Notícias
Acervos fonográficos e frevo são destaque em primeiro dia da Semana da Música na Fundaj
A identidade cultural de um lugar é construída e reconhecida a partir de diversos elementos. Um deles é a música. Nesta sexta-feira (26), a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) abriu a programação da sua Semana da Música. Com transmissão no canal oficial da Instituição Federal no Youtube, dois bate-papos marcaram o primeiro dia, resgatando diversos nomes e homenageando o frevo.
No Cinema do Museu, o chefe do Centro de Documentação da Fundaj, Lino Madureira, lembrou as memórias, experiências e contribuições do radialista Renato Phaelante, ex-coordenador da Fonoteca do Centro de Documentação e Estudos da História Brasileira (Cehibra), da Fundaj. Renato destacou as relíquias do acervo da Fundaj e contou com muitas delas foram adquiridas e/ou produzidas.
Produção de vinis, aquisições de coleções e entrevistas a nomes como o poeta Pinto do Monteiro (1895—1990) foram destacados na conversa. “À medida que contávamos com o contato com essas personalidades, íamos colhendo todos os materiais disponíveis para os seus acervos”, disse Renato, que lembrou nomes como Getúlio Cavalcanti e Edgard Moraes e a gravadora Rozenblit.
Lino Madureira recordou a importância do Programa “Memória de Nossa Gente”, conduzido por Renato Phaelante, e destacou o caráter pioneiro da iniciativa comparando-a aos jovens podcasts. “Essas produções tinham uma caráter também de retroalimentação da Fonoteca, a medida que o que vocês produziam se tornavam também acervo”, disse, ao comentar também o processo de digitalização dos acervos.
Na sequência, o historiador Leonardo Dantas e o maestro Marcos César tiveram o bate-papo mediado pelo jornalista pernambucano José Teles, especialista em música. Conversa que passeou pela história do frevo em Pernambuco. Defensor do ensino do ritmo e dança pernambucana, Leonardo Dantas recordou que fez a primeira Cartilha do Frevo, a criação do Concurso Frevança e da Frevioca.
Em um debate sobre a preservação das tradições, as transformações do Carnaval do Recife não ficaram de fora. “O Carnaval do Recife virou um Festival de Verão. As novas gerações não sabem o que é o Carnaval”, criticou José Teles. A ausência do frevo nas comunidades, no rádio e na festa foi percebida pelos debatedores como um sintoma alarmante. Para eles, a falta de investimos na promoção e divulgação do ritmo é prejudicial à cultura local.
O maestro Marco César recordou que foi impedido de subir ao palco principal do Carnaval do Recife onde iria rever o Coral Edgard Moraes em virtude da chegada de uma banda de pop-rock. Leonardo Dantas, por sua vez, contou de uma orquestra interestadual convidada para interpretar frevos e que não conseguia encerrar a canção, pois o último acorde era também o primeiro. “O frevo não se encerra, ele se estrangula”, concluiu o historiador, aos risos.
Continua
A programação da Semana de Música da Fundaj continua ainda neste sábado (16), às 10h. O debate da vez será o “Ensino e prática de música nas escolas”, com mediação de Edna Silva, coordenadora de Ações Educativas e Comunitárias do Museu do Homem do Nordeste, e participação dos educadores Bruno César, Clenio Lima e José Amaro. A programação será encerrada com a apresentação do grupo musical Pife