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Documentário exibido no Cinema da Fundação aborda danos causados a famílias camponesas por usinas eólicas
A Sessão Escola do Cinema da Fundação promoveu um amplo debate, na noite de quinta-feira (18), sobre os danos causados a comunidades camponesas por usinas eólicas instaladas no Agreste de Pernambuco. O encontro teve início com a exibição do documentário Vento Agreste, de João do Vale, que evidencia os problemas causados pela instalação desses parques eólicos.
O público, que em grande parte desconhecia esse impacto, pôde opinar e tirar dúvidas com os debatedores Alexandre Bezerra, agente da Comissão Pastoral da Terra (CPT); Gabriel Faria, biólogo e cientista ambiental; e Clarissa Marques, professora de Direito da Universidade de Pernambuco (UPE) e Coordenadora do Projeto Ciranda das Vozes @somosgept. Problemas de saúde física e mental, falsa promessa de riqueza, contratos sem transparência e impacto no campo estão entre os efeitos denunciados por agricultores e agricultoras que participam do filme.
De acordo com a professora Clarissa Marques, há hoje na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe) um projeto que visa regulamentar o local de instalação dessas estruturas. “O projeto busca regulamentar as distâncias, se discute sobre 500 metros, 600 metros, o que ainda pode ser pouco. Hoje, há casas com distância de 120 metros, é muito pouco, há um impacto à saúde mental enorme. O desafio é analisar essas distâncias e lembrar que é um problema não somente do Brasil. Existem movimentos questionando esses parques eólicos no mundo todo. Então, o documentário segue como uma denúncia, um caminho para pressionar essa mobilização”, destacou.
Desde seu lançamento, o documentário vem proporcionando momentos para que famílias dialoguem entre si sobre a experiência de participação no filme e avaliem a importância desse instrumento para ampliar a denúncia das violações de direitos. Acompanhando de perto a situação, Alexandre Bezerra explicou a atuação da Comissão Pastoral da Terra e compartilhou relatos das famílias impactadas para além dos apresentados no documentário.
“A Pastoral trabalha com os povos do campo, em defesa dos seus direitos. Na questão das eólicas, é comovente. São várias comunidades impactadas, Caetés é o município que mais tem aerogeradores por metro quadrado e 70% da população, segundo o IBGE, vive no campo. São pequenas parcelas de agricultores em muitos sítios na região e cada eólica está perto de um sítio. Os relatos são sempre de doença, de não conseguir dormir pelo barulho, vontade de ir embora, mesmo sem condições. Vimos a quantidade de remédios que as pessoas estão tomando, o impacto na relação com a terra”, afirmou Bezerra.
A deputada estadual Rosa Amorim esteve entre os presentes e destacou a importância do debate para buscar, minimamente, reduzir os danos a essa população. “Com o curta, vimos que parques eólicos têm um falso discurso sobre desenvolvimento, riqueza para a população, causam impacto gigante para famílias do meio rural, que produzem e garantem sua subsistência a partir da terra. É impactante ver esse filme, pensamos na eólica como energia sustentável, renovável, como algo que remete à prosperidade em relação a outras formas de produção de energia, mas quando mergulhamos na realidade vemos impacto inverso. Enquanto parlamentar, acredito que precisamos nos organizar, ver os acordos firmados com essas famílias e repactuar isso”, afirmou Rosa Amorim.
Estudando o processo de implantação das eólicas, o professor Gabriel Faria disse que vem relacionando a situação com a crise de produção social capitalista. “Pode parecer distante, mas tem tudo a ver com o mundo que estamos vendo. Esses processos são instaurados muitas vezes à luz de aspectos tão nobres, mas precisamos pensar no que entendemos por energia eólica, por desenvolvimento verde, saber melhor como se opera essa questão”, refletiu. Além de descortinar os danos já causados, o filme também tem como objetivo fazer um alerta para as comunidades ainda não impactadas, mas que vivem em locais que são de interesse desses grandes empreendimentos, especialmente no Agreste e no Sertão do Estado. Vento Agreste está disponível para exibição no YouTube.
Cinema
O bate-papo foi mediado por Túlio Rodrigues, da equipe de Cinema da Fundação. Ele ressalta que o tema abordado nesta edição da Sessão Escola dialoga diretamente com a temática da 21ª Semana Nacional dos Museus, que trata de sustentabilidade e bem-estar. “É importante o papel de um equipamento como o cinema para incitar a discussão e trazer essa temática tão importante e que muitos não conhecem, que é a complexidade da energia eólica e como afeta os moradores de seus arredores”, concluiu Túlio Rodrigues.