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Dona Duda da Ciranda é homenageada em documentário da Fundaj
Criadora da ciranda. Esse é o título que ostenta Dona Duda, 98 anos. Na praia do Janga, no município do Paulista, na Região Metropolitana do Recife, ela consolidou o ritmo, um dos mais emblemáticos de Pernambuco. A homenagem à cirandeira será em 10 de maio, quando se celebra o Dia da Ciranda. A iniciativa é da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca), da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). O evento será realizado pelo canal do YouTube da Fundaj, às 15h. No documentário, Dona Duda recorda as histórias vividas e os versos, das mais de 200 cirandas compostas.
Integram a homenagem, o presidente da Fundaj, Antônio Campos; o diretor da Dimeca, Mario Helio Gomes; o prefeito do município do Paulista, Yves Ribeiro, e seu respectivo secretário de Cultura, Isaac Ramos. Dentre os músicos convidados estão: o cantor pernambucano Ed Carlos, que escreveu uma canção para a homenageada, e as cirandeiras Dulce e Severina - As filhas do Mestre Baracho. Para as gravações, todos os protocolos antissépticos e proteção foram seguidos: higienização dos ambientes, uso de máscaras, álcool 70 e respeito ao distanciamento social.
“Dona Duda da Ciranda foi precursora de um dos movimentos mais autênticos do Litoral do Estado. A justa homenagem é um agradecimento pela contribuição a já efervescente cultura pernambucana e um lembrete para as novas gerações, que têm o dever de zelar este legado”, destaca Antônio Campos. Segundo o diretor da Dimeca, a homenagem a Dona Duda não será a única. “Esta é a primeira de uma série dedicada a grandes personagens vivos da cultura regional. Mais adiante resultará numa série de publicações em torno da figura em si e do tipo de arte ou manifestação cultural de que é indiscutível representante”, adianta Mario Helio.
Nascida Vitalina Alberta de Souza Paz, em 16 de abril de 1923, Jaboatão dos Guararapes, foi ela quem escolheu, aos 8 anos, o nome pelo qual responderia ao longo da vida. “Se me chamasse por outro, eu não respondia”, recorda. Desde 1976, Duda já não canta. Vítima de um câncer, precisou retirar a tireoide e um tumor próximo à região. Mas nas décadas de 1960 e 1970, o movimento promovido pela criadora da ciranda na Praia do Janga era disputado. Inicialmente criada para divertir os filhos dos pescadores, a ciranda logo envolveu os moradores. Depois, os turistas.
A popularidade da dança em roda tornou o lugar onde mantinha o Bar Cobiçado parada obrigatória. Dentre os amigos que reuniu, Dona Duda recorda o pintor Bajado. Foi ele quem pintou as paredes do Bar Cobiçado. O sucesso do bar e da ciranda foram tão grandes que, em 1970, a então Empresa Metropolitana de Turismo (Emetur), do Recife, os credenciou como destino de viagem em publicações do aeroporto. Não demorou para que viessem turistas de todos os lugares, como Rio Grande do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e tantos outros.
O prestígio da cirandeira pode ser atestado também nas medalhas em honra ao mérito que guarda. Em 1972, foi homenageada como destaque no programa televisivo Você Faz o Show, apresentado por Fernando Castelão na TV Jornal. Em uma pasta, ficam guardados os recortes de jornal que fazem menção à artista e documentos, tais como um contrato de apresentação no Parque da Jaqueira, na Zona Norte do Recife.
Dentre os registros produzidos, destacam-se o LP Ciranda de Dona Duda, lançado em 1975, pela extinta gravadora recifense Rozemblit. Dos mais recentes, a cantora e pesquisadora musical Cylene Araújo lançou, em 2014, a mini-biografia Dona Duda: a primeira cirandeira do Brasil junto com o disco Ciranda do Amor, que conta com a participação de nomes como Chiquinha Gonzaga, Naná Vasconcelos, Nando Cordel e Petrúcio Amorim.
Dona Duda reclama seu direito à ciranda. Segundo ela, Antônio Baracho, tido por muitos como criador do movimento, era maracatuzeiro quando conheceu o ritmo. Enquanto Lia de Itamaracá organizava rodas de coco na ilha. A composição de Essa Ciranda quem me deu foi Lia seria de co-autoria sua com Baracho. “Eu recebi esse pedido em encomenda, mas não conseguia avançar nos versos. Foi então que dei o mote a Baracho: ‘essa ciranda quem me deu foi Lia, que mora na Ilha de Itamaracá’ e ele me voltou com ‘estava na beira da praia ouvindo as pancadas das ondas do mar’.”
Questionada sobre a valorização da dança no Estado, Dona Duda opta por falar da realização pessoal por ter escrito seu nome na história. O amor pelo ritmo é tamanho, que já deixou prontas duas cirandas para após sua partida. Em uma, ela diz assim: “Eu estava na praia, a tarde tá fria. O vento parou, olha a calmaria. Eu tô indo embora, não vou voltar. Tô deixando a paz e muito amor pra dar”. Já no outro, pede: “As cirandeiras chorando, me pedindo pra ficar. A rosa ganhou perfume, mas ela não quer levar. Essa rosa não é minha. Essa rosa eu vou deixar. A rosa é das cirandeiras. Não deixe a rosa murchar”.
Para sua filha, Jaqueline Paz, 57, a homenagem à Dona Duda é motivo de orgulho. Principalmente por ela estar viva para receber. “Todas as homenagens em vida são válidas. Após a morte é que penso que não têm muita serventia. Vejo que a enche de vida, que se sente valorizada. Embora em momento algum ela reclame essa valorização. Pelo contrário, fala das memórias boas que vai deixar. Ela sabe o que fez”, diz a filha.
Serviço
Lançamento do documentário Dona Duda da Ciranda
Data: segunda-feira, 10 de maio
Horário: 15h
Transmissão no canal da Fundaj, no YouTube