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Encontro realizado no Engenho Massangana debateu a pesquisa em museus
A histórica capela de São Mateus, edificação do século XVIII que faz parte do conjunto arquitetônico do Engenho Massangana, equipamento cultural vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), foi o palco do I Encontro de Pesquisa de Museus e Museologia da Rede de Museus de Pernambuco (Remupe), que reuniu estudantes, pesquisadores e profissionais de museologia, na sexta-feira (30). Com o eixo temático “Museus e Museologia em Foco”, o evento foi realizado conjuntamente pela Remupe e o Serviço de Estudos Museais e do Engenho Massangana, por meio do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
A programação incluiu uma visita guiada pelas exposições do Engenho Massangana, uma oportunidade de conferir a mostra “Masanganu: memórias negras”, cuja narrativa questiona a invisibilidade das pessoas negras por muitos anos na história do país. Os participantes também visitaram a exposição “Para que as estátuas não morram”, que exibe objetos étnicos africanos pertencentes ao acervo do Museu da Abolição e restaurados pelo Laboratório de Pesquisa, Conservação e Restauração de Documentos e Obras de Arte Antônio Montenegro (Laborarte) da Fundaj.
Segundo Silvia Barreto, chefe do Serviço de Estudos Museais e do Engenho Massangana, a realização do encontro no espaço reforça o papel da Fundaj na promoção do diálogo e no incentivo à pesquisa. “Faz muito sentido pensar o papel dos museus e da museologia num equipamento cultural que realiza exposições e ações educativas, como o Engenho Massangana. Os museus precisam do diálogo com a perspectiva acadêmica, pois esta tem muito a contribuir para que essas instituições reflitam sobre o fazer museal e elaborem o que querem para o futuro."
Silvia destacou ainda a importância das bolsas de Cooperação Técnica ofertadas em parceria com a Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe), que viabilizam a pesquisa de Lívia Maria de Souza Araújo, graduanda de Museologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e de Maria Luisa Ribeiro, aluna do curso de Ciências Sociais (UFPE).
As duas foram as primeiras a se apresentarem durante o evento, onde expuseram uma das linhas de investigação do “Projeto Memória e Resistência”, processo reflexivo do Muhne que se iniciou com a revisão da catalogação a com a melhoria da qualidade das informações relacionadas aos objetos indígenas e de Religiões de matriz africana no acervo do Muhne, com a finalidade de compor narrativas mais justas e corretas. As bolsistas estão pesquisando os objetos do babalorixá Mário Miranda que também se apresentava como Maria Aparecida.
Ao todo, nove trabalhos foram apresentados, entre TCCS, dissertações e teses que se debruçaram desde a sociomuseologia e o turismo de base comunitária até o mapeamento e a valorização das coleções etnográficas em Pernambuco. O I Encontro de Pesquisa de Museus e Museologia da Remupe também contou com uma palestra do museólogo do Muhne, Henrique de Vasconcelos Cruz, que versou sobre formas de pesquisa em museus e museologia, tendo abordado diversos temas, perspectivas teórico-metodológicas para o estudo de coleções.
“O cerne da criação do museu se dá no final do século XVIII e ao longo do século XIX. Foi nesse espaço que surgiram as primeiras pesquisas antropológicas e não nas universidades, que no Brasil se constituem a partir do século XX. Muitas pesquisas começaram no Museu Nacional, no Museu Paulista, Museu Paraense Emílio Goeldi, eram estudos em botânica, zoologia e antropologia. O museu desponta como esse espaço de início da ciência no Brasil, e em outros países do mundo, como uma instância de pesquisa por excelência”.
Para o museólogo e organizador do I Encontro de Pesquisa de Museus e Museologia da Remupe, Elinildo Marinho, o evento cumpriu sua função para a divulgação de trabalhos e a consolidação de parcerias. “Estou muito feliz com as apresentações e por estar no Engenho Massangana. Eu vim para um lugar que me traz lembranças difíceis de pessoas como eu, negras. É muito pertinente que a gente possa ocupar esses lugares e ocupar como hoje, como organizadores. Isso é muito significativo e expressivo. É este lugar que eu quero ocupar, eu não quero ocupar a senzala, eu quero ocupar a casa grande inteira”.