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Debate na Fundação Joaquim Nabuco expõe necessidade de políticas públicas efetivas de proteção ambiental
A Fundação Joaquim Nabuco promoveu, nesta quarta-feira (21), o debate “Sociedade do consumo e poluição por plásticos: consequências nas comunidades ribeirinhas e litorâneas”. O encontro contou com a participação da presidenta da Instituição Federal, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, e foi organizado pela coordenadora do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), Edneida Cavalcanti, contando com pesquisadores desse Centro e também do Centro de Estudos em Cultura, Identidade e Memória (Cecim).
A programação especial, realizada no Campus Anísio Teixeira, em Apipucos, celebrou o mês do Meio Ambiente e acolheu a temática escolhida pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2023, que incentiva pensar em soluções para poluição por plásticos, situação que, em última instância, segue o curso para os oceanos, representando um grave e urgente problema ecológico e social. A proposta foi ativar redes a partir de parcerias já existentes para um exercício de escuta e conversar sobre a temática, a partir de experiências nos territórios.
Márcia Angela Aguiar destacou a necessidade de políticas públicas, que, de fato, respeitem a população e ressaltou que a Fundaj, com seus pesquisadores e pesquisadoras, está engajada neste debate. “Há um espaço mais abrangente para este tema, pois um dos compromissos da nossa gestão é dar ênfase a esses tipos de iniciativa. Precisamos de estudos que auxiliem nessa luta, que é de todos, especialmente de segmentos mais vulneráveis, os principais atingidos”, afirmou.
No início da atividade, pela manhã, o público foi recebido pelo grupo Boi Brasil, que fez uma apresentação cultural envolta de discussões sobre o meio ambiente e o fazer político. Já na Sala Gilberto Osório, o grupo seguiu para a abertura realizada por Edneida Cavalcanti, com a participação de Carmen Farias, líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Educação e Sustentabilidade (GEPES/UFRPE). A mesa de abertura trouxe provocações ao público sobre a temática do consumo do plástico em face à crise ambiental contemporânea.
“É um tema bastante desafiador e complexo, para o qual não existem soluções mágicas e imediatas. Hoje já é possível considerar o plástico um material onipresente no Planeta Terra e pesquisas já detectaram microplásticos na água, no solo, em alimentos e até no organismo humano. Podemos falar do peso do consumismo nesse grave problema, quando deparamos com informações que apontam que 50% de todo o plástico já fabricado foi produzido nos últimos 15 anos. Isso é fruto do crescimento populacional, mas sobretudo de um modelo de sociedade. Mas, como engajar as pessoas a fazer parte desse desejo de construção do bem-estar coletivo?”, questionou Edneida Cavalcanti.
O evento seguiu com o debate “O plástico nos ambientes estuarinos e o impacto na pesca artesanal”. A primeira roda de conversa do dia foi coordenada por Solange Coutinho, pesquisadora adjunto da Fundaj e professora titular da Universidade de Pernambuco (UPE), que chamou os convidados destacando a importância de ter pessoas com diferentes formas de conhecimento dialogando sobre um tema tão urgente, e de isso poder partir de experiências de base. Na mesa estavam presentes Simone Teixeira (ICB/UPE), Eduardo Maia (LiMCS - Unicap), Danise Alves, gerente-geral de áreas costeiras da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha (SEMAS-PE) e o pescador da Ilha de Deus, Fábio Romão da Silva.
Parte da terceira geração de pescadores da sua família, Fal, como prefere ser chamado, relatou sua experiência na área e o contentamento em integrar este evento. “Ver pessoas que não fazem parte do contato prático da pesca, mas tem interesse na pesquisa, no cuidado e preservação do nosso meio, isso é muito especial. A diferença ambiental vem de pequenas atitudes”, ele ainda destacou o quanto o plástico que fica submerso atrapalha a atividade da pesca do sururu e do marisco e que passou a coletar o lixo do rio porque impactava a atividade de pesca.
