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Fundaj premia vencedores do 2ª Concurso Nordestino do Frevo renovando a força do tradicional ritmo pernambucano
A festa de premiação dos vencedores do II Concurso Nordestino do Frevo foi realizada neste sábado (12), no campus Gilberto Freyre da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Casa Forte.
Celebrando a renovação do ritmo pernambucano, o concurso chegou a sua segunda edição, em 2022, com uma homenagem especial ao compositor Getúlio Cavalcanti, que subiu ao palco acompanhado de sua filha e sua neta, para encantar o público com seus clássicos.
“Muito feliz pela homenagem. Nascido em Camutanga, com 60 anos de Carnaval, trabalhando pela nossa cultura, comendo poeira de bloco, e vejo neste concurso uma oportunidade para que os compositores novos possam mostrar seu trabalho, para os músicos, maestros, é uma porta que se abre de muito valor”, afirmou Getúlio.
Além do homenageado, se apresentaram os blocos líricos Cordas e Retalhos, Bloco da Saudade, Boêmios da Boa Vista, e o maracatu de baque solto Cruzeiro do Forte.
Ao todo, foram entregues 12 prêmios, divididos nas categorias Frevo de Bloco, Frevo Livre Instrumental, Frevo Canção e Frevo de Rua, além de Melhor Intérprete e Melhor Arranjo, que foram escolhidos pela comissão julgadora no próprio evento, após todas as apresentações.
Os troféus foram entregues pelo presidente da Fundaj, Antônio Campos, por Fernanda Pinheiro, do Paço do Frevo, Ana Arraes, ex ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), e por nomes renomados da música como Nena Queiroga, Maestro Forró e Maestro Duda, que é Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco e foi o homenageado de 2021, na primeira edição do concurso.
“É uma alegria para a Fundaj fazer o Concurso Nordestino do Frevo. Mais uma vez, um sucesso. É um encontro de velhas e novas gerações, renovando o frevo e mostrando que o ritmo, essa grande tradição da cultura pernambucana, está vivo. O concurso junta antigos e novos para mostrar essa grande força criativa de Pernambuco”, disse Antônio Campos.
Membro da comissão julgadora, o Maestro Forró se mostrou encantado com a premiação e disse aguardar por novas edições. “O concurso é super importante, espero que tenha para sempre, que entre na agenda natural da Fundação, porque é fundamental para a divulgação e incentivo a novos arranjadores, uma contribuição imensa para a sistematização da nossa música. Estou feliz em participar e dar minha contribuição”.
Renovação
Além de coroar a tradição, o Concurso do frevo possibilita que novos talentos consigam visibilidade a suas composições. E a juventude marcou presença entre os vencedores desta segunda edição.
Com apenas 18 anos, a olindense Pandora Calheiros subiu ao palco para receber o troféu de 2º lugar na categoria Frevo de Bloco, com a canção "Cinzas de Quarta-Feira". E se emocionou ao receber a premiação das mãos do Maestro Duda, um dos maiores nomes da nossa música.
"Participei de última hora, minha mãe queria participar, ela faz poesias, mas não tinha um frevo. Então, usei como inspiração um de seus poemas, chamado Cinzas de Quarta-Feira, fizemos a música e não esperava ganhar em meio a tanta gente boa. É muita emoção, me sinto feliz por ser uma jovem levando o frevo à frente, por ser mulher, temos muitos compositores mais velhos e homens. Então, sinto uma representatividade muito grande”, disse Pandora, que é estudante de Letras na UFPE e estudou piano e teoria musical, em conservatório de música.
Outro que começa a dar seus primeiros passos no frevo e esteve entre os premiados foi José Demóstenes, que em parceria com Rafael Marques venceu a categoria Frevo Canção com a música “Procissão”. Ele ainda recebeu o prêmio de Melhor Intérprete do concurso.
“Fiquei surpreso em ganhar. Estou começando a cantar frevo agora, agradeço o carinho, pois o prêmio é muito importante. Parabenizo a Fundaj pelo concurso. É muito necessário, pois renova as forças do frevo, desengaveta as músicas que temos de modo muito profissional, com uma orquestra incrível, arranjadores, estrutura de palco, tudo para que possamos trazer o melhor ao público pernambucano, que é o verdadeiro vencedor do projeto”, destacou José Demóstenes.
