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Fundaj debateu precarização e saúde mental no I Seminário Mundos do Trabalho
Ao longo de dois dias, a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio do Centro de Estudos de Cultura, Identidade e Memória (Cecim) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), promoveu um amplo debate sobre as transformações e desafios contemporâneos do mundo do trabalho no "I Seminário Mundos do Trabalho: da Precarização Laboral ao Adoecimento Mental". O evento, realizado na Sala Aloísio Magalhães, no Campus Ulysses Pernambucano, no Derby, contou com expressiva participação de público, reunindo pesquisadores, trabalhadores e representantes sindicais.
A abertura, na quinta-feira (05/09), foi conduzida pela presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, que ressaltou a importância do seminário para abordar questões como a plataformização do emprego, um fenômeno que vem impactando o mercado de trabalho global. Márcia Angela destacou o potencial do evento para gerar novos debates e soluções. A mesa de abertura contou com a presença do diretor da Dipes/Fundaj, Wilson Fusco, da coordenadora-geral do Cecim/Dipes/Fundaj, Darcilene Gomes, e do professor Maurício Sardá (UFPE/Labor).
"Os pesquisadores têm se dedicado a esse tema, e muitos debates ainda serão gerados a partir dos desdobramentos do seminário. Uma característica importante deste evento é trazer à tona o depoimento daqueles que sofrem os maiores impactos, como os bancários, incluindo testemunhos de quem vivencia esse processo diariamente. Temos pessoas que sentem os efeitos da desvalorização e do desaparecimento em meio às transformações que estão ocorrendo", disse a presidenta.
O primeiro dia foi marcado pelas palestras do professor Ricardo Antunes (Unicamp) e da procuradora Vanessa Patriota da Fonseca (Ministério Público do Trabalho), que abordaram o tema “Subordinação, Uberização e Desantropomorfização do Trabalho”. Em suas falas, os especialistas trouxeram reflexões sobre a crescente desumanização das relações trabalhistas. "O Seminário foi de extrema importância e chamo a atenção para a presença do intelectual Ricardo Antunes, que tem um trabalho muito relevante, que impactou pesquisadores da área. Ao analisar a situação do trabalho no mundo contemporâneo, ele traz análises que nos auxiliam a compreender as grandes mudanças pelas quais passa a sociedade", destacou a presidenta da Fundaj.
No mesmo dia, foi realizado o lançamento do livro *Subordinação (mal) Camuflada: a Dominação Capitalista no Trabalho em Plataformas Digitais*, da procuradora Vanessa Patriota. O evento, que ocorreu na Sala de Leitura Nilo Pereira, contou também com a participação de figuras como o professor Carlo Cosentino (UFPE), a juíza do trabalho Maria Odete Freire de Araújo (TRT6) e o professor Ricardo Antunes, que destacaram a relevância da obra no contexto atual.
De acordo com Vanessa Patriota, embora as plataformas aleguem autonomia no trabalho, provas obtidas em diversos inquéritos e em pesquisas científicas indicam a presença de pressupostos da relação de emprego, especialmente no que diz respeito à subordinação. “Os termos de uso das plataformas digitais são contratos de adesão, nos quais os trabalhadores não podem modificar nada. Onde está a autonomia? O valor da remuneração é definido pelas empresas, quando sabemos que o autônomo deveria definir o valor de seu serviço. Também constatamos invasões de privacidade, com a coleta e disponibilização de dados dos trabalhadores", afirmou.
Na manhã da sexta-feira (06/09), o seminário continuou com a mesa “O Trabalho dos Bancários: Repercussões na Saúde Mental”, coordenada pelo professor Maurício Sardá, com a participação das orientandas Ingrid Barbosa e Mylena de Paula, do Grupo de Pesquisa Labor, uma parceria entre UFRPE, UFPE e Fundaj. Os dados apresentados revelaram o impacto das metas inalcançáveis e da eliminação de postos de trabalho sobre a saúde mental dos bancários, reforçando a importância de discutir o sofrimento gerado por essa desvalorização profissional.
Representantes sindicais também estiveram presentes nessa discussão, como o secretário de Saúde do Sindicato dos Bancários de Pernambuco, Alan Patrício, e a dirigente Bethânia Montarroyos. Ambos relataram os desafios enfrentados pela categoria, incluindo assédio moral, doenças relacionadas ao estresse e a vigilância exacerbada das rotinas laborais.
“É importante chamar a atenção para o processo de adoecimento que as formas de organização do trabalho estão provocando nos bancários e em diversas categorias. A academia tem esse papel de trazer à tona as condições reais de trabalho e de vida das pessoas. É uma contribuição importante para as lutas dos trabalhadores”, destacou o pesquisador Maurício Sardá.
O encerramento do evento, na tarde da sexta-feira, trouxe a mesa “Além do Sofrimento: o Lugar do Humano no Mundo do Trabalho”, com os professores Euda Kaliani Rocha (UFPE) e Gabriel Peters (UFPE). Os palestrantes abordaram questões como burnout, riscos psicossociais e o adoecimento mental causado pelas condições de trabalho atuais, enfatizando a urgência de discutir a saúde mental no ambiente laboral.
Para a coordenadora do Cecim/Dipes, Darcilene Gomes, o seminário serviu como ponto de partida para um diálogo contínuo. As discussões e reflexões surgidas nesses dois dias reforçam a necessidade de repensar o futuro do trabalho e as formas de resistência diante das crescentes pressões do sistema capitalista. “O seminário foi um sucesso, com forte presença de público nas três mesas. A ideia foi juntar quem se interessa pelo tema e, a partir disso, pensar numa rede de estudo do trabalho em Pernambuco, com a parte jurídica, sindical e a universidade”, concluiu.