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Fundaj levou memória, inovação e relevantes discussões sobre a sociedade à Bienal Internacional do Livro de Pernambuco
Durante os dez dias da XIV Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, realizada no Centro de Convenções, em Olinda, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) firmou seu papel tanto como guardiã da memória e da cultura quanto como espaço de educação e inovação. Bastante movimentado, o estande da Fundação foi palco para o lançamento de livros, palestras, apresentações culturais, leitura de poemas, mesas redondas, oficinas, atividades interativas, com a participação das quatro diretorias: Formação Profissional e Inovação (Difor), Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), Planejamento e Administração (Diplad) e Pesquisas Sociais (Dipes).
A edição da Bienal deste ano contou com mais de 150 expositores de todo o Brasil, 300 atividades culturais, entre palestras, diálogos, shows e saraus e 500 editoras de todo país. Além disso, foram 80 lançamentos de livros e um público de mais de 200 mil pessoas participando do evento, tanto presencial quanto online, de acordo com os organizadores. A movimentação de diversos públicos durante o evento foi destacada pela presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar. “Aqui vimos a cultura pernambucana. Essa vivência traz emoção, ativa a criatividade e a curiosidade, um momento muito valioso que envolveu todas as diretorias da Fundaj. Além disso, reverenciamos a memória e homenageamos pessoas sempre presentes por meio de sua produção”, destacou.
Neste ano, os homenageados da Fundação foram dois importantes nomes da nossa ciência e cultura: o cientista Josué de Castro e o poeta Miró da Muribeca. Ao longo do evento, a Fundaj promoveu uma mesa para celebrar a vida e obra de Josué, com mediação do cientista político e diretor de Memória, Educação Cultura e Arte (Dimeca), Túlio Velho Barreto, e participação do historiador e professor da Unicap Helder Remigio, e da pesquisadora da Fundação Rita de Cássia Araújo. Josué lutou contra a fome no Brasil e inspirou a obra de diversos artistas do movimento manguebeat.
“A obra dele escrita começa a ressurgir no início dos anos 2000, quando começam a ser feitas reedições de sua obra, no bojo da ascensão de Lula no governo e o Programa Fome Zero, que se inspirava no trabalho de Josué. No entanto, dez anos antes, o Manguebeat resgatou essa obra. As letras de músicas são textos que dialogam bastante sobretudo com o romance “Homens e Caranguejos", que é o único escrito por Josué de Castro, um romance baseado na experiência de vida e também na utopia que ele sempre defendeu”, explicou Túlio Velho Barreto. O Manguebeat é um movimento cultural que surgiu em Pernambuco a partir do trabalho de Chico Science e da Nação Zumbi.
A Fundação também promoveu uma instigante roda de conversa sobre o poeta Miró da Muribeca, que contou com abertura da presidenta Márcia Angela Aguiar, além da presença do cineasta e poeta Wilson Freire, de Wellington de Melo, autor da biografia - ainda não lançada - de Miró, com mediação de Túlio Velho Barreto. O bate-papo pautou-se na vida e obra do poeta, falecido em 2022, e seu impacto na cultura. E foi seguido do lançamento do livro “Miróbolante”, de Wilson Freire, baseado em um sonho do autor. A publicação segue 13 poemas inspirados na figura de Miró da Muribeca, acompanhados de ilustrações.
Após o encerramento da Bienal, a coordenadora-geral do Centro de Documentação e de Estudos da História Brasileira Rodrigo Melo Franco de Andrade (Cehibra) da Fundaj, Nadja Tenório, ressaltou que a participação da Fundação foi de uma importância ímpar. No estande da Fundaj, observou, foram apresentados os acervos editoriais e homenageadas pessoas de grande importância. “Pudemos apresentar nossos acervos bibliográficos, com representação sobre Josué, com edições de "Geografia da Fome", e Miró, por meio do acervo particular do diretor Túlio Velho Barreto. E, também, um acervo sobre Lia de Itamaracá, uma das homenageadas da Bienal. Falamos sobre fome, desigualdade. Tivemos interação com o público, por meio da formação de poemas, das palavras cruzadas, utilizamos do nosso audiovisual, com exibição de vídeos. Foi muito positivo”, concluiu.
