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Em palestra no Cetene, historiadora da Fundaj passeia por construção imagética da Independência
Qual o impacto da imagem na construção de narrativas? Se o tema tem fomentado discussões importantes no âmbito das redes sociais, ele não passa — ou pelo menos não deveria passar — longe do estudo da História. Este foi um dos apontamentos feitos pela historiadora Cibele Barbosa, pesquisadora da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), na palestra promovida na última segunda-feira (5), no auditório do Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene). Em “Imagens e narrativas sobre a Independência do Brasil”, ela reflete sobre a história oficial sem deixar de lançar holofotes para o que caracterizou como histórias periféricas, regionais ou marginais.
A atividade integrou a programação de celebração ao Bicentenário da Independência do Brasil (1822—2022) e reuniu diversas imagens produzidas no Século XIX, período em que está datado o marco histórico, e no Século XX. “As primeiras interpretações do ‘Grito do Ipiranga’ só vão surgir anos após [o acontecimento], produzidas por pessoas que não estavam no lugar”, revela Cibele, ao esmiuçar semioticamente representações como “Proclamação da Independência”(1844), do pintor francês François-René Moreaux, e o mais popular, “Independência ou Morte” (1888), óleo sobre tela do pintor brasileiro Pedro Américo (1843—1905).
“De onde vem esta imagem?”, provoca a historiadora, ao contextualizar a condição restrita na produção de pinturas, exclusivamente reservada aos mais abastados e recorrendo a decisões estéticas que primavam pelo estilo pomposo europeu da época. “É claro que ela é uma fabricação. As imagens também são construídas, embora cheguem como verdade. Uma história que foi contada muitas vezes por homens brancos não é a História. Existem diversos grupos escravizados e subalternizados que também compõem essa História”, defende a autora do título Cotidianos afrodescendentes: um percurso visual pelo acervo da Fundação Joaquim Nabuco (Massangana, 2018).
Para Cibele Barbosa, no entanto, o cenário é de avanços significativos. “Hoje há um esforço homérico dos historiadores de reconstituir essa História [do Brasil] a partir do levantamento de documentações e do registro da história oral”, observa, ao mencionar figuras como o militar Pedro Pedroso (1770—1849) e citar, também, a Lei 11.645, de 2008, que estabelece o ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Africana no currículo escolar. “O que leva alguém a saber mais sobre a história de um deus nórdico? Ser bombardeado com essas informações. Sem querer sabemos mais sobre a história europeia do que sobre a história da formação do nosso próprio país.”