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Ciclo de escuta pública do Muhne encerra oficinas refletindo sobre curadorias e exposições
O diálogo dos acervos com a sociedade e suas questões urgentes e contemporâneas foi o tema da quarta e última oficina de reflexão institucional para o desenvolvimento do Plano Museológico 2025-2030 do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), equipamento cultural vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). O evento, realizado na sexta-feira (14), reuniu curadores, educadores, pesquisadores e o público em geral na Sala do Conselho Diretor, localizada no campus Gilberto Freyre da Fundaj, em Casa Forte.
Confira a cobertura das demais oficinas:
Norteado pelo tema "Curadorias e exposições: Perspectivas contemporâneas para coleções históricas", o debate foi mediado pelo coordenador-geral do Muhne, Moacir dos Anjos, e contou com palestras de Alex Calheiros, doutor em Filosofia e diretor do Museu da Inconfidência em Ouro Preto (MG), e Paulo Knauss, professor e membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), do Conselho Estadual de Tombamento (CET-RJ) e do Comitê Brasileiro de História da Arte (CBHA).
Moacir dos Anjos destacou a complexidade das temáticas abordadas e o comprometimento do museu em integrá-las no novo Plano Museológico. “Os quatro dias deste processo foram extremamente enriquecedores. O processo de escuta confirmou questões que já víamos como importantes, mas também revelou uma série de outras que só poderiam emergir em um contexto como esse, onde muitas vozes e diferentes perspectivas se encontram. Participaram pessoas de dentro e fora do museu, do campo da educação, da curadoria, da gestão e de movimentos sociais, trazendo uma enorme riqueza de questões e desafios para nós. Agora, cabe a nós tratar dessas questões, formular ações que respondam a elas e construir um plano que oriente o museu com seus programas e ações nos próximos cinco anos. A ideia é publicar o plano até dezembro, mas até lá haverá um projeto de ajustes, trocas e confirmações”, afirmou.
Debate
Seguindo as reflexões acerca da questão mobilizadora “Como os museus que salvaguardam um acervo histórico, antropológico ou etnográfico podem participar, de forma mais sincronizada, dos debates emergentes, contemporâneos e urgentes da sociedade?”, Paulo Knauss destacou a importância do museu como centro de produção do conhecimento e a necessidade de que suas curadorias tenham a defesa da cidadania como missão. “Em qualquer sentido que a curadoria assuma, ela precisa carregar a memória do nosso tempo”, pontuou.
Dialogando com as provocações levantadas por Knauss, Alex Calheiros falou sobre sua experiência no Museu da Inconfidência, apresentando os desafios com o acervo e o processo de construção do imaginário político e cultural do público a partir dos objetos das coleções. Calheiros destacou a importância de integrar a equipe neste movimento, afirmando que “a curadoria não é só lidar com as coleções, é pensar a instituição como um todo. Não se muda a instituição, se escanteia a equipe”.
Durante o debate sobre o plano museológico, os participantes destacaram a necessidade de reconhecer problemas existentes no acervo atual e decidir sobre as intervenções necessárias. Enfatizaram a curadoria como um processo educativo fundamental para a formação do público, além da integração com debates contemporâneos em diversos círculos sociais. Propuseram a promoção de parcerias e diálogos, com a participação ativa de diversas instituições e comunidades em eventos. A ideia de exposições temporárias foi sugerida para criar uma tensão dinâmica com o acervo permanente, bem como a realização de exposições itinerantes por todo o Brasil.
Os participantes também ressaltaram a importância de manter contato com coletivos e movimentos, promovendo uma aproximação com a diversidade cultural e artística contemporânea, incluindo pesquisas de comunidades indígenas, negras e ciganas. Sugeriram a revisão da documentação histórica para um aprofundamento crítico e a presença mais efetiva da educação museológica. Defendeu-se a inclusão de cultura imaterial, dando voz àqueles muitas vezes silenciados, e a participação de conselhos em comissões, formando uma curadoria compartilhada. Por fim, a criação de um programa de curadoria que esteja aberto ao diálogo e às demandas contemporâneas foi vista como essencial para um museu mais inclusivo e representativo.
“Considero que o balanço do programa de reflexão institucional é muito positivo. Tivemos uma diversidade de pessoas, instituições e pautas implicadas nesse processo, neste momento de revisão das políticas e do planejamento do Muhne. As pessoas estavam empenhadas não só em aprender, mas também em propor e ver as transformações que o museu se propõe a fazer. Acredito que o plano será muito rico, ancorado nas questões contemporâneas e, sobretudo, comprometido de fato em construir, a partir do acervo do museu, uma visão mais justa e engajada para o Nordeste. O objetivo é preencher as lacunas e injustiças que a história e o museu atualmente apresentam”, afirmou a consultora, pesquisadora e museóloga Gleyce Kelly Heitor, especialista em processos participativos.
Formulação do plano
Passada a etapa das oficinas, as propostas serão estruturadas em um modelo de programas, conforme o estatuto dos museus, e será editado o plano para convidar novamente a sociedade, a fim de prestar contas de todo o trabalho realizado ao longo do processo. A escuta pública para o desenvolvimento do Plano Museológico 2025-2030 do Museu do Homem do Nordeste é uma atividade que tem como fim debater e refletir sobre como o Muhne pode se posicionar frente às questões contemporâneas da sociedade. O processo participativo reuniu, ao longo das quatro oficinas, profissionais ligados a museus e patrimônios de diferentes partes do Brasil, movimentos sociais e o público em geral.
O Plano Museológico é um instrumento de planejamento recomendado para todos os museus brasileiros pelo Estatuto de Museus (Lei nº 11.904/2009) e define conceitualmente a missão, a visão, os valores e os objetivos da instituição, e alinha, por meio de um planejamento estruturado, seus programas, projetos e ações.