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Com discussão sobre colonialismo, curso "22-22-22: modernidades, modernismos e contemporaneidade” é inaugurado na Fundaj-Derby
Uma rica discussão sobre heranças do colonialismo, racismo científico e espetacularização de corpos marcou a abertura do curso “22-22-22: modernidades, modernismos e contemporaneidade”, na noite desta quinta-feira (8), na Sala Aloísio Magalhães, Campus Ulysses Pernambucano da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), no Derby, Recife.
O curso é realizado pelo Museu do Homem do Nordeste (Muhne), por meio de sua Divisão de Estudos Museais.
A primeira aula-conferência foi ministrada pela pesquisadora titular da Fundaj, Dra. Cibele Barbosa, que em três horas abordou a relação entre modernidade e colonialismo.
"O tema da modernidade não é dissociado do colonialismo, e com ele, obviamente, questões ligadas ao racismo, da construção da raça. Então, quis mostrar essa ligação direta entre um projeto de modernidade, no conceito mais amplo, com o conceito racial, a invenção da ideia de raça, que é baseada na ciência europeia, e foi sustentáculo das incursões coloniais, da escravidão. Todo esse conjunto não pode ser trabalhado de maneira separada da modernidade", explicou a pesquisadora.
O curso terá três módulos divididos em 12 sessões que serão realizadas nos meses de setembro, outubro e novembro.
Este primeiro módulo toma como marco histórico a Independência do Brasil (1822) para debater o processo de construção simbólica do recém criado País, ainda império, a partir do ponto de vista da modernidade.
Para a aula inaugural, Cibele Barbosa trouxe ao debate o papel dos arquivos, que serviram por tempos para corroborar a ideia de dominação de um povo sobre outro.
"É pensar a relação com arquivos, museus e problematizar esse arquivo colonial, que não é somente aquilo produzido no colonialismo, mas sim um grande acúmulo de acervos criados para fins de ordem racial, para sustentar teses de inferioridade racial. Há esses museus, esses arquivos, esse material, por mais que eles venham se modificando, mas agora problematizam o lugar que os acervos ocupam. A ideia é não repetir o mesmo modelo da origem, pois tinham finalidade de expor corpos, pessoas, dominação. Então, o que fazer com esse material, como ressignificá-lo?".
A antropóloga e coordenadora da Divisão de Estudos Museais do Muhne, Ciema Mello, participou da aula inaugural e destacou o eurocentrismo em torno do conceito de modernidade e a constante revisão do passado. "Não sei se os xavantes, os pankararus, os nossos povos da floresta, estão preocupados em ser modernos. Será que em São Miguel da Cachoeira, no Amazonas, estão preocupados com modernismo? Então essa coisa envolve, ao meu ver, a exclusão. E no museu nós temos essa convicção de que o passado nunca está pronto, nunca está consumado, ele permite revisões, reinterpretações, mas não permite cancelamento."
Também participaram da aula inaugural os organizadores Albino Oliveira, Fernando Alvim e Silvia Barreto.
A próxima aula será realizada na terça-feira (13), também às 18h30, no Campus Derby da Fundaj, e abordará a “criação do Museu Nacional e o discurso da ciência”. O encontro será ministrado de forma virtual pela professora Dra. Maria Margareth Lopes, investigadora associada do grupo Ciência: Estudos de História, Filosofia e Cultura Científica, no Instituto de História Contemporânea (IHC/Portugal) e do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
As programações dos módulos seguintes, que cobrem reflexões sobre os séculos XX e XXI, serão divulgadas na proximidade do curso. Os segundo e terceiro módulos acontecerão em setembro e outubro, respectivamente, com data ainda a definir.