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Exposição “Sono Sereno” chega à Galeria Baobá da Fundaj com retratos de afeto e despedida
Sentimentos e significados múltiplos em registros de um momento comumente associado apenas à tristeza. Esse é o ponto de partida da abertura da exposição “Sono Sereno”, da fotógrafa e jornalista Géssica Amorim, aberta na quinta-feira (03/10), na Galeria Baobá, no Campus Gilberto Freyre da Fundação Joaquim Nabuco. Formada pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Géssica é residente do projeto VII Residências Artísticas, da Unidade de Artes Visuais da Dimeca, que busca viabilizar anualmente os trabalhos de três artistas, por concurso. A mostra ficará em cartaz até 3 de novembro, com visitação aberta ao público de terça a sexta ( 9h às 17h), e aos domingos e feriados (13h às 17h).
A abertura da exposição “Sono Sereno” foi prestigiada pela presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, pelo diretor da Dimeca, Túlio Velho Barreto, pelo crítico de arte e coordenador-geral do Museu do Homem do Nordeste, Moacir dos Anjos, e pela responsável pela Unidade de Artes Visuais/Dimeca, Ana Carmen Palhares. Dividida em dois ambientes, a exposição transporta os visitantes para o universo das fotografias de pessoas falecidas antes de serem sepultadas, uma prática consolidada durante décadas em determinadas regiões do estado. Além do uso de elementos que remetem à cultura local, a exposição transmite sua força temática por meio de fotografias de álbuns de famílias das cidades de Betânia e de Flores.
Com imagens das décadas de 70 a 90, e a mais recente datando de 2005, a exposição volta o olhar à prática das fotografias pré-sepultamento, sua natureza e seu lugar como parte das culturas locais. Elementos tipicamente “temidos”, como cemitérios e caixões, aparecem nas imagens sob uma ótica, para muitos, incomum. Entre o conjunto de fotos, registros com nível elaborado de produção e decoração chamam a atenção. Rejane Lima, fotógrafa de Betânia muito requisitada pelas famílias locais para registros do tipo, é a autora da maioria das imagens da exposição.
Natural de Sítio dos Nunes, no Sertão do Pajeú, Géssica Andrade teve contato com o tema já em sua casa, ao conviver, há tempos, com a imagem marcante de uma senhora em um caixão, rodeada por entes queridos, no primeiro ambiente da exposição. “A foto que está na primeira sala é da minha bisavó. É a única imagem que temos dela em casa”, revelou a artista, que vivencia sua primeira exposição individual. “Meu interesse começa a partir daí. É curioso ter esse tipo de imagem em casa. Começo a me questionar a razão pela qual as pessoas fazem esse tipo de foto antes de sepultar uma pessoa. As fotos têm uma composição muito marcante, as pessoas posam para a imagem, se organizam em volta do caixão, vão decorando”, descreve.
Para Géssica, os registros vão além da morbidez tipicamente associada à morte. Neles, pode residir poesia, beleza e uma declaração bastante aberta de afeto. “Ali, no meio dos caixões e das buganvílias rosas, das roupas gastas e dos olhares solenes, há o peso denso da ternura”, sintetiza a jornalista Fabiana Moraes, no texto curatorial da exposição.