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Fundaj participa de palestra sobre construções prejudiciais em áreas de preservação ambiental
Uma reflexão sobre as construções que afetam negativamente a Mata Atlântica presente em Pernambuco. Nesta quinta-feira (20), a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) participou de mais uma atividade em comemoração ao Dia da Terra, que é celebrado oficialmente no dia 22 de abril. Dessa vez, promovida pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), a programação debateu os “Projetos que impactam a APA Aldeia-Beberibe”. Participaram da mesa, a pesquisadora da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj, Edneida Cavalcanti, o representante do Fórum Socioambiental de Aldeia, Rodrigo Ranulpho, e a representante do Grupo de Trabalho do Meio Ambiente do Movimento Negro Unificado de Pernambuco (MNU-PE), Rosiane Pereira. A mediação foi feita por Simone Miranda, do Comitê Popular Aldeias Camarás. A atividade foi realizada no auditório do Cegoe da UFRPE.
A atividade foi descrita como um “grito de socorro” para proteger a APA que está ameaçada de desmatamento, o que consequentemente coloca em risco suas nascentes. O território em questão é uma Unidade de Conservação da Mata Atlântica, que compreende a Estação Ecológica de Caetés (Paulista), o Parque Estadual de Dois Irmãos (Recife), o Refúgio da Vida Silvestre Mata de Miritiba, inserida na área do CIMNC – Campo de Instrução Marechal Newton Cavalcante (Abreu e Lima), o Refúgio da Vida Silvestre Mata da Usina São José (Igarassu) e o Refúgio da Vida Silvestre Mata do Quizanga (São Lourenço da Mata).
Essas áreas de conservação buscam preservar os fragmentos que ainda restam da Mata Atlântica no estado de Pernambuco, pois a mesma já foi sistematicamente exterminada ao longo do tempo. E para essa proteção, há respaldo: a Lei de Proteção de Mananciais de 1986 e um decreto de 2010 que promove a proteção da biodiversidade e das pessoas que lá habitam. Mas isso não tem sido o bastante para evitar que projetos prejudiciais à natureza sejam idealizados, segundo o que trouxeram os palestrantes da programação.
O Fórum Socioambiental de Aldeia busca dialogar com as autoridades governamentais, procurando alternativas locacionais para não haver prejuízo para as áreas que precisam ser preservadas. Para a construção de um projeto recente, que ocupará um total de cerca de 188 campos de futebol, dentro do maior fragmento de Mata Atlântica de Pernambuco, a organização sugeriu uma outra área já desmatada, localizada no município pernambucano de Araçoiaba. Mas a proposta não foi aceita.
Dentro dessa linha de construções que não visam a devida preservação ambiental, em sua fala, a pesquisadora da Fundaj e geógrafa Edneida Cavalcanti falou de suas percepções sobre as propagandas de condomínios luxuosos em Aldeia. Segundo ela, os anúncios apresentam um contato encantador com a natureza, mas em nenhum momento se fala do compromisso daquele prédio com o território em que está inserido. “Essas reflexões me conectaram com o que ouvi sobre a construção da Escola de Sargento na APA. A palavra sustentabilidade virou uma espécie de ‘grife’, falo no sentido pejorativo e superficial do termo. As empresas manipulam as narrativas quando dizem que só vão afetar 2% da Mata Atlântica, mas escondem que isso significa 188 campos de futebol. Eles usam o menor número para negar o avanço da nossa reflexão como sociedade sobre as áreas preservadas”, afirmou.
Edneida Cavalcanti destacou, também, que os pesquisadores da área devem ser mais ouvidos por parte dos governos, pois fornecem elementos técnicos e científicos, que constituem contrapontos consistentes em relação às construções. A pesquisadora ainda chamou atenção para o papel de cada pessoa nesse “cenário” chamado Terra, sendo estudiosa da área ou não. “Muitas vezes a preservação está no discurso e é uma prática que não vai além. Somos a favor do bom senso e não contra a geração de empregos. E precisamos do engajamento ambiental como sociedade civil também”, observou.
Depois da conversa, os palestrantes e o público se reuniram para uma Dança Circular. Comandaram o momento, a professora do curso de Licenciatura em Dança da UFPE, Márcia Virgínia, e a pesquisadora da Fundaj Edneida Cavalcanti. Tendo como tema “A Terra e a Água”, com músicas, a atividade promoveu um momento de conscientização sobre a terra.