Lançamentos
A Editora Massangana, equipamento vinculado à Dimeca/Fundaj, levou à Bienal 41 títulos sobre temas diversos, como carnaval, educação, políticas públicas e inovação. Foram realizados lançamentos de publicações com selo da Editora Massangana, como os livros “Ciranda Pernambucana: Antologia Poética Infantojuvenil”, organizado pela a professora Liliane Maria Jamir e Silva e ilustrado por Miqueias Ferraz; o “Catálogo da Coleção Tito Silva de Rótulos Comerciais”; “A Sudene e seu inventor”, de autoria do economista Clemente Rosas; e “A Relação de Gênero na Política de Recursos Hídricos”, das pesquisadoras Izaura Rufino Fischer, Lígia Albuquerque de Melo e Anita Aline Costa (in memorian). Todos os lançamentos foram seguidos de bate-papo com seus respectivos autores.
Debates
Mangue, pesca artesanal e fome. Temas abordados ao longo da vida pelo cientista Josué de Castro e pelo poeta Mirò da Muribeca foram debatidos no estande da Fundaj por pesquisadores da Instituição e convidados. “Manguezais como espaço de vida": a partir desta temática, o pesquisador da Fundação Pedro Silveira, que é um dos editores da Revista Coletiva e coordenador do Programa de Mestrado Profissional de Sociologia em Rede (ProfSocio/Fundaj), debateu o assunto, sendo mediado pelo diretor da Dimeca, o cientista político Túlio Velho Barreto.
Coordenadora do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist), vinculado à Dipes/Fundaj, Edneida Cavalcanti, mediou o bate-papo “Fome, agroecologia e feminismo”, recebendo a professora da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Laeticia Jalil, e a integrante do Fórum de Mulheres de Pernambuco (FMPE), Flávia Moraes. O feminismo na agroecologia, o direito de se alimentar com os alimentos agroecológicos e a agricultura urbana foram abordados pela participantes.
No bate-papo
No debate "Fome e Pesca Artesanal", a pesquisadora da Fundaj, Beatriz Mesquita, o educador popular e coordenador Nordeste da Pastoral da Pesca, Severino Antônio dos Santos, e a engenheira de pesca e mestranda da Universidade Federal Rural de Pernambuco, Marília Gouveia de Melo, falaram sobre a importância de olharmos em torno da cadeia produtiva que compõe a pesca artesanal para, assim, conseguir valorizar os pescadores e pescadoras com políticas públicas. A professora de português e servidora da Fundaj Solange Carvalho conversou com o público trazendo para debate o tema "A Língua Portuguesa em ação: variação e mudança", seguida do lançamento do seu livro "Estudo variável: o apagamento dos ditongos decrescentes orais na fala do Recife", da editora Dialética.
Interatividade, mostra, oficina e música
Interativo, o estande da Fundaj na Bienal disponibilizou para o público um painel de atividades, com caça-palavras baseados na canção “Eu sou Lia”, de Lia de Itamaracá (homenageada pela Bienal), e nos poemas de Josué de Castro e Miró da Muribeca. Uma das paredes do painel foi reservada para que o público “montasse” poemas. “Fiz um poema sobre a falta de cuidado que os homens têm com o mangue. O mangue é vida”, disse Beatriz Castro, 8 anos. Sua mãe, Daniela Castro e Silva, comentou sobre a iniciativa da Fundaj. “Esse espaço para a criação de poemas é muito educativo. Incentiva o pensar”, disse.
Também no estande, durante três dias a exposição virtual: “O sinal está entre nós”, uma mostra de fotografias que tem como intuito estabelecer uma relação entre as tecnologias e os nossos corpos, chamou a atenção do público. A mostra foi criada pelo projeto de extensão do Laboratório Multiusuários em Humanidades (multiHlab), o ImageH, ambos vinculados à Difor/Fundaj. Já na oficina “O visual Chico Science", promovida pela Coordenação de Ações Educativas e Comunitárias do Museu do Homem do Nordeste/Dimeca/Fundaj, a criançada usou elementos do Manguebeat para estilizar os chapéus. Entre os adereços, caranguejos, óculos usados pelo criador do movimento e
A cantora pernambucana Isaar França, que representa e dialoga com o Manguebeat, fez uma bela apresentação, com a participação da compositora Lais de Assis, na viola. Por sua vez, o Coral da Fundaj levou para a Bienal um repertório de músicas nordestinas, como “Anunciação”, de Alceu Valença, e "Sabiá”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas.