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Educação popular e força trabalhista de professores foi pauta de Curso de Extensão promovido por Fundaj, UFRPE e UFPE
“Quais são os desafios da educação popular hoje?”. Foi com este questionamento que os pesquisadores da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), Cibele Rodrigues e Maurício Antunes, se guiaram para o início do primeiro dia de palestras do Curso de Extensão Educação Popular, Movimentos Sociais e Organização Docente nas Américas, nesta sexta-feira (12), no Centro de Educação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
No mesmo local, na parte da tarde, aconteceu também o debate "Organização Sindical e Representações Políticas Docentes". A iniciativa é fruto de parceria entre o Programa Educação, Culturas e Identidades da Fundação Joaquim Nabuco/Universidade Federal Rural de Pernambuco e o Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Federal de Pernambuco
A primeira temática do dia foi "Educação Popular" em uma mesa composta pelos dois cientistas da Casa, além dos professores André Ferreira, Flávio Brayner e Rebecca Tarlau. Na ocasião, os alunos de doutorado da disciplina de Seminário de Teoria e Metodologia da Pesquisa em Educação e do Curso de Extensão puderam participar de um rico debate que abordava sobre a educação transgressora aliada à movimentos sociais coletivos.
O pesquisador Maurício Antunes explicou que o Estado nação, por ser constituído por um povo, uma língua, e cultura, precisa também na sua arquitetura de um projeto de educação vigoroso. “A indústria cultural é um grande agente de propaganda desta identidade brasileira e como se operam as trocas educativas realizadas neste país”.
Para a pesquisadora Cibele Rodrigues, o saber científico não é o único saber possível e a educação popular traça rotas para um novo ponto de vista pedagógico, por meio da sua insistente humanização do ensino. “A educação popular faz a gente começar a pensar que um novo mundo é possível, assim como novas formas de ensinar! É preciso ser contrário a uma educação de elite, bancária, limitante, e as experiências da América Latina e de movimentos sociais presentes aqui fizeram teóricos como Paulo Freire pensarem nessa nova educação possível”.
Mais tarde, foi promovida uma conversa sobre as lutas dos professores por direitos trabalhistas durante as últimas décadas. O debate "Organização Sindical e Representações Políticas Docentes" foi coordenado pelos pesquisadores Cibele Rodrigues (Fundaj) e André Ferreira (UFPE). Na ocasião, a importância de não se perder de vista o sindicato foi frisada. E ao longo das exposições, pode-se entender, de modo geral, a experiência sindical e a relevância de articulações de trabalhadores na efetividade de pautas significativas.
O doutorando em Educação pela UFPE, Max Rodolfo Roque da Silva, compartilhou um pouco de sua pesquisa sobre associações de professores e lutas da classe trabalhadora, do final dos anos 1970 até os anos 1980. Ele procurou investigar como grupos do Nordeste se organizavam e articulavam interesses, a fim de enfrentar governos locais, buscando melhores condições de vida e trabalho. “O que a década de 80 mostra é uma ação fundamentalmente coletiva e a ocupação de espaços. É quando os professores entram em cena na história da educação do Brasil e passam a serem vistos como trabalhadores”, afirmou.
Já a pesquisadora da Universidade Estadual da Pensilvânia, Rebecca Tarlau, compartilhou sua pesquisa sobre lutas trabalhistas de professores nos EUA. Ela mostrou que por um bom tempo o país não se engajou em movimentos e greves trabalhistas, até que nos anos 2000, por mudanças estruturais e políticas, iniciou-se um novo momento de militância docente. “Eles passaram a incorporar demandas da comunidade em suas pautas. Nas suas bandeiras de luta”, frisou ela.
Ao final, a vice-presidente do sindicato dos Professores de Olinda, Rafaela Celestino, também deu sua contribuição ao diálogo, apresentando pontos do seu estudo sobre o protagonismo da mulher nas lutas trabalhistas dos professores. Ela também questionou o fato dos cargos de liderança serem, em sua maioria, de homens, dentro de uma área trabalhista majoritariamente ocupada por mulheres.
Já no sábado (13), os pesquisadores tiveram uma vivência acadêmica junto ao Movimento Sem Terra (MST). A aula em campo foi realizada no Assentamento da Normandia (MST), em Caruaru, no Agreste pernambucano. Participaram alunos de pós-graduação, mestrado e doutorado, que conheceram pontos de produção na localidade nos quais se produz macaxeira, polpas de frutas e se criam galinhas caipiras. Além disso, o grupo visitou o território, conhecendo a escola do assentamento e a plantação de pitaia.
Ao fim da atividade, houve um momento de troca de conhecimento no qual os representantes do MST explicaram o procedimento de produção na localidade. "Neste último momento, lideranças falaram sobre o objetivo do movimento de construir a reforma agrária popular, falaram da luta pela terra e pelo socialismo, com o processo de produção coletivo. E abordaram o associativismo, a pesquisa e a agroecologia, que são as bases da produção", explicou a pesquisadora da Fundaj Cibele Rodrigues.
Também participaram da atividade André Ferreira (UFPE), Denise Botelho (UFRPE), a pesquisadora da Universidade Estadual da Pensilvânia, Rebecca Tarlau e Rubeneuza Leandro, da área de educação do MST, entre outras lideranças. De acordo com Cibele, os saberes dos movimentos sociais, bem como os saberes das ciências, têm que entrar em diálogo para a construção de uma nova sociedade e novos processos educativos.
Está prevista, ainda, uma reunião no dia 22 de maio, no campus Anísio Teixeira da Fundaj, em Apipucos, com docentes dos Programas PPGECI e PPGE/UFPE para proposição de parcerias.