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Dália Rosenthal dimensiona memória e ancestralidade em exposição na Fundaj
É em Iroko, líder de todos os espíritos das árvores sagradas, o qual representa alegoricamente um cordão umbilical entre os mundos por onde desceram todos os Orixás, que as noções de tempo, assim como de ancestralidade, tomam forma. Ao observar as dimensões da lembrança vinculada à palavra dos mais velhos, Dália Rosenthal, artista visual e pesquisadora, nos apresenta as distintas relações entre território e memória cultural e natural.
Para a artista, a escolha desse tema se dá pelo histórico do seu trabalho. “Eu dialogo muito com a questão da prática social e das esculturas vivas”, ela comenta. Dália Rosenthal explica que o projeto ‘Tempo para Iroko’ surgiu quando ela estava em Recife desenvolvendo um trabalho sobre a Jurema, e soube da queda do Iroko do Sítio de Pai Adão e Terreiro Ilê Obá Ogunté. “Fiquei muito impressionada com a história dessa árvore e a queda dela trouxe-me a reflexão sobre os processos de perseguição e violência contra os povos de terreiro dessa região, o que me fez almejar uma investigação histórica e política através de documentos do Arquivo Público de Pernambuco”, discorre. “A partir deste início, comecei a entrevistar os representantes mais velhos dessa comunidade e observando a memória e o significado do Iroko, assim como os conceitos de família e ancestralidade neste contexto e para essa comunidade”, complementa.
Como último núcleo deste projeto, novas árvores de Gameleira-branca foram semeadas, germinadas, cuidadas e plantadas por meio da vinculação e colaboração de diversos espaços, instituições e comunidades como Viveiro do Jardim Botânico, no Recife, o Sítio Sete Estrelas, em Igarassu, a Comunidade Quilombola Poço Dantas, em Inajá e o Engenho Massangana, no Cabo de Santo Agostinho, todos em Pernambuco.
Memória
Na exposição “Tempo para Iroko” encontramos, na Galeria Baobá, uma instalação artística com a exibição da pequena semente de Iroko e os vestígios de terra por onde os grãos da Gameleira-branca passaram - uma interpretação simbólica do peso da memória que vigora mesmo ao transpassar por diferentes tempos e localidades. É possível encontrar também telões de vídeos, com entrevistas que Dália Rosenthal realizou com Manoel Papai, Babalorixá do Terreiro de candomblé Ilê Obá Ogunté, com Jaci Felipe da Costa – ou Pai Cecinho – e Walfrido José da Silva – o tio Valfrido, todos de fundamental importância para a memória do terreiro.
Projetada na parede da última sala, vemos a imagem das cinzas do grande Iroko que vivia no terreiro de Ilê Obá Ogunté. Uma denúncia de uma sequência de atentados religiosos que culminaram na morte de uma das árvores mais antigas do Estado de Pernambuco e de grande valor simbólico e ancestral para os povos de terreiro da região.
Investigação
Já na galeria Massangana encontramos a narração de documentos investigados no Arquivo Público que datam do século XIX e outros pertencentes a Secretaria de Segurança Pública Estado de Pernambuco. O texto criado a partir desta investigação e interpretado por Tiago Kfuzo Nagô traz uma leitura do passado no tempo presente desvelando práticas cotidianas de violência aos povos de matriz africana no Brasil.
Para Dália, o projeto é fruto de um processo colaborativo e comunitário por meio da presença de muitas mãos que deram sua energia e carinho durante o processo. “Sementes são resgates memoriais que integram passado e futuro. É o que as pessoas poderão encontrar nesta exposição” conta a artista.
Abertura
A abertura apenas para convidados da exposição ‘Tempo para Iroko’ será no dia 24 de setembro, das 16h às 20h. No dia 4 de outubro será o lançamento virtual, a partir das 19h, com apresentação da exposição e entrevista, que também estará disponível no site da Fundaj, com a artista e chat ao vivo. Estará aberta à visitação pública, seguindo todos os protocolos sanitários necessários, a partir do dia 28 de setembro até 28 de novembro de 2021, de terça à sexta-feiras, das 10h às 16h.
Serviço
V edição do projeto Residências Artísticas da Fundaj
Tempo para Iroko, de Dália Rosenthal
Local: Galerias Massangana e Baobá, campus Casa Forte
Abertura para convidados: sexta-feira, 24 de setembro, 16h às 19h
Visitação: 28 de setembro a 26 de novembro, 10h às 16h