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Debate na Fundaj aborda a importância e a influência do Movimento de Cultura Popular (MCP)
A Unidade de Artes Visuais da Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) promoveu um diálogo sobre memória, cultura e educação na mesa-redonda “Movimento de Cultura Popular: conhecer o passado e imaginar o futuro”. Realizado na última quinta-feira (31/10), o evento reuniu especialistas na Sala Aloísio Magalhães, no campus Ulysses Pernambucano da Fundação, no Derby, para revisitar as origens do Movimento de Cultura Popular (MCP), abordando temas como sua criação, ações nas praças de cultura, a atuação que ultrapassou os limites do Recife e a repressão sofrida pelo movimento, entre outros.
O MCP foi um movimento que nasceu de um amplo e plural debate promovido pelo então prefeito do Recife, Miguel Arraes, com intelectuais de esquerda, liberais e a igreja católica progressista sobre formas de enfrentar a miséria e o analfabetismo. Túlio Velho Barreto, diretor da Dimeca/Fundaj, enfatizou a relevância da iniciativa. “Este é um importante evento no âmbito da exposição 'Mutirão'. No ano em que o golpe de 1964 completou 60 anos, essa exposição ganhou outra dimensão. É uma forma da Fundaj destacar um dos movimentos mais significativos ocorridos no período exatamente anterior ao golpe”, iniciou.
A abertura do encontro contou com a exibição do vídeo MCP | Movimento de Cultura Popular, dirigido por Andrezza Araújo, Deyze Bezerra e Paula Macambira, em 2003. O filme trouxe uma visão sobre o impacto do movimento do ponto de vista de seus próprios participantes, com depoimentos ricos de nomes como Miguel Arraes, Paulo Rosas, Abelardo da Hora, Germano Coelho e Tereza Amorim, Ariano Suassuna, entre outros.
A ação foi mediada por Moacir dos Anjos, curador da exposição Mutirão, pesquisador da Fundaj e coordenador-geral do Museu do Homem do Nordeste. “Essa é uma tentativa de contar uma história possível do MCP ao longo dos anos. A exposição 'Mutirão' surgiu com esse intuito, inspirada em outra exposição chamada 'Educação pela Pedra'. Em contato com a família de Germano Coelho, primeiro presidente do movimento, conseguimos organizar essa exposição com materiais que haviam sido milagrosamente guardados ao longo das décadas.”
Participaram da mesa-redonda, ao lado de Túlio e Moacir, a doutora em Educação Popular Letícia Rameh Barbosa, autora do livro Movimento de Cultura Popular: impactos na sociedade pernambucana, o doutor em Educação André Gustavo Ferreira da Silva e a doutora em Sociologia e professora emérita da UFPE Silke Weber, que integrou o MCP na coordenação das praças de cultura. Em sua fala, Silke Weber destacou que “o MCP continua sendo uma referência para todos que pesquisam a construção da democracia e acreditam no valor da educação na organização do pensamento”. Já André Gustavo Ferreira abordou a importância do movimento, tratando-o como uma resposta à política de 'escola mínima', caracterizando-se como uma política de educação e como movimento da sociedade.
Por fim, Letícia Rameh Barbosa trouxe um importante registro ao encontro, destacando nome por nome das pessoas que foram entrevistadas para a construção de seu livro e trazendo suas perspectivas pessoais e atuação no MCP. Ela abordou o trabalho realizado nas praças de cultura, lembrou que Abelardo da Hora foi perseguido pelas denúncias que fez à época, por meio de desenhos, e defendeu a pedagogia freiriana, que, segundo ela, nunca foi realmente aplicada: “a ditadura não permitiu. O aprendizado é com consciência e liberdade de expressão.”
Mutirão
A mesa-redonda fez parte da programação da mostra Mutirão, que ficou em cartaz por cinco meses na Galeria Vicente do Rego Monteiro, da Fundaj. A mostra reuniu mais de 200 itens pertencentes a diversas coleções públicas e privadas, incluindo fotografias, folders, cartazes, documentos, filme, objetos, jornais, livros e obras de artistas associados ao Movimento de Cultura Popular, como Abelardo da Hora, Francisco Brennand, Guita Charifker, Maria Carmen e Wilton de Souza. O público visitante pôde encontrar na exposição uma extensa documentação: desde documentos oficiais da criação do MCP até uma série de cartazes criados pelo movimento.