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Cinema da Fundação debate o exílio de João Goulart
A Sala Museu do Cinema da Fundação, vinculada à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), sediou uma sessão debate sobre o documentário 'Jango no Exílio!'. O filme de Pedro Isaias Lucas revisita os anos em que o ex-presidente João Goulart (Jango) viveu exilado no Uruguai e na Argentina durante a ditadura militar no Brasil. O debate contou com a participação do jornalista Vandeck Santiago, autor de livros sobre 1964, do cientista político e pesquisador Túlio Velho Barreto, diretor da Dimeca/Fundaj, e do coordenador do Cinema da Fundação, Luiz Joaquim.
"Acho que devemos abordar duas perspectivas em relação ao filme. Primeiro, é uma obra que retrata o sofrimento de Jango, um ex-presidente deposto e impossibilitado de retornar ao seu país, que acaba por falecer no exterior. Há todo um drama familiar e cotidiano que humaniza essa figura, que continua sendo um mito político no país", destacou Túlio Velho Barreto. Um outro aspecto ressaltado pelo diretor é que assistir a um filme que aborda o exílio de um presidente deposto levanta a discussão sobre a importância da preservação da democracia. “Eespecialmente após os eventos de 8 de janeiro de 2023, quando houve uma tentativa fracassada de golpe. Assistir a esse filme possibilita uma discussão que vai além da tela, trazendo à tona uma realidade que precisamos superar: a instabilidade democrática no país", complementa.
O filme, que apresenta imagens inéditas, cartas, recortes de jornais, depoimentos de familiares como seu filho João Vicente Goulart, e entrevistas, retrata o dia a dia de Jango durante um período que marcou uma ressignificação histórica de sua imagem política e pessoal. Durante o debate, foram abordados temas profundos que ultrapassam o filme, incluindo a figura de Jango, seu governo, comparações entre 1964 e 8 de janeiro de 2023, repressão policial contemporânea, entre outros. “A exibição desse filme na Fundaj representa o compromisso institucional com a democracia e o Estado Democrático de Direito”, assinala a presidenta da Fundaj, a professora doutora Márcia Angela Aguiar
"Achei este encontro excelente, com um público diverso, interessado e participativo, que nos estimulou com perguntas pertinentes. O debate foi muito produtivo, com tempo para todos expressarem suas opiniões. O filme tem uma atmosfera familiar, e talvez essa tenha sido a intenção. O início pode parecer um pouco lento, mas há uma construção gradual que culmina em momentos mais intensos", observou Vandeck.
Dentre os presentes na audiência estavam o jornalista Chico de Assis, ex-preso político, e o ex-vereador Marcelo Santa Cruz, irmão do militante da Ação Popular (AP) Fernando Santa Cruz, desaparecido em 23 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro. "Alguns filmes clamam por discussão adicional. Não é que não sejam completos em si mesmos, mas são tão provocativos que o público naturalmente deseja aprofundar o debate após a exibição. Neste caso, ter um cientista político do calibre de Túlio Velho Barreto enriqueceu significativamente a discussão", concluiu o coordenador do Cinema, Luiz Joaquim.