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Fundaj promove rico debate para comemorar o Dia Mundial do Meio Ambiente 2024
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist), da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), promoveu, nos dias 13 e 14 deste mês, na Faculdade do Sertão do Pajeú (FASP), em Afogados da Ingazeira/PE, um encontro comemorativo ao Dia Mundial do Meio Ambiente 2024. O tema do encontro é “Combate à desertificação, resiliência às secas e restauração das terras na perspectiva da Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido, com atenção especial às mulheres e juventudes”.
Nesta iniciativa, a Fundaj contou com os apoios da Secretaria de Educação de Afogados da Ingazeira; da Rede de Educação do Semiárido Brasileiro (Resab); do Programa de Desenvolvimento e Meio ambiente (Prodema UFPE), da Casa da Mulher do Nordeste (CMNE - Caatinga Viva e apoiadores); da Diaconia; da Rede Pajeú de Agroecologia e do Centro Sabiá. O evento foi coordenado pelas pesquisadoras e servidoras da Fundaj Edilene Pinto, Edneida Cavalcanti e Solange Coutinho.
O encontro contou com apresentações e discussões muito ricas e necessárias, conectando a um conjunto de iniciativas e pautas presentes do território do Pajeú. Na mesa temática do dia 13, Edneida Cavalcanti destacou “a importância dessas questões ambientais serem melhor compreendidas e incorporadas nos currículos e nas pautas das organizações da sociedade civil, e também o desafio de abordá-las numa perspectiva integrada às mudanças climáticas, a perda de diversidade biológica, à gestão de recursos hídricos e às chamadas políticas de desenvolvimento”.
Ana Célia, professora da UFPA e integrante da Resab, comentou que “a Educação Contextualizada para a Convivência com o Semiárido (ECSA) está embasada nos fundamentos do paradigma da convivência com o semiárido, na educação popular e no pensamento crítico e tem compromisso com outro modelo de sociedade e de educação”.
Enquanto isso, Sara Rufino, da CMNE, apresentou reflexões sobre a educação não-formal a partir de experiências de visibilização do trabalho das mulheres, empoderamento e geração de renda, por meio de quintais produtivos a partir de sistemas agroflorestais e também dos fogões agroecológicos. Ela argumentou que "essas iniciativas possuem relação direta com a mitigação de emissão de gases de efeito estufa, sequestro de carbono, agrobiodiversidade, conservação da Caatinga, das águas e dos solos”.
Já Ita Porto, da Diaconia e do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio Pajeú (COBH Pajeú), discutiu a importância da pauta da desertificação, secas e restauração das terras “ser conectada com as discussões sobre bacias hidrográficas no semiárido”. Ela relatou a experiência da Caravana do Rio Pajeú, que acontece há 15 anos e que articula povos da nascente e povos da foz numa metodologia de denúncias e anúncios, buscando envolver diversos sujeitos sociais e influenciar políticas públicas”.
Na manhã do dia 14, houve a troca de inúmeras experiências de convivência com o semiárido. Coordenada por Solange Coutinho e Vanice Selva, os participantes interagiram primeiro com a iniciativa “Formação em ECSAB” nas escolas do campo em Afogados da Ingazeira, a partir de três experiências apresentadas pelas professoras e professores, focadas em tecnologias hídricas, no uso de plantas medicinais e na produção de hortas, em todos os casos possibilitando uma interface rica entre a escola e a comunidade na qual está inserida.
Na sequência, foi possível entrar em contato com a experiência de Assistência Técnica e Extenção Rural (ATER) Mulheres, acompanhada pela CMNE junto à Associação de Mulheres de Gameleira, no município de Itapetim. Segundo Evanice Souza, que apresentou a experiência “a gente cuida da Caatinga e a Caatinga cuida da gente”, fazendo referência ao conjunto de iniciativas com as quais elas trabalham: proteção de nascentes, guardiãs de sementes, uso de plantas medicinais, fogões agroecológicos, etc., juntando o conhecimento que elas têm na prática com o apoio de ONGs.
EDUCAÇÃO DO CAMPO
Os participantes também puderam interagir com a experiência Educação do Campo, apresentada por Edvânia de Souza, da Gerência Regional de Educação/Sertão do Alto Pajeú. Ela falou das iniciativas que a gerência possui, “a partir da pedagogia da alternância, onde os estudantes vivenciam um tempo escola e um tempo comunidade, sendo possível implementar uma educação sintonizada com a realidade dos educandos/as e contribuir para novas atitudes que levam à convivência com o semiárido”.
Fechando a manhã, foi possível escutar a experiência de reúso de água para irrigação de Sistemas Agroflorestais Valdirene Alves Santos, do Grupo de Mulheres da Comunidade Poço Grande, município de Flores, acompanhada pelo Centro Sabiá. Ela comentou que essa atividade com o reúso “é trabalhosa, mas é gratificante e que a água que sai depois da filtragem deixa as plantas mais fortes e é possível ver resultados tanto para forrageiras como para frutíferas que passaram a introduzir”.
Na parte da tarde, a roda de conversa aprofundou os temas. Edmerson Reis, professor da Uneb e integrante da Resab, destacou que “ter na base da educação essa condição de trazer o conhecimento das populações que sempre foi negado e articular o conhecimento técnico em conexão com a realidade local, é fundamental para pensar outros projetos que leve a um mundo melhor”. Complementou dizendo que “se a educação não se apropria, não promove interação, não garante diálogo entre as culturas diversas, ela não contribui com a mudança. Edilene Pinto falou sobre a importância de articular, pesquisa, formação e produção de material didático, exemplificando com o trabalho desenvolvido a partir da Fundaj e ressaltou a necessidade de articulação com a gestão municipal para desenvolver bem as iniciativas dentro da educação formal.
Wivianne Fonseca, Secretária de Educação de Afogados da Ingazeira, apresentou o processo de elaboração da Política Municipal de Educação Contextualizada para Convivência com o Semiárido e Agroecologia e destacou a importância da parceria com a Fundaj. Ela pontuou que “os desafios agora estão centrados na elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP) para implementação da política, na realização da Conferência Municipal, na sistematização e divulgação de experiências e nas atividades de acompanhamento e divulgação”.
MULHERES
Para finalizar a programação, Apolônia Gomes, da Rede Pajeú de Agroecologia, falou sobre a importância da pauta das mulheres estar presente nas discussões sobre desertificação, seca e restauração de terras. “As mulheres possuem papel estratégico na produção de conhecimentos e gestão sustentável das terras, mas também são as mais impactadas com as secas”, argumentou, complementando que as práticas agroecológicas são estratégias fundamentais de adaptação às mudanças climáticas.
“No evento surgiu fortemente a reflexão e sugestão de maior articulação entre as redes existentes no território e também entre ações ligadas à educação formal e não-formal, centradas na educação contextualizada para convivência com o semiárido”, concluiu Edneida Cavalcanti.