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Fundaj debate os impactos da Inteligência Artificial na sociedade e na educação
Como a inteligência artificial pode contribuir para o aprendizado? O debate sobre essa e outras questões foi promovido pela Fundação Joaquim Nabuco, nesta quarta-feira (19), durante mais uma edição dos "Diálogos Interinstitucionais na Fundaj", com palestra ministrada pelo professor doutor Sérgio Amadeu da Silveira e mediação da presidenta da instituição federal, a professora doutora Márcia Angela Aguiar.
"É uma grande satisfação estar aqui com o professor Sérgio Amadeu, uma autoridade na área de tecnologia, que ocupou cargos estratégicos relevantes na política deste setor. Participar deste debate significa enfrentar os novos desafios para nossa democracia e avaliar seu impacto aqui e no mundo. O professor nos traz uma visão crítica e é muito bem-vinda a oportunidade de termos uma perspectiva que nos forneça elementos para análise e tomada de decisões neste novo cenário", afirmou a presidenta Márcia Angela Aguiar.
Durante a palestra, Sérgio Amadeu destacou como o mundo está se digitalizando e abordou a criação de um modelo de negócios baseado na extração contínua de dados. Segundo Amadeu, há uma produção maciça e constante de dados, referida como capitalismo de vigilância, quando dispositivos são criados para gerar dados que são coletados.
Professor doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo, associado da Universidade Federal do ABC (UFABC) e membro do Comitê Científico Deliberativo da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber), Sérgio Amadeu integrou o Comitê Gestor da Internet no Brasil e presidiu o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação. É pesquisador do CNPq e autor de livros sobre o tema. Entre eles “Tudo sobre tod@s: redes digitais, privacidade e venda de dados pessoais”, “Exclusão Digital: a miséria na era da informação” e “Software Livre: a luta pela Liberdade do conhecimento”.
O especialista enfatizou o impacto ambiental dessa geração contínua de dados. Para que as inteligências artificiais funcionem, são necessários milhares de centros de dados físicos interconectados globalmente, que consomem quantidades enormes de energia, muitas vezes proveniente de fontes que dependem da queima de combustíveis fósseis.
"Onde são armazenados esses dados? Em estruturas gigantescas, prejudiciais ao meio ambiente devido ao significativo consumo de energia e água, que já supera o da aviação civil. O armazenamento em data centers, o treinamento de IA generativa e o uso de modelos treinados consomem quantidades descomunais de energia, utilizando conexões de fibra óptica. Por exemplo, o treinamento de um modelo de linguagem com 1,56 trilhões de parâmetros, como o LaMDA do Google, emitiu aproximadamente 36 mil toneladas de CO2 na atmosfera", comentou o professor.
O especialista também discutiu a concentração de renda resultante desse modelo, as abordagens simbólica e conexionista da inteligência artificial, e enfatizou o impacto real dessas tecnologias na precarização do trabalho e até mesmo na eliminação de postos de trabalho, citando exemplos como o jornalismo, a dublagem e a advocacia. "A IA é eficaz em várias áreas, mas pode criar condições de trabalho precárias, resultando no desaparecimento de empregos. Portanto, precisamos engajar no debate, compreender a IA como ela realmente é e interromper a entrega de dados do Brasil para terceiros. É crucial construir infraestruturas soberanas", destacou.
E na educação? Qual é o impacto? Esta foi outra questão levantada por Sérgio Amadeu da Silveira, que defendeu a necessidade de protocolos de implementação de IA na educação que respondam às seguintes questões: O que aceitar e o que não aceitar? Como a IA generativa pode aumentar a autonomia dos educadores? Como a IA existente pode melhorar as condições de trabalho dos professores? Como melhorar o aprendizado dos estudantes? "As educadoras e os educadores precisam assumir a condução do desenvolvimento e do uso dessas tecnologias", concluiu Sérgio.
Você pode assistir à palestra completa no YouTube, clicando aqui!
Sessões
Os encontros promovidos pela Fundaj foram iniciados em abril e têm como objetivo facilitar o diálogo com setores governamentais e da sociedade civil sobre temas comuns. As palestras são realizadas na Sala do Conselho Diretor, no campus Gilberto Freyre da Fundação, em Casa Forte. Já foram discutidos temas como pós-graduação em educação e a reestruturação de órgãos federais, entre outros. "Este é um espaço onde discutimos questões contemporâneas de grande interesse para a sociedade brasileira, reafirmando o compromisso da Fundação Joaquim Nabuco com essas questões e com diversos setores", concluiu a presidenta da Fundaj, Márcia Angela Aguiar.