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Fundaj inaugura exposição “Aceiro”, com reflexões sobre a resistência de comunidades da Zona Rural
Inaugurando as apresentações da 6ª edição do Concurso de Residências Artísticas da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), a exposição "Aceiro", do artista pernambucano Abiniel João Nascimento, tem início nesta sexta-feira (26). A exibição de estreia será realizada das 17h às 21h, nas galerias Massangana e Baobá, no campus Gilberto Freyre da Fundaj, em Casa Forte, Zona Norte do Recife.
Inspirado pela paisagem do coração de Caraúba, povoado ligado historicamente ao plantio e cultivo da cana-de-açúcar, “Aceiro” investiga os impactos da planta na construção da identidade do povoado. Assim, traços da memória, do território, da labuta cotidiana são combustíveis para a performance construída, onde ele ressignifica feridas ainda expostas no seio familiar.
“É a partir desse (meu) lugar que desenvolvo ‘Aceiro’, pesquisa que vai ao encontro das relações de trabalho que ainda se perpetuam nesse território e que estiveram presentes em minha família até a geração que me antecede”, diz Abiniel. “Aceiro é utilizado aqui como metáfora, entendendo o valor dos movimentos de ressignificação, questionamentos e reconstrução do olhar através da ‘ciência do corpo”, explica. O artista é graduando em Museologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e natural de Carpina, município da Zona da Mata Norte, a 57 km da capital pernambucana.
Formada majoritariamente por pessoas de ascendência indígena – caboclizadas pelo projeto colonial – a Vila Caraúba possui em sua paisagem os 25 engenhos que lhe constituíram, sejam em ruínas ou transformados em usinas e permanecem na construção narrativa sobre o ser-estar nesse lugar.
Curador e pesquisador da Fundação, Moacir dos Anjos ressalta os usos da palavra que dá nome à exposição de Abiniel. “Aceiro”, em seu uso corrente, é prática de limpeza de terreno entre áreas de vegetação, que impede que o fogo se alastre em caso de incêndio, risco sempre presente nas zonas rurais em épocas de estiagem.
Para além disso, Moacir explica que o termo é também metáfora para formas de resistência de comunidades no campo ameaçadas, no passado e agora, pela violência de predadores do ambiente natural. “Na mostra, os dois sentidos da palavra se articulam e se reforçam, oscilando entre a referência a uma luta comum a muitos povos e a uma luta singular, própria de seu lugar de origem, a Mata Norte pernambucana”, inicia o curador.
Aceiro articula, no avizinhamento de trabalhos feitos em mídias diversas – pintura, vídeo, instalação, fotografia, áudio, performance –, informações diversas sobre a violência colonial açucareira e suas atualizações contemporâneas. “Em três pinturas, o artista mais sugere do que exibe cenas de destruição e resistência”, completa Moacir.
Segundo o curador, essas três obras são um dos destaques da mostra. “São imagens que criam atmosfera densa, aproximando ameaça de danos e sensação de encantamento. Ambiguidade também presente na instalação em que um tecido branco encobre da vista objeto disposto sobre uma mesa ao mesmo tempo que sua superfície flexível é moldada por aquilo que esconde – um instrumento de tortura utilizados contra escravizados no Brasil.”
A exposição “Aceiro” ficará aberta ao público entre os dias 27 de agosto e 9 de outubro, de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, e nos sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h.
Serviço:
Exposição: Aceiro - VI Concurso de Residências Artísticas, Dimeca/Fundaj
Artista: Abiniel João Nascimento
Inauguração: 26 de agosto de 2022, sexta-feira, das 17h às 21h.
Período de exibição: de 27 de agosto a 9 de outubro.
Atendimento ao público: de terça a sexta-feira, das 10h às 16h | sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h.
Local: Galerias Massangana e Baobá, campus Gilberto Freyre da Fundaj
Av. Dezessete de Agosto, 2187, Casa Forte, Recife-PE