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Arte, natureza e ancestralidade se encontram na nova exposição do Muhne
Os jardins do Museu do Homem do Nordeste (Muhne) foram tomados por uma atmosfera de emoção, marcada por um profundo sentimento de conexão com a natureza e com a ancestralidade, na tarde deste sábado (7), durante a estreia da exposição “Os 4 Elementos: Expresse seus Sentimentos através do Barro”. Instalada nos jardins do Museu, a obra é assinada pela artista visual, ceramista e educadora Micaella Alcântara. A mostra é gratuita e ficará em cartaz até 2 de fevereiro de 2025, celebrando a relação entre os elementos naturais e a criação artística. O Muhne é vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj),
A instalação reúne 60 cabeças de cerâmica em formato cúbico, dispostas em seis totens que simbolizam quatro elementos — água, terra, fogo e ar. A exposição explora os processos transformadores da cerâmica e a energia emocional que cada peça transmite. Além das obras, os visitantes podem interagir com um painel educativo e um jogo inspirado na mostra, criando suas próprias expressões artísticas.
“Estou muito grata e feliz por realizar esse projeto. Essa exposição foi pensada e projetada como um sonho, e espero que o público aproveite esse momento, se conectando com as obras e com o espaço. É uma experiência incrível retornar à Fundaj, onde já trabalhei como recepcionista, e agora estar aqui como artista e ceramista. Sou uma mulher negra e periférica ganhando espaço com essas criações. Espero que as pessoas sintam essa conexão com a natureza, com os elementos, e que reflitam sobre a ancestralidade e os sentimentos evocados pelas peças. A arte pode causar estranhamento, mas também nos convida a reconhecer memórias e energias. Esse é o poder dos 4 Elementos", destacou Micaella.
As criações não apenas demonstram a maestria técnica da artista, mas também sua habilidade em transmitir emoção e significado através de formas, cores e texturas. Os 4 Elementos busca levar as pessoas a uma jornada sensível e reflexiva sobre a natureza e a vida. Na abertura, o público foi presenteado com uma apresentação vibrante do Maracatu Quilombo Nagô, da Paraíba, que ampliou a experiência sensorial da mostra. O grupo, que valoriza as tradições afro-brasileiras por meio de atividades culturais, artísticas e educacionais, trouxe sua percussão, figurinos ancestrais e cantos que exaltam a diversidade cultural do Brasil.
Seus tambores ecoaram como o coração do Nordeste, proporcionando uma experiência emocionante e celebrando as raízes e a força das comunidades locais. Mestre do grupo e tio de Micaella, Marcílio Alcântara destacou a importância da mostra inaugurada no Muhne.
“O que Micaella está fazendo é muito importante. Mas nunca esquecemos de onde viemos, do Alto do Pascoal. Isso tem muita força, é a nossa cor, a nossa identidade. A arte da negritude está nas nossas veias. Queria que meu pai e minha mãe estivessem aqui para ver isso. É algo que nos emociona profundamente", afirmou o músico emocionado.
Oriundo do bairro de Mangabeira, em João Pessoa, o Maracatu Quilombo Nagô conta atualmente com 105 integrantes e segue crescendo. Os instrumentos, feitos de troncos de macaíba, são construídos pelo mestre Marcílio. O grupo trabalha com jovens de ONGs e também é aberto ao público. "Mostramos a eles que podem ser qualquer coisa, mas precisam estudar e ocupar as universidades. Nosso lugar também é lá dentro, levando nossa cultura para esses espaços", destacou o mestre.
Ao fim da abertura, Micaella realizou uma performance no jardim do Museu que deu vida ao trabalho, conectando-se com o público e destacando as jornadas envolvidas na criação das peças. Ela apresentou como cada elemento — terra, água, ar e fogo — desempenha um papel essencial na transformação do barro em cerâmica, tornando-o resistente e único.
No encerramento, a artista agradeceu o apoio da coordenadora de Exposições do Muhne, Silvana Araújo, que estava presente no evento e retribuiu: “Só temos a agradecer a Micaella por escolher o Muhne para abrigar essa exposição. Estamos muito felizes e orgulhosos. Ela é cria da casa, esteve aqui pequenininha, e hoje nos presenteia com essa beleza. Parabéns, Micaella, está tudo lindo!”. A mostra conta com incentivo da Secretaria de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco (Secult-PE) e da Lei Paulo Gustavo.