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Fundaj recebe doação de acervo de Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) recebeu a doação do acervo do advogado e político Francisco Julião, que estava sob a guarda do escritor, pesquisador e ensaísta Cláudio Aguiar, autor de vários livros sobre crítica literária, História e Direito, e membro das academias Pernambucana de Letras (APL) e Carioca de Letras, e do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB). Em 2015, recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro Francisco Julião, uma biografia, publicado pela Editora Civilização Brasileira (Rio de Janeiro). O recebimento do acervo foi proposto ainda em abril deste ano, quando Cláudio Aguiar encaminhou à presidenta da Fundação, a professora doutora Márcia Ângela Aguiar, uma carta na qual se propôs a fazer a doação. Francisco Julião ganhou grande destaque como líder do movimento social conhecido como Ligas Camponesas, movimento de trabalhadores rurais, que seria um embrião do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST).
O acervo doado à Fundaj é fruto de uma longa pesquisa realizada pelo escritor, iniciada ainda em 2003, ligada à trajetória de Francisco Julião. Tal pesquisa resultou na publicação “Francisco Julião: uma biografia” (Editora Civilização Brasileira - Rio de Janeiro), que recebeu, em 2015, o Prêmio Jabuti na categoria “Biografia”. "O acervo de Francisco Julião, ora doado à Fundaj, está diretamente vinculado às fontes primárias e secundárias que me proporcionaram a escrever “Francisco Julião: Uma Biografia”. O acervo, esclarece o escritor, não se vincula apenas ao perfil biográfico de Julião, mas, também, ao movimento social das Ligas Camponesas, do qual ele foi o líder máximo.
“Aliás, a minha biografia, em grande medida, trata, fundamentalmente, do líder e do movimento social, porque a questão da terra no Brasil, há séculos, espera solução ainda nos dias atuais. Por isso, o protagonismo do Movimento Social dos Sem-Terra encontra fortes raízes históricas não só nas Ligas Camponesas, mas em todos os demais movimentos anteriores que batalharam pela implementação de eficazes medidas capazes de consolidar mudanças sociais no campo. Nesses pontos, creio, reside a importância desse acervo histórico, que, agora, passará à guarda e conservação da Fundação Joaquim Nabuco", afirmou.
Entre os documentos recebidos pela Fundação estão livros, artigos, entrevistas, iconografia, produção intelectual, correspondências trocadas entre Julião e intelectuais ou familiares, bem como documentos oficiais produzidos a respeito do político (a exemplo dos relatórios do SNI e do DOPS), dentre outros documentos. O material estava guardado na residência de Cláudio. O pesquisador Rodrigo Cantarelli esteve no Rio de Janeiro e realizou uma visita técnica para conhecer melhor o acervo e elaborar um relatório, que foi discutido pela Comissão Permanente de Acervo da Fundaj.
Segundo o relatório de Rodrigo Cantarelli, o acervo dialoga com os acervos existentes na Fundação Joaquim Nabuco, que já possui documentos sobre Francisco Julião, tanto presentes em outras coleções, como as relativas a Mauro Mota, Miguel Arraes e Josué de Castro, sendo esses dois últimos também exilados políticos após o Golpe Civil-Militar de 1964. No acervo da Fundação há, também, um conjunto de documentos textuais sobre o líder das Ligas Camponesas, doados por sua filha, Anatailde Crespo.
Francisco Julião
Francisco Julião nasceu em Bom Jardim, Pernambuco, em 1915, e faleceu em Cuernavaca, capital do estado mexicano de Morelos, em julho de 1999. Formado pela Faculdade de Direito do Recife, na década de 1950, ganhou grande destaque como líder das Ligas Camponesas. As Ligas foram associações que reuniam os trabalhadores do campo, com o intuito de garantir a reforma agrária e uma vida digna. No final de 1950, reunia mais de 70 mil associados em todo o Nordeste, sendo metade deles em Pernambuco. A partir de 1960, em especial após a visita de Julião a Cuba, onde conheceu de perto a ampla reforma agrária, passou a defender um projeto nacional de reforma agrária radical. Após dois mandatos como deputado estadual em Pernambuco, foi eleito deputado federal pelo Estado, em 1962. Dois anos depois, foi cassado e preso pelo regime militar.
No ano seguinte, após ser libertado, foi exilado, fixando residência no México, onde permaneceu por longas temporadas, mesmo após ser anistiado, em 1979. Julião era amigo de Leonel Brizola e filiou-se ao Partido Democrático Trabalhista (PDT). Disputou a eleição para deputado federal em 1986, mas não conseguiu se eleger. Após esse período, dedicou-se a escrever suas memórias, voltando a residir no México. Foi casado com Alexina Arruda de Paula, com quem teve quatro filhos. Divorciado, casou-se pela segunda vez com Regina de Castro, com quem teve uma filha. Francisco Julião morreu de infarto, aos 84 anos, em Cuernevaca, no México. Foi cremado e deixou instruções para que suas cinzas fossem transportadas para Pernambuco, sua terra natal.