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Diretor da Dipes participou do maior evento sobre demografia do Brasil
Os desafios que a dinâmica demográfica, a crise climática e a justiça social impõem às políticas públicas foram os temas abordados no XXIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais que aconteceu no final de setembro na Universidade de Brasília (UNB). O encontro é o maior evento sobre demografia no Brasil e é realizado pela Associação Brasileira de Estudos Populacionais (Abep). Diretor de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim Nabuco (Dipes/Fundaj), o demógrafo e pesquisador Wilson Fusco participou como debatedor, coordenador e coautor de quatro trabalhos apresentados durante o encontro.
Ao lado dos pesquisadores Rosana Baeninger (Unicamp) e Ricardo Ojima (UFRN), Wilson Fusco debateu na mesa-redonda “Perspectivas e desafios teórico-metodológicos nos estudos contemporâneos das migrações internas e internacionais no Brasil”. Nela, os participantes discutiram sobre um novo conjunto de conceitos e de teorias que possam ser usados para explicar a realidade das migrações.
“Nós estamos em um período, já há algumas décadas, de necessidade de mudança de paradigma. As teorias que até então ajudavam a entender os movimentos migratórios do Brasil e do mundo já não são mais suficientes. Estamos tentando acompanhar essas transformações, tentando criar novos conceitos que consigam enxergar melhor a realidade”, afirma Fusco.
Essas transformações acontecem por conta da complexidade dos movimentos migratórios em todo o mundo, com o aumento de barreiras, guerras, mudanças climáticas e políticas. “Antigamente o movimento de imigração era de um ponto para outro. Agora, há uma ampliação das movimentações. Por exemplo, hoje uma pessoa que sai do Afeganistão para ir para os Estados Unidos acaba, por questões burocráticas, vindo para o Brasil. Ou haitianos que chegam aqui por conta do trabalho da Força Nacional Brasileira naquele país. São movimentações que acontecem de outras formas e não têm nada a ver com as migrações antigas”, diz.
Fusco coordenou a sessão temática Migrações internacionais e refúgio, que contou com a apresentação de cinco trabalhos. “O Brasil mudou a sua posição geopolítica. Já foi um país de receber imigrantes, hoje é um país de mandar emigrantes. Mas agora também começa a receber imigrantes novamente, mas não os mesmos, há uma diversidade de imigrantes. Outro ponto importante é que há muitas migrações de retorno de brasileiros que não conseguem se inserir no mercado nos Estados Unidos,Japão e cada vez mais na Europa”, explica, acrescentando que o Brasil precisa facilitar as condições para quem procura refúgio no país. “Não faz muito tempo que um afegão morreu no aeroporto de Guarulhos, sem conseguir entrar no Brasil como refugiado”, lembra.
Fusco também foi coautor de quatro trabalhos que apresentados no encontro: Migração qualificada em Pernambuco: evidências do perfil ocupacional, com Maria Melo; Perspectiva de um novo índice para o desempenho escolar do ensino médio no Brasil, com João Gomes e Silvana Queiroz; Condições de moradia de migrantes nordestinos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) entre 2000 e 2010, com Ângela Almeida; e Pendularidade e perfil dos estudantes do ensino superior na mesorregião do centro-sul cearense – 2000 e 2010, com Francisco Sávio Batista e Ricardo Carvalho.
Neste ano, o XXIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais se fortaleceu com os novos dados sobre a população brasileira do Censo Demográfico de 2022, que estão sendo divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pela primeira vez, por exemplo, o Censo mapeou as populações quilombolas do Brasil. A pesquisa sobre os povos indígenas também foi ampliada.
“Na Fundaj também estamos atentos ao retrato do Brasil que o Censo Demográfico 2022 vem revelando. Já fizemos dois seminários sobre as divulgações do Censo. O mais recente, em parceria com a Abep, tratou justamente das questões quilombolas e indígenas, trazendo especialistas de outros estados do Brasil. O Censo é a principal fonte de informações para subsidiar as políticas públicas dos governos e é essencial discutir esses dados”, destaca Wilson Fusco, acrescentando que as pesquisas devem ser aprofundadas com as divulgações, até o fim do ano, dos microdados do Censo 2024.
Outro ponto importante do evento foi a discussão em torno dos 30 anos da Conferência Internacional de População e Desenvolvimento (CIPD), que aconteceu em setembro de 1994 no Cairo, Egito. O XXIII Encontro Nacional de Estudos Populacionais reuniu mais de 500 participantes, incluindo professores universitários, pesquisadores, gestores federais, estaduais e municipais, representantes de instituições governamentais, da sociedade civil, estudantes de graduação, pós-graduação e o público em geral.