O Concurso contou com a apresentação da Orquestra Nordestina do Frevo, que executou com perfeição as composições vencedoras. O grupo foi criado especialmente para a ocasião, conforme previsto em edital, e reuniu músicos consagrados do frevo sob a regência do Maestro Nilson Lopes, compositor, arranjador e diretor musical do evento. Nomes importantes da música regional, como Gilberto Pontes, Enock Chagas, Nilsinho Amarantes e Fabinho Costa compuseram a equipe, que também apresentou músicas já conhecidas do público, como Vassourinhas e Último Dia, de Levino Ferreira.
“Um concurso como esse é de suma importância pelo incentivo à novos compositores e até mesmo aos veteranos, para que criem novas composições. Há um livro com os frevos vencedores, que acompanha as partituras. Assim, ampliamos o leque de divulgação do frevo, tanto ao público geral, que poderá se deliciar com as lindas composições, quanto para as orquestras que podem renovar seus repertórios”, comentou o maestro Nilson.
Outro desafio para além da renovação é fazer com que o frevo consiga ultrapassar a barreira de ser visto como um ritmo ligado exclusivamente ao Carnaval, como explicou Mario Helio, diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj. “No caso do frevo, há o esforço de transregionalização, digamos assim, para que seja um tipo de música que extrapole Pernambuco e o período restrito do Carnaval, que o frevo se entenda como um gênero musical, um estilo, que não se limita ao período carnavalesco. E a consolidação do concurso serve muito para isso”, disse.
Prêmio
Ao todo, foram destinados R$ 92 mil para os premiados. O valor total é dividido entre os vencedores das 12 categorias, com variação de R$ 4 mil a R$ 10 mil, dependendo da colocação e do segmento. Confira os vencedores:
Frevo de Rua
1. "Pollyanna no Passo", de Zildemar
2. "Freviolando", de Renato Bandeira
3. "Rua da Aurora", de Bené Sena
Frevo de Bloco
1. "Coração de Vendaval", de Rogério Rangel
2. "Cinzas de Quarta-Feira", de Pandora Calheiros
3. "Pelas Ruas de Olinda", de Nelson Gusmão e Manoel de Jesus Tavares Oliveira
Frevo Canção
1. "Procissão", de Rafael Marques e José Demóstenes
2. "DNA Pernambucano", de Roberto José da Silva
3. "Cariri passou dos cem" Fátima de Castro e Braulio de Castro (em memória)
Frevo Livre Instrumental
1. "Um Frevo pro Meu Pai", de Thiago Oliveira
Melhor Intérprete
José Demóstenes
Melhor Arranjo
Rafael Marques
Vivência com o Museu
O Museu do Homem do Nordeste (Muhne) fez da área externa da Fundaj um espaço para a vivência carnavalesca de dezenas de crianças. Com brinquedos infláveis e oficina de confecção de pulseiras, os pequenos coloriram cada espaço com fantasias, glitter e maquiagens.
"A gente do Educativo vive um momento mágico todas as vezes que consegue fazer com que crianças do nosso entorno e de comunidades mais distantes venham ao Museu como um lugar de brincar e frequentar para se divertir, porque o processo de brincadeira é um processo de aprendizagem", celebrou a coordenadora de Ações Educativas e Comunitárias do Muhne, Edna Silva.
A oficineira Samires da Silva, de 11 anos, gosta muito de lidar com adereços e viu no Concurso Nordestino do Frevo e no lançamento do livro "Ao Compasso do Frevo" uma oportunidade de usar a criatividade. Ela ensinou as crianças visitantes a fazer pulseiras com miçangas coloridas. Os pequenos vinham do entorno da Fundaj e do Loteamento Bonfim, em Cruz Rebouças, para brincar e se divertir.
Ana Beatriz, de 7 anos, foi uma das crianças participantes. "Eu já vim dois dias aqui e gostei muito da maquiagem". Já Leandra, de 8, soltou a imaginação para fazer várias pulseiras coloridas: "Eu coloquei a letra da minha amiga preferida e a minha". A tarde de sábado foi também um chamamento para o próximo Domingo dos Pequenos, que vai comemorar a mesma temática com oficinas de pintura, adereço e maquiagem artística.
"Que o caminho pro Museu do Homem do Nordeste seja para elas comum e esteja dentro do imaginário, da rotina, e que elas cresçam entendendo que museu é lugar de criança, de conhecimento e de brincar", finalizou Edna.