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Cinema da Fundação debate seus 25 anos de existência com amplo debate sobre a cinematografia no Recife
O Cinema da Fundação, equipamento cultural vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), celebrou seus 25 anos de existência com um rico debate na Sala Derby. Com boa presença de público, o encontro foi aberto pela presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar, e pelo diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj, Túlio Velho Barreto.
“Estou muito feliz em participar desse momento histórico. Imaginar uma sala de cinema com uma proposta tão inovadora, ao longo de todo esse período, é algo excepcional, pois em nosso País muitas coisas começam e rapidamente acabam. E pensar que o Cinema está aqui há 25 anos, com filmes de destaques, é louvável”, afirmou a presidenta da Fundaj. O diretor Túlio Velho Barreto falou sobre o início do Cinema e abordou os desafios para a gestão do equipamento cultural. “O grande desafio é a Instituição, daqui a 25 anos, comemorar os 50 anos do Cinema da Fundação e datas relativas às outras salas, é a importância da continuidade desse projeto, que é de longo prazo”, comentou.
Após a abertura, houve a exibição de um vídeo com diversos cineastas destacando suas experiências com o Cinema da Fundação, entre eles, Daniel Bandeira, Gabriel Mascaro, Katia Mesel, Renata Pinheiro e Marcelo Gomes, entre outros. Presencialmente, o público pôde acompanhar o debate entre quatro responsáveis pelo desenvolvimento do Cinema da Fundação: o cineasta Kleber Mendonça Filho, o curador Luiz Joaquim, atual coordenador do Cinema, a gestora cultural Silvana Meireles, e o projecionista Joselito Gomes.
Luiz Joaquim falou sobre sua trajetória, desde o período de estagiário até a coordenação, e destacou sua boa parceria com Kleber Mendonça, com quem trabalhou no Cinema da Fundação. “Tínhamos afinidade, era uma combinação equilibrada com desvarios, no melhor sentido, e de pé no chão também”, afirmou. “A atividade do Cinema da começou em maio de 1998 e não queríamos perder a oportunidade de fazer esse encontro e juntar os astros de pessoas fundamentais para que a sala viesse a existir”, completou.
No encontro, ficou claro o carinho do público pelo Cinema da Fundação, com depoimentos afetivos sobre a relação com o equipamento cultural. “O Cinema da Fundação significa para mim a continuidade de uma paixão que eu sempre tive pelo cinema, representa tudo para mim, tanto no lado profissional quanto no lado pessoal. Essa sala é muito importante, abriu espaço para muitos profissionais da área, diretores novos e conceituados, com ideias de mostrar projetos novos”, comentou o projecionista Joselito Gomes.
Por sua vez, Kleber Mendonça Filho falou sobre o filme que passa em sua cabeça ao pensar no Cinema da Fundação e admitiu que teve o equipamento cultural como inspiração na criação de "Retratos Fantasmas". “Esse é um lugar em que centenas de milhares de pessoas frequentaram, durante muitos e muitos anos, e muitas dessas pessoas já não estão mais aqui, outras se conheceram aqui, são amigas até hoje. É um cinema que não só reflete a vida, mas também convida as pessoas para viver. Fico muito feliz em ter feito parte disso. Pensei muito no Cinema da Fundação durante o processo de pensar o filme, até cheguei a pensar em incluir algumas imagens que tenho daqui, mas seria um desvio, pois pensar na experiência que tive aqui foi suficiente para me levar para aquele filme”, afirmou o cineasta.
Ainda segundo Kleber, o País precisa de mais salas como a Sala Derby. “Não devem haver nem 15 salas como essa no País inteiro, um país de 210 milhões de pessoas. Mostra como estamos carentes de espaços de formação como esse. Essa sala precisa ser mais copiada, se não copiada exatamente como ela é, mas algo parecido no sentido de oferecer qualidade e formação de maneira democrática”, concluiu o diretor de 'Bacurau', 'Aquarius' e tantos outros títulos.
Na ocasião também foi abordado o contexto de exibição cinematográfica no Recife no final dos anos 1990, a transição para o digital, e os desafios e soluções de se criar e estabelecer uma sala de cinema com pretensão formativa por um cinema autoral. Silvana Meirelles tratou, por exemplo, da trajetória de consolidação e ampliação do Cinema da Fundação, que não surgiu há 25 anos. Segundo ela, é um trabalho que vem desde o fim dos anos 1970, com a chegada do cineasta e jornalista Fernando Spencer (1927-2014) à Fundaj.
“Minha relação com o cinema me aproximou de pessoas da área e me ajudou a entrar de cabeça no projeto e, 25 anos depois, ver onde ele chegou, sempre me toca muito. Hoje, foi um dia especial, que nos obrigou a fazer uma viagem no tempo e comprovar que fizemos o caminho certo, com todos os desafios impostos, isso é muito prazeroso. Ver que uma ideia construída colaborativamente, que está viva, resiste e só melhora. O Cinema da Fundação é um caso exemplar de que a gestão pública pode dar certo se tiver alguns ingredientes básicos como planejamento e continuidade”, afirmou.