Notícias
Exposição “Aceiro” é inaugurada na Fundaj abordando violências coloniais e suas adaptações para a atualidade
“Corpos caboclos continuam cambaleando”. E ao mesmo tempo que cambaleiam, resistem. Esta é uma das abordagens retratadas na exposição "Aceiro", do artista pernambucano Abiniel João Nascimento, inaugurada, nesta sexta-feira (26), nas galerias Massangana e Baobá da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Casa Forte, Zona Norte do Recife.
O artista natural de Carpina, na Zona da Mata Norte do Estado, se inspirou na paisagem do coração de Caraúba, povoado ligado historicamente ao plantio e cultivo da cana-de-açúcar, para produzir “Aceiro”, que investiga os impactos desse plantio na construção da identidade do povoado.
Assim, traços da memória, do território, da labuta cotidiana são combustíveis para uma performance na qual Abiniel ressignifica feridas ainda expostas no seio familiar. A exposição abre as apresentações da 6ª edição do Concurso de Residências Artísticas da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj)
“Meu trabalho reflete muito o que é minha família e a comunidade onde cresci. Minha família é de agricultores, cresci no meio da disputa de terras, de antigos trabalhadores de engenhos. Então, minha família vem da luta pela terra. Sou a primeira geração que não trabalha no engenho, que entrou na universidade, que não exerce trabalho braçal”.
Em ‘Aceiro’, há a reflexão sobre essas relações de trabalho que ainda se perpetuam naquele território e que estão presentes por gerações. E Abiniel- que é bacharel em Museologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) - propõe a discussão sobre essa sobrevivência em um local onde a luta nunca acaba.
“É apontar para algo positivo e negativo. Como a obra Pinga Fogo, por exemplo, que fazemos garrafadas com ervas indígenas, da nossa cultura, com a cachaça, que vem do nosso trabalho braçal e que não vem para nós, originariamente, de forma positiva”.
“Aceiro” - palavra que dá origem à exposição - é utilizada aqui como metáfora, entendendo o valor dos movimentos de ressignificação, questionamentos e reconstrução do olhar por meio da “ciência do corpo”.
Curador e pesquisador da Fundação, Moacir dos Anjos ressalta essa manifestação sobre a violência que existe desde a fundação do Brasil. “O País foi inventado a partir de violência contra a população indígena e contra os povos africanos escravizados. Assim se organiza a sociedade, a economia do Brasil colonial e aqui, em Pernambuco, se organiza a economia da cana-de-açúcar, que só existe em função dessa violência”.
Mas o trabalho de Abiniel, segundo Moacir, não olha somente ao passado, ele aponta para o mundo presente, mas com indícios, sem ser literal, com imagens, objetos, cenas resgatadas, sons e imagens que compõem um painel que nos leva ao ambiente passado, com repercussões dessa violência na atualidade.
“Também é demonstrada a resistência, seja nas falas dos antepassados, com trabalho em áudio, na galeria Baobá, seja em olhares de pessoas dançando que interpelam quem as fotografou, reafirmando sua presença, nas lanças do maracatu, própria da região. Então, acho que o trabalho oscila entre a violência e resistência e é uma das exposições mais pertinentes sobre o assunto que tenho visto nos últimos anos”, concluiu o curador.
.A exposição “Aceiro” ficará aberta ao público entre os dias 27 de agosto e 9 de outubro, de terça a sexta-feira, das 10h às 16h, e nos sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h.
Serviço:
Exposição: Aceiro - VI Concurso de Residências Artísticas, Dimeca/Fundaj
Artista: Abiniel João Nascimento
Inauguração: 26 de agosto de 2022, sexta-feira, das 17h às 21h.
Período de exibição: de 27 de agosto a 9 de outubro.
Atendimento ao público: de terça a sexta-feira, das 10h às 16h | sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h.
Local: Galerias Massangana e Baobá, campus Gilberto Freyre da Fundaj
Av. Dezessete de Agosto, 2187, Casa Forte, Recife-PE