta que a automutilação não possui apenas uma causa. Trata-se de um complexo de relações sociais contraditórias, cujos fatores de risco estão classificados em cinco categorias: características pessoais, problemas relacionados à infância, transtornos psiquiátricos, problemas sociais e familiares. Dentre os problemas sociais podemos destacar o bullying, cyberbullying, colegas que se automutilam, dificuldade de relacionamento, preconceito, discriminação (homofobia, racismo) e vulnerabilidade socioeconômica.
Os fatores de risco estão elencados no e-book, que também oferece subsídios para que os professores possam aprimorar a identificação dos sinais de alerta da automutilação no ambiente escolar, como fazer a abordagem do estudante envolvido em comportamento autolesivo bem como a prestação de esclarecimentos sobre o preenchimento da
Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada (https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/via/violencia_v5.pdf) registrada no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que funciona como instrumento de coleta do Ministério da Saúde.
Apesar de o preenchimento da ficha ser obrigatório desde 2016, não existem estatísticas oficiais sobre a automutilação no espaço escolar. “A ficha é de notificação compulsória pelo sistema de saúde, escolas, e órgãos públicos em geral, contudo essa informação não chega às unidades de forma clara”, esclarece a mestranda do ProfSocio Fabiane. “Partimos do pressuposto de que a escola deve ser um lugar de potencialidade para o desenvolvimento integral do educante e, consequentemente, de estratégias educativas para a desnaturalização do tabu da automutilação e apoio ao docente. Com o conteúdo desse seminário, eu quero fazer com que vocês cheguem à sala de aula com um olhar de curiosidade, aberto para o público que vocês estão recebendo. É muito importante ter esse olhar atento, generoso e cuidadoso”, conclui Leonora.
Serviço:
E-book “Como lidar com automutilação: guia prático para docentes do Ensino Médio”:
https://educapes.capes.gov.br/handle/capes/644588
Ficha de Notificação de Violência Interpessoal/Autoprovocada:
https://portalsinan.saude.gov.br/images/documentos/Agravos/via/violencia_v5.pdf
Site do Sinan com orientações sobre a ficha:
https://portalsinan.saude.gov.br/notificacoes