Notícias
Fundaj divulga resultado do VII Concurso de Residências Artísticas - 2023
A Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio de sua Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), anuncia o resultado do VII Concurso de Residências Artísticas - 2023, promovido pela Unidade de Artes Visuais. O resultado foi publicado na última segunda-feira (15) por meio da portaria nº 83, de 10 de abril de 2024. A seleção foi realizada por uma comissão composta por servidores da Fundaj, do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) e do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (CAp/UFPE), que se reuniram nos dias 26 e 27 de março de 2024, para análise dos projetos inscritos.
Após análise dos 70 projetos que de todo o Brasil, foram selecionados “Sono Sereno”, de Géssica Amorim (PE); Cruzadas, da artista matheusa dos santos (PA); e Águas Passadas Não Movem Moinhos?, de Val Souza (SP). Os representantes da Fundaj foram o pesquisador Moacir dos Anjos, Coordenador-Geral do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), a coordenadora do Projeto de Residências, Ana Carmem Palhares, e o museólogo Henrique de Vasconcelos Cruz, do Muhne. Tivemos ainda as juradas convidadas, Maria Juliana Sá, docente do Curso de Artes Visuais do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE) e Nanda Mélo, docente de teatro no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Pernambuco (CAp/UFPE).
"A avaliação dos projetos foi pautada em priorizar propostas que se concentram na pesquisa e no processo criativo, buscando uma programação que abranja uma ampla gama de expressões artísticas, desde as tradicionais até as mais experimentais, representando diferentes culturas, identidades e perspectivas", destaca Ana Carmen, responsável pelo Núcleo de Artes Visuais da Fundaj e coordenadora do projeto.
O projeto Sono Sereno, da jornalista e fotógrafa e Géssica Amorim, explora as práticas funerárias específicas de algumas cidades do interior de Pernambuco. Com ele, a artista nos convida a repensar nossas próprias concepções de luto e morte. Essa abordagem permite entender melhor a diversidade de rituais e tradições culturais em torno da morte, e como diferentes comunidades lidam com esse aspecto universal da experiência humana.
Géssica Amorim tem a proposta de analisar e compreender a natureza, as características e utilidade dos álbuns de fotografias de famílias das cidades pernambucanas Betânia e Flores no universo cultural desses territórios. Para isso, ela vai fixar os álbuns de fotografia de famílias das cidades pernambucanas Betânia e Flores como base para estudos, entrevistas e coleta de retratos de defuntos em caixões, cortejos fúnebres e cemitérios. "O retrato da quietude dos falecidos pode nos aproximar de uma reflexão sobre um tipo específico do uso da fotografia na construção de memórias afetivas, que se estende a uma maneira de homenagear os mortos e amortecer a dor da perda de entes queridos", conta a artista.
Cruzadas, da artista matheusa, traz à tona as memórias dos integrantes do Grupo de Ativismo Homossexual (GATHO). Matheusa destaca a importância de preservar e compartilhar histórias da comunidade gay no Brasil, mais especificamente no Recife. Esse projeto contribui para o reconhecimento e a valorização da luta por direitos e igualdade, além de promover a visibilidade e o empoderamento dessa comunidade.
De acordo com a artista matheusa, seu projeto "Cruzadas" será desenvolvido tendo como motivações "abordar as políticas e coreografias de convivência do homem homossexual com o mundo ‘cisheteronormativo’, provocar discursos funcionalistas de arquitetura, onde uma forma seria capaz de determinar o uso de um edifício e mapear transformações da própria cidade do Recife através da experiência e da memória desses grupos". Para isso, ela entrevistará membros do Grupo de Atuação Homossexual e colher localidades onde eles se encontravam nos anos 80, imergir em campos de encontro de homens homossexuais no Recife e encenar e documentar essas memórias em fotografias
Em Águas Passadas Não Movem Moinhos?, de Val Souza, a proposta se dá em torno da discussão do corpo da mulher negra a partir de si mesma, de outras mulheres e do acervo de fotografias e cartões postais da Fundaj. Trata-se de uma discussão extremamente relevante, considerando a longa história de representações estereotipadas e objetificação do corpo negro na mídia e na cultura visual. A artista convida a questionar e desafiar essas representações, buscando ressignificar a imagem da mulher negra e reconhecer sua dignidade e autonomia.
Com uma vasta obra, sobretudo, de performances, Val Souza trabalha com instrumentos da filosofia e da crítica cultural para estabelecer outras narrativas, conexões e leituras. Seu projeto, "Águas passadas não movem moinhos?", tem como inspiração eventos que marcaram a vida da artista e vai relembrar alguns dos acontecimentos cotidianos e fora do comum vistos a partir de um olhar feminino negro.
O período de residência artística será acompanhado pela equipe educativa e curatorial da unidade de Artes Visuais. O resultado das residências será exposto nas galerias Massangana ou Baobá, no campus Gilberto Freyre da Fundaj, em Casa Forte. "O concurso de Residências Artísticas é uma maneira de assegurar que a arte, não apenas reflita a realidade, mas também a questione e a desafie, abrindo caminho para um diálogo mais inclusivo e significativo. Os projetos apresentados exemplificam a capacidade da arte de provocar reflexões e diálogos sobre questões sociais, culturais e políticas importantes, contribuindo para a construção de uma sociedade mais inclusiva, justa e consciente", finaliza Ana Carmem.
