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Educação é celebrada em primeiro dia de Seminário Anísio Teixeira, na Fundaj
Oganizado pelo Museu do Homem do Nordeste, o seminário Anísio Teixeira começou sua intensa programação ao redor de um dos mais importantes nomes da história da educação brasileira, buscando fazer conversar suas ideias e sua trajetória com elementos da educação brasileira atual. Às 9h, foi realizada uma mesa de abertura, com a presença de Mário Hélio, diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte, Fernanda Guimarães, coordenadora-geral do Muhne, Albino Oliveira, coordenador de Museologia e Edna Silva, coordenadora de Ações Educativas e Comunitárias. Na ocasião, foi ressaltado que o seminário é fruto de uma de atividades realizadas em 2021, dentro do projeto “Ano Anísio Teixeira: a educação como prioridade”.
“Esse evento é resultado de estudos, pesquisas e vários seminários formativos que realizamos ao longo do ano de 2021. Um trabalho realizado em conjunto pela coordenação de ações educativas e comunitárias e a divisão de estudos museais. No desenvolvimento desse projeto, buscamos atender a meta da Fundaj, priorizando o tema educação e memória. Resgatamos a memória de Anísio Teixeira e seu legado na educação brasileira, mas também valorizamos a memória institucional, em alusão ao Centro de Pesquisas Educacionais de Pernambuco e da Escola Experimental”, apontou Fernanda Guimarães em sua fala inicial.
“Entendemos que o Muhne enquanto espaço de formação, ele vivencia, compartilha e acredita nos ideais de Anísio Teixeira. Hoje, mais que nunca, reconhecemos que a educação não é privilégio, é para todos, ela liberta e transforma”, complementou a coordenadora. Em seguida, Albino Oliveira destacou o trabalho da antropóloga Ciema Mello, da Divisão de Estudos Museais, na construção do projeto, mas que infelizmente não pôde estar na cerimônia de abertura por motivos de saúde. Também destacou o lançamento da publicação “Anísio, Anísios Teixeira: um educador no Museu do Homem do Nordeste” (Editora Massangana), fruto deste ano dedicado ao educador.
“Celebramos a memória de Anísio Teixeira, homem que dedicou sua vida ao desenvolvimento de políticas educacionais no nosso país, defendendo, ao longo de sua trajetória, a ideia de educação como direito de todos. Educação pública, gratuita, laica e de acesso universalizado a todos os brasileiros”, afirmou Albino. “Não é por acaso que fazemos essa homenagem, nosso campus de Apipucos leva o nome de Anísio Teixeira. É lá que em 1967, com apoio de Gilberto Freyre, ele implementa o Centro de Pesquisas Educacionais de Pernambuco e a Escola Experimental do Recife”, complementou, reforçando como a história institucional da Fundaj se integra à história de Anísio.
Por sua vez, Edna Silva destacou que, apesar da lei federal que regulamenta o serviço educativo em Museus ter apenas alguns anos de existência, o Muhne possui um quadro educativo há mais de quatro décadas e também o caminhar para que essas atividades cheguem à comunidade de forma cada vez mais acessível, por dar uma nova força para os registros fotográficos da segunda metade do século 20.
“Lembro-me que as primeiras conversas em torno da temática do nome de Anísito Teixeira como patrono, educador e pessoa a gerir as ações dessas coordenações de ações educativas e estudos museais. A gente conversava, lidando com a ideia de como trazer o entorno para dentro do museu, o marceneiro, o padeiro, o taxista, o rapaz que trabalha no supermercado. Anísio já dizia que todas essas devem e precisam conhecer o belo e o justo”, afirmou Edna.
Mario Helio também fez coro aos dizeres de Edna Silva sobre o caráter de uma educação cada vez mais democratizada que o Museu do Homem do Nordeste assume, em consonância com o legado de Anísio Teixeira, além de destacar que o Ano Anísio Teixeira deve ter continuidade em 2022 no sentido de se apoiar iniciativas educacionais.
“Não há museu digno desse nome que não se preocupe em educar, em dar conteúdo em suas salas, de diversos modos e objetos, como publicações, cursos, iniciativas como vem realizando o Museu de forma orgânica, com seus diversos servidores, com uma participação bastante dedicado do educativo, com uma consciência crítica e autocrítica admirável. Nesse aspecto, a democratização que propõe Anísio e que tenta executar o museu, tem que se fazer com qualidade. Democratizar não significa baixar a qualidade e perder o senso crítico”, elaborou Mário Hélio.
Após a abertura, às 10h30, deu-se início a palestra “Intelectuais, educação e debate público”, ministrada por Diana Vidal, professora de História da Educação da Universidade de São Paulo e diretora do Instituto de Estudos Brasileiros. Vidal discorreu sobre pontos importantes da trajetória de Anísio a partir da troca de correspondências dele com o também educador Fernando de Azevedo, companheiro nas suas lutas por transformações na educação brasileira. A partir de cartas escritas em diferentes momentos, ela versou sobre os contextos sociais de cada período.
Primeiro foi o ano de 1934, momento que respirava eventos como a criação do Ministério da Educação e Saúde, a publicação do Manifesto de Pioneiros da Educação Nova, a instalação da Assembléia Constituinte e a elaboração da Carta Magna. Em seguida, vem o ano de 1959, com a publicação do Manifesto em Defesa da Educação Publicada e nos embates da criação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira. Por fim, ela vai para o ano de 1969, pouco antes da morte de Anísio Teixeira.
“Retomar a trajetória desse educador baiano é, de fato, um grande desafio. Ele é conhecido por suas lutas em prol da educação laica, pública, obrigatória. Acho interessante porque ele é festejado, como nesse seminário, mas também muito esquecido. Com recorrência, evocam-se as frases que ficaram no repertório educacional, como ‘educação não é privilégio’”, afirmou Diana, que também conversou com o público virtual sobre as relações entre as vivências e pensamentos de Teixeira.
Mesa, palestra e lançamento de livro
A primeira mesa do seminário, “Anísio Teixeira e Gilberto Freyre: a memória do CRPE-PE na Fundação Joaquim Nabuco”, contou com a participação das pesquisadoras da Fundaj Rita de Cássia Araújo e Semadá Ribeiro e a mediação de Sílvia Barreto.
Em sua exposição, a Mestre em Educação, Semadá Ribeiro, abordou o legado que o Centro Regional de Pesquisas Educacionais de Pernambuco (CRPE-PE) doou à Fundação Joaquim Nabuco, principalmente no que diz respeito à incorporação do acervo documental. Os documentos são reunidos em categorias, como “Escola”, “Secretaria”, “Contabilidade” e "Pesquisa”.O estudo desses projetos nos dá a ideia de como esses pesquisadores em que pé eles estavam, em que momento eles estavam de domínio da metodologia.
Já a Doutora em História Social e Mestre em Antropologia, Rita de Cássia, fez sua apresentação sobre memória e sociabilidade, passando por um contexto geral da sociedade brasileira na época a partir de temas como políticas públicas e gestão da educação no MEC. “Todo o legado é incorporado à Fundação Joaquim Nabuco e vai criando a ambiência de cultura e educação que Gilberto Freyre sonhava'', destacou.
A pesquisadora também exibiu algumas imagens do acervo da Coordenação-Geral de Estudos da História Brasileira (Cehibra) que representam formações e treinamentos de professores e gestores educacionais com a presença de Freyre, atividades pedagógicas, artísticas e recreativas em sala de aula na Escola Experimental do Recife.
Seguindo a programação, a palestra “Gilberto Freyre no comando do Centro Regional de Pesquisas Educacionais do Recife (1957-1964)” foi ministrada pela doutora em Sociologia, Simone Meucci. Ao longo da exposição, Meucci destacou as afinidades entre Freyre e Anísio Teixeira e ainda contextualizou sobre os principais acontecimentos históricos da época a nível mundial e também dentro do sistema educacional brasileiro.
Dentre as atividades do Centro, a palestrante destacou o desenvolvimento de pesquisas sociais e educacionais, a oferta de cursos e seminários, a gestão da Escola Experimental Primária e da biblioteca. Ao fim da palestra, Simone respondeu o público, que fez perguntas e observações no bate-papo ao vivo do YouTube.
O primeiro dia do Seminário Anísio Teixeira foi coroado com o lançamento do livro “Anísio, Anísios Teixeira: Um Educador no Museu do Homem do Nordeste”, organizado por Sílvia Barreto (Estudos Museais/Muhne) e Edna Silva. O título fala da vida e obra de Anísio e conta com colaboração dos educadores do Museu, que relataram suas experiências de mediação inspirados por leituras feitas ao longo do ano no Projeto Anísio Teixeira.
“Me aprofundar, chegar mais perto de Anísio e poder ouvir as pessoas com as quais eu trabalho e poder ver a produção delas nesse livro é muito mais do que coordenar algo: é viver o processo de ensino e aprendizagem que só é possível quando você está aberto a aprender”, celebrou Edna Silva. O livro está disponível gratuitamente no site da Fundaj.
Toda a programação segue no canal do YouTube da Fundaj. O Seminário Anísio Teixeira continua amanhã (03), a partir das 9h, com homenagem, palestra, conferência, mesas e mini-documentário.