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Documentário sobre 45 anos da Edições Pirata é lançado no Cinema da Fundação
A história da resistência cultural e da democratização da literatura em Pernambuco passa pela Edições Pirata. O movimento libertário deu espaço para diferentes vozes e - principalmente -, para o diálogo com o público. Atuando entre 1979 e 1985, o grupo recifense que publicou 319 livros teve como uma de suas casas o Instituto Joaquim Nabuco (IJNPS), atual Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), será homenageado nas telonas. A Sala Derby do Cinema da Fundação, no campus Ulysses Pernambucano da Fundaj, no bairro Derby, recebe às 19h do dia 26 de agosto, a estreia do documentário "Edições Pirata, o filme".
Financiado pela Lei Paulo Gustavo e com apoio cultural do Ponto de Cultura Nordestina Letras & Artes, o título fará sua estreia em comemoração aos 45 anos de fundação da Edições Pirata, completados no dia 17 de agosto. “A história do Edições Pirata pode, num certo sentido, ser espelhada com a do Cinema da Fundação. Não pela maneira marota com a qual aquela agitação literária publicava seus trabalhos no passado, mas pelo espírito marginal no cerne de seu conceito. O Edições Pirata abriu espaço a uma nova geração de autores, e não apenas aos jovens autores. Veteranos também foram contemplados, colocando-os lado a lado daqueles que davam seus primeiros passos na literatura”, celebra o coordenador do Cinema da Fundação, Luiz Joaquim.
O documentário é resultado de um curso de cinema promovido pela Academia de Formação Audiovisual (AFA Filmes) e que contou com aulas no campus Ulysses Pernambucano da Fundaj, no Derby. A instituição reforçou e rememorou sua proximidade com o movimento. “O que faz o Cinema da Fundação senão abrir seu espaço para realizadores iniciantes locais e nacionais? Dando a estes, como palco, o mesmo espaço que abriga a melhor programação dos mais conceituados cineastas do mundo. Em outras palavras, os instrumentos são distintos - o livro e a sala de cinema - mas o espírito que dribla o mainstream é o mesmo”, finaliza Luiz Joaquim.
Na obra, o roteirista e diretor Paulo Lins retrata os nascedouros da mobilização, a partir das dinâmicas políticas da época. O país estava em crise de sua democracia, marcado por conflitos políticos e sociais, e os personagens desenhavam suas vidas driblando ações do regime militar instalado com o golpe de 1964. “Edições Pirata, o Filme é um exercício de memória, que constrói pontes entre épocas da história brasileira do século XX”, diz a sinopse.
Ficam eternizados no documentário, através de depoimentos históricos: Myriam Brindeiro e Tarcisio Pereira (em memória), Eugênia Menezes, Andréa Mota, Luzilá Gonçalves, Maria de Lourdes Hortas, Marco Polo, Jomar Muniz de Brito, Cida Pedrosa, Cláudia Cordeiro e Raimundo Carrero. O documentário conta com vídeos recuperados de lançamentos de livros com a presença dos poetas já falecidos Alberto da Cunha Melo e Celina de Holanda, e da atriz Geninha da Rosa Borges, entre outros.
“Apesar de não ter participado ativamente do movimento Pirata, o roteirista e diretor Paulo Lins foi capaz de apreender o espírito do movimento, transformá-lo em cenas memoráveis e trazê-lo com maestria para as telas do cinema onde, certamente, transmitirá aos espectadores as emoções vividas por aqueles intelectuais que acreditavam na literatura como forma de transformar a realidade que permaneceu por 21 anos assombrando os ideais libertários do povo brasileiro”, destaca a articuladora e pesquisadora editorial do documentário, Salete Rêgo Barros.
Movimento cultural
Foram mais de 300 livros publicados de forma independente. Edições Pirata sempre interagiu com outras áreas culturais, envolvendo diversas instituições, públicas e privadas. Além dos lançamentos das publicações, eram realizadas exposições de artes, shows musicais, espetáculos de teatro e recitais de poesia. O movimento editorial foi liderado pelos poetas Jaci Bezerra, Alberto Cunha Melo, integrantes da Geração 65, e pela escritora Eugênia Menezes. Dos doze lançamentos coletivos, três foram da Coleção Piratinha, com livros dirigidos ao público infanto-juvenil. Também foram editados vários autores, catálogos, o jornal Cultura e Tempo e três fascículos da revista Pirata Edições, que chegou a ter correspondentes no Rio de Janeiro, São Paulo, Goiás, Paraíba, Sergipe, Argentina e na Universidade do Colorado, nos Estados Unidos.