Sobre as artistas premiadas
Géssica Amorim é jornalista e fotógrafa, nascida e criada em Sítio dos Nunes, Sertão do Pajeú. Sua produção se concentra na Fotografia, na qual busca produzir principalmente imagens que retratem e discutam o seu cotidiano no sertão, usando elementos que compõem parte do que há em nosso imaginário sobre a realidade sertaneja. Seu projeto, Sono Sereno, tem como proposta investigar a poética de rituais fúnebres específicos, que se caracterizam por registrar fotograficamente pessoas falecidas antes de serem sepultadas, dentro de um contexto familiar de valorização e afeição.
Já matheusa dos santos (também conhecida como 0800tete0001) é poeta e, a partir da palavra, expande sua atuação para a imagem, o som e a performance. Nascida no Pará e residente em Recife desde 2017, já compôs exposições coletivas em Pernambuco e no Rio de Janeiro. O projeto Cruzadas, parte do relato e da imersão em campo para gerar o mapeamento e a encenação de memórias e espaços utilizados de forma heterotópica pelas comunidades homossexuais na cidade do Recife. Por meio da fotografia e do diário, e em parceria com o coletivo Arquitetura Bicha, a artista propõe uma série de fotografias que se debruça sobre a exploração das inversões e interrupções de usos convencionais em edificações para a instauração de afetividades e convivências em um âmbito coletivo e territorializado.
Val Souza nasceu em São Paulo e vive entre sua cidade natal e Salvador, desenvolvendo uma vasta obra, sobretudo, de performances, na qual trabalha a circulação de subjetividades por meio da contínua auto exposição de seu corpo e da produção de imagens de si, valendo-se dos instrumentos da filosofia e da crítica cultural para elaborar também outras narrativas, conexões e leituras com base em pesquisas iconográficas sobre a representação histórica de mulheres negras no Brasil e no mundo. No projeto Águas passadas não movem moinhos?, inspirando-se em eventos que marcaram sua vida, a artista relembra alguns dos acontecimentos cotidianos e fora do comum vistos a partir de um olhar feminino negro.
Sobre a Comissão Julgadora
Moacir dos Anjos, presidente da comissão, é Pesquisador e Coordenador-Geral do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Foi curador da 29ª Bienal de São Paulo (2010) e das exposições Cães sem Plumas (MAMAM, 2014), A Queda do Céu (Paço das Artes, 2015), Quem não luta tá morto. Arte democracia utopia (Museu de Arte do Rio, 2018), Necrobrasiliana (Fundaj, 2022) e Negros na Piscina (Pinacoteca do Ceará, 2022, com Fabiana Moraes). É autor de Local/Global. Arte em Trânsito (Zahar, 2005), ArteBra Crítica (Martins Fontes, 2010), Contraditório. Arte, Globalização e Pertencimento (Cobogó, 2017) e Ataque à Indiferença. Ensaios sobre arte e política (Cobogó, 2024, no prelo).
Ana Carmen Palhares, coordenadora do projeto, é servidora da Fundaj, onde ocupa o cargo de Analista em Ciência e Tecnologia Sênior, na Unidade de Artes Visuais da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca). É doutora em Estudos Culturais pela Universidade do Minho, em Portugal. Atua no Campo da Cultura Contemporânea com ênfase em Arte-Educação, coordena projetos em Artes Visuais, Cinema e Educação, desde 2006.
Henrique de Vasconcelos Cruz, museólogo, é servidor da Fundaj, onde ocupa o cargo de Analista em C&T do Muhne, possui Bacharelado em Museologia (2006) e Mestrado em Museologia e Patrimônio (2014) pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - Unirio. Desde 2007 é Analista em Ciência e Tecnologia Fundaj. Foi presidente do Fórum dos Museus de Pernambuco (2011-2013) e Coordenador Pedagógico do Curso de Especialização em Museus, Identidades e Comunidades promovido pela Fundaj (2019-2020). É um dos organizadores do livro Museu do Homem do Nordeste em 40 objetos (2021).
Maria Juliana Sá (IFPE) é Mestra em Artes Visuais pelo Programa de Pós Graduação em Artes Visuais da UFPE/UFPB, especialista em Mediação Cultural e Graduada em Licenciatura em Educação Artística com habilitação em Artes Plásticas pela mesma instituição. Atualmente é docente em Regime de dedicação exclusiva do Curso de Artes Visuais do Instituto Federal de Pernambuco. É membro do núcleo de estudos afro-brasileiros e indígenas (NEABI) do IFPE, pesquisando principalmente os seguintes temas: Decolonialidade, dispositivos de Mediação Cultural e currículo.
Nanda Mélo (CAp/UFPE) é professora de teatro, atriz e contadora de histórias, com pesquisa que entrelaça educação, performance e narração artística. Nasceu em Caruaru (PE) e reside em Recife (PE) desde 2006, onde tem projetos independentes como encenadora e dramaturga, sendo seu espetáculo mais recente Do céu do meu quintal (2023), que estreou com temporada no Feteag (2023). É mestra (UFRN) e licenciada (UFPE) em Artes Cênicas, atualmente produzindo como docente de Teatro e supervisora do Núcleo de Pesquisa, Extensão e Cultura (Nupexc) do CAp/ UFPE. É também pesquisadora colaboradora no projeto Poéticas do Aprender: conexões entre arte, filosofia e educação (UFRN).