À tarde, o evento seguiu com mais rodas de conversa sobre as mudanças profundas nas políticas e nas decisões que levam a estilos de vida mais limpos, ecológicos e sustentáveis, em harmonia com a natureza, sabendo, desde o início, que não existem soluções simples. Assim, o debate buscou levar em consideração perspectivas histórico-culturais, econômicas e políticas, a lógica consumista e as desigualdades sociais intensas.
A partir disso, a roda de conversa 2 debateu o “Plástico no oceano: um sério problema”. A ação foi coordenada por Beatriz Mesquita (Cecim/Fundaj), com experiência de Joab Almeida de Santana e Artur Luiz dos Santos Maciel, dos Garis Marítimos. A ONG é voltada à preservação do meio ambiente, em especial da vida marinha no município de Tamandaré, mas com atuação que se estende para a área de Proteção Ambiental (APA) de Guadalupe. Participaram, ainda, Andreia Olinto (Semas) e Vanice Selva (Prodema UFPE).
A pesquisadora Beatriz Mesquita destacou a relevância de um encontro que articula diversos setores da sociedade. “As questões ambientais por si só são interdisciplinares e globais. Vivemos no mundo o problema do lixo nos oceanos, nos reunimos seguindo o movimento global sobre esse tema. A Fundaj procura todos os anos reunir informações para se comunicar com a sociedade sobre essas questões que estão na agenda das políticas públicas do mundo”, ressaltou a pesquisadora, acrescentando que no Nordeste ainda há um efeito maior.
“Isso ocorre devido a um conjunto de dificuldades de políticas públicas, de educação da sociedade, como vimos em nossas discussões. E mostra que quanto mais discutimos as relações socioeconômicas com o meio-ambiente, mais vemos que Estados, municípios e regiões com baixo desenvolvimento econômico sofrem mais com a questão do lixo no mar”, afirmou. Gerente de Áreas Costeiras da Semas-PE, Andrea Olinto apresentou políticas adotadas pela Secretaria de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Fernando de Noronha (Semas-PE) para conter o avanço da poluição e reverter o prejuízo causado ao ecossistema marinho, como a implementação do Pacolmar e ações de limpeza no litoral sul promovidas pela secretaria.
Por fim, a roda de conversa 3 tratou dos rios, poluição por plástico e injustiça ambiental. Com a discussão sobre racismo ambiental o grupo abordou o processo de discriminação que populações periferizadas ou compostas de minorias étnicas sofrem através da degradação ambiental, expondo que a distribuição dos impactos ambientais não se dá de forma igual entre a população, sendo a parcela historicamente invisibilizada a mais afetada pela poluição e degradação ambiental. Na ocasião, foram apresentados os trabalhos realizados pela ONG do Rio, com Nininho Costa, pelo Gris - Espaço Solidário, com Joice Paixão, e pelo Fórum Popular do Rio Tejipió - Forte, com Géssica Dias Lins de Oliveira. Essa rodada de conversas teve participação de Bárbara Cavalcanti (ABES PE) e foi coordenada por Maurício Antunes (Fundaj).
No encerramento do evento ficou evidente a necessidade da abordagem do tema na perspectiva da educação ambiental, mas que a mesma precisa ser revisitada, reconstituída em suas reflexões e práticas; também foi destacado pela prof. Carmen Farias (Gepes/UFRPE) o quanto é importante olharmos para novas formas de fazer política e de construir alternativas a partir dos territórios de vida. Os pesquisadores Tarcísio Quinamo (Cedist) e Beatriz Mesquita (Cecim) fizeram uma síntese dos principais destaques feitos pelos integrantes das rodadas de conversa, como forma de incentivar a ativação dessa rede. Também foi construído um pequeno texto coletivo, durante o dia, com registros espontâneos dos participantes. A proposta é acompanhar os desdobramentos que ocorram a partir dessa articulação, dessa junção de pessoas e instituições que atuam em diferentes esferas.