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Desafios para o acesso e permanência de estudantes universitários é tema de seminário da Fundaj
Com o tema “Cenário das pesquisas sobre acesso e permanência de estudantes na Universidade Federal Rural de Pernambuco”, pesquisadores e professores se reuniram na manhã desta quinta-feira (30) para debater sobre a importância das políticas de acesso e de assistência estudantil para permanência dos estudantes, considerando que a universidades possuem um público heterogêneo com diversas vulnerabilidades sociais, econômicas e emocionais. O debate foi promovido para lançamento da pesquisa em parceria pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
A professora Gilvânia Oliveira (UFRPE) apresentou o histórico de surgimento do projeto e a coordenadora da pesquisa na Fundaj, Cibele Rodrigues, apresentou os seus objetivos. Ela destacou as articulações desta iniciativa com outro projeto que está sendo desenvolvido no Conselho Latino-americano de Ciências Sociais (CLACSO) que tem como foco o direito à educação. Por outro lado, o projeto se articula com o Levante Popular da Juventude para propor também ações de formação. O projeto envolve ainda estudantes do Programa de Pós-graduação em Educação, Culturas e Identidades (PPGECI) - programa associado entre UFRPE e FUNDAJ - que vão desenvolver suas dissertações dentro dessa temática;
A pesquisadora da Fundaj Darcilene Gomes afirmou que ao pesquisar sobre o perfil socioeconômico e cultural dos estudantes de graduação, em 2018, o levantamento indicou que houve mudanças para democratizar o acesso ao ensino superior público.
“Existe um senso comum de que a universidade federal é elitizada e a gente observava que tinha começado uma mudança. Então a gente queria verificar essa mudança e aferir o seu tamanho. Ao mesmo tempo que o MEC tinha tomado uma série de medidas para democratizar o acesso ao ensino superior, como por exemplo a política de cotas”, explicou a pesquisadora Darcilene Gomes.
No entanto, ela ressalta a volta de investimentos nas universidades federais, principalmente sobre essa política de permanência que teve um recuo nos últimos quatro anos, e segundo Darcilene Gomes, a sociedade também tem um papel fundamental no que diz respeito ao apoio a estes estudantes durante esse percurso acadêmico.
O pró-reitor de extensão Moisés de Melo Santana também ressaltou a significativa ampliação da presença da população negra nas universidade públicas, mas que esse acesso precisa ser consolidado através de políticas de permanência e de acompanhamento.
Nesse sentido, PROGESTI/UFRPE, tem ações sistemáticas de acompanhamento detalhado dos estudantes universitários que são atendidos pelos Programas de Assistência Estudantil, como foi apresentado pela professora Marliete Soares da Silva, coordenadora de Ações Afirmativas e de Permanência da instituição. Ela destacou que a demanda é maior do que a quantidade de estudantes atendidos pelos programas. O orçamento não é suficiente para atender a todos que necessitam.
“Se faz necessário conhecer os estudantes por suas características e vulnerabilidades.Não basta fornecer benefícios para a permanência, mas acompanhar esse percurso até o êxito acadêmico, que é a conclusão do curso”, disse a professora Marliete Soares da Silva.
O momento preparatório dos estudantes para o ingresso à vida universitária também foi abordado na mesa desta manhã. O professor Diego Vitorino, do Departamento de Educação da UFRPE e coordenador geral no NEAB, falou sobre os Cursinhos Pré-Vestibulares Populares, destacando que o ENEM é uma barreira para a democratização e o direito à educação, sobretudo, para pobres e para a população negra (historicamente excluída). A política de cotas é fundamental, mas não é suficiente porque existe esse entrave que é a “avaliaçâo”.
Ele pontuou que, diferente dos cursinhos preparatórios classificados como “comerciais”, que até pouco tempo não tinham em suas grades matérias como Filosofia e Sociologia, os cursinhos populares já se diferenciavam por sua metodologia, que não focava apenas em acumular capital cultural, mas também em tratar de questões políticas.
Para a representante do Levante Popular da Juventude, Maya De Sena, é fundamental que os estudantes tenham acesso a esses debates. “A assistência estudantil está presente em todo o tempo, porque ainda temos algumas universidades aqui no Estado que não garantem a entrada dos estudantes. Ver que os docentes e a universidade estão preocupados em debater sobre isso é muito importante”.
Desafios encontrados nas Universidades
Os educadores se reuniram à tarde para debater a mesa “Desafios das juventudes no acesso e permanência na Universidade” - a prof. Charmênia Cartaxo (UPE), Prof Marliete Soares da Silva (Coordenadora de Ações Afirmativas e de Permanência da PROGEST/UFRPE), Prof. José Nilton (PROEXC/UFRPE) e Isa Sena (Coordenadora do Levante da Juventude).
A professora Charmênia deu abertura ao debate falando sobre saúde mental e qualidade de vida no contexto da formação profissional de estudantes universitários do Campus Santo Amaro da UPE. No momento inicial, ela apresentou o Serviço de Orientação Psicopedagógica (SOPPE), implementado em 2007.
"Dentre as ações que temos atualmente, permanecemos com a escuta psicopedagógica individual, temos a produção de podcast sobre temas transversais, a realização de oficinas sobre temas instrumentais e a oferta de estágio curricular em psicopedagogia no Ensino Superior. Isso eu acho que é uma maneira da gente avançar", celebrou. O SOPPE tem como foco central a otimização das condições cognitivas, emocionais e sociais do estudante para que ele possa superar momentos críticos durante sua formação profissional.
As ações afirmativas de permanência foram o fio que deu continuidade às apresentações. A professora Marliete instigou a reflexão dos presentes destacando a Pró-Reitoria de Gestão Estudantil e Inclusão (PROGESTI), que tem o compromisso de implementar políticas afirmativas e de permanência para discentes da graduação presencial. Programas e auxílios como o Auxílio Higiene Menstrual, que ampara estudantes que precisam adquirir insumos de higiene menstrual, e o Programa de Apoio ao Ingressante (PAI), que garante ajuda de custo para quem está chegando à UFRPE, foram alguns dos exemplos citados.
Ela também falou sobre a importância da assistência aos alunos. "O acompanhamento é um dos nossos processos. A gente acompanha semestralmente o desempenho de cada estudante e, se ele teve uma reprovação, é encaminhado para a pedagoga", explicou.
Dentro da temática, o professor José Nilton abordou temáticas como o sistema de cotas, cultura e cidadania. Ele destacou a importância do apoio da instituição a essas políticas e o acompanhamento dos estudantes. “É importante entender a dinâmica e compreender como essas políticas podem se desenvolver de forma harmônica”, completou.
Já a representante do movimento social Levante da Juventude, Isa Sena explicou o papel do grupo nessa luta pela educação em escolas, universidades e nas periferias. Ela abordou também o quanto a pandemia alargou o processo de desigualdade que é ingressar na universidade e permanecer nela.
“A gente tem construído processos em parcerias com professores e parcerias externas também dentro das universidades que são fundamentais a partir de experiências de projetos de extensão a permanência desses estudantes, seja conseguindo vinculá-los a esses projetos, seja pela experiência de cursinhos. Entendemos que não é só o processo de acesso, mas também de permanência”, contou.
Após as apresentações, os participantes debateram sobre a necessidade de ampliação da política de assistência estudantil para a pós-graduação e para as escolas públicas, considerando a grande desigualdade ainda existente no país. A representante do Levante Isa Sena destacou o papel dos movimentos sociais para ampliar o direito à educação.
Participaram do seminário e do debate os pesquisadores da Fundaj Zarah Lira, Cibele Rodrigues, Patrícia Simões, Juceli Bengert, Luís Henrique Romani e Darcilene Gomes.