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Afoxé, empoderamento negro e memorial marcam abertura de exposição na Fundaj
“Temos que dar empoderamento aos nossos povos também através das religiões de matrizes africanas”. Com esta fala de Pai Ivo de Xambá, foi inaugurada a exposição Memórias da Nação Xambá - 20 anos do Memorial Severina Paraíso da Silva “Mãe Biu”, fruto de uma parceria da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), por meio do Museu do Homem do Nordeste (Muhne), e da Casa Xambá, nesta quinta-feira (02).
A abertura contou com muita música e tradição. O Afoxé Ylê Xambá, criado em 2004, fez uma apresentação para o público e festejou os 70 anos do Pai Ivo. Filho de Severina Paraíso da Silva, matriarca que é homenageada com o nome do memorial do terreiro, ele foi iniciado no Culto aos Orixás aos 10 anos de idade.
A mostra está na Galeria Massangana, no campus Gilberto Freyre da Fundaj, em Casa Forte, e tem visitação gratuita, de terças a sextas-feiras, das 9h às 16h30 e aos sábados e domingos das 13h às 16h30. “Hoje inauguramos essa exposição como conclusão de um projeto oriundo de um termo de cooperação técnica. Inauguramos com o acervo do Memorial, com a ajuda do nosso museólogo e com Hildo”, celebrou a coordenadora-geral do Muhne, Fernanda Guimarães.
Dividida em três núcleos - Fundação, Repressão e Resistência; Origem da ancestralidade Xambá na África; e Memorial Severina Paraíso da Silva “Mãe Biu” -, a exposição revela elementos de identificação, memória e resistência da Nação Xambá. Também conhecido como Terreiro Santa Bárbara, o espaço luta pela preservação de ritos e tradições e é considerado o primeiro quilombo urbano do Norte e Nordeste e o segundo do país.
Pai Ivo comemorou a abertura da exposição e também a história do memorial idealizado por ele. “Museu é uma maneira de congelar o passado e o memorial é uma maneira da gente contar a história de um povo. O que vocês vão ver no museu é a história de mulheres que foram importantes porque se tem uma religião que valoriza o poder das mulheres são as religiões de matrizes africanas. O que os negros trouxeram da África foi a espiritualidade sociocultural porque 90% da cultura que nós temos nesse país vem dos terreiros de candomblé: coco, ciranda, afoxé…”.
Já a antropóloga do Muhne, Ciema Mello, falou sobre Mãe Biu, que conheceu pessoalmente, e sobre o terreiro. “A Nação Xambá é uma nação das mais respeitadas, não só em Pernambuco, mas no Brasil, porque ela honra a tradição africana e ela foi sucedida por Pai Ivo, que está aqui. Então essa exposição para nós é simbólica, ela marca um novo período do Museu do Homem do Nordeste”, celebrou.
Na Galeria, estão expostos uma representação do Trono utilizado por Mãe Biu, documentos, fotografias, objetos e indumentárias que revelam o universo sagrado do Candomblé e da comunidade de Xambá. Uma das paredes destaca a história de Maria Oyá, mãe de Severina e uma das responsáveis pela inauguração do Terreiro Santa Bárbara.
A mostra conta com a participação da equipe do Museu do Homem do Nordeste, desde a curadoria à montagem. Henrique de Vasconcelos, museólogo e um dos curadores da mostra, participou da abertura e comemorou o resultado. “Fazer esse trabalho em conjunto com o terreiro de Xambá é de extrema importância porque é um dos poucos terreiros do Brasil que tem um museu. Todos os museus têm que ser respeitados, todos são importantes”, disse.
Depois de se apresentar com o Afoxé Ylê Xambá, Célia Maria, filha de Santo da Casa Xambá há mais de 35 anos, foi conferir a mostra. “Estou relembrando meus antepassados aqui, minha Mãe Biu, que foi uma grande guerreira, uma grande mulher daquela casa, foi tudo para a gente. Quando ela se foi deixou um grande legado”, contou.
A pesquisadora francesa Fanny Vignals também foi à Galeria Massangana conhecer a exposição. Ela pesquisa sobre as danças do candomblé da Bahia e encontrou na mostra uma oportunidade para entender como os ritos e as tradições são celebrados em Pernambuco. “Eu nunca assisti a uma cerimônia em um terreiro pernambucano, mas eu ouvi muito falar no Terreiro Xambá e a exposição é uma boa opção para conhecer. Dá para entender a questão familiar e a questão das origens”, explicou.
Um dos curadores da exposição, o historiador e filho de Santo Hildo Leal da Rosa se emocionou e contou sua história no terreiro. “É emocionante ver que aquele pequeno museu, primeiro e talvez único no estado de Pernambuco dentro de uma comunidade religiosa, tenha frutos. Além de estar ali pronto para contar a nossa história, que é o que vai ser visto nessa exposição, que os frutos saídos desse trabalho nos encham de orgulho”, celebrou.
Serviço:
Exposição Memórias da Nação Xambá - 20 anos do Memorial Severina Paraíso da Silva “Mãe Biu”
Local: Galeria Massangana, Campus Gilberto Freyre da Fundaj, Avenida 17 de Agosto, 2187, Casa Forte
Horários de visitação: de terças a sextas-feiras, das 9h às 16h30 e aos sábados e domingos das 13h às 16h30
Visitação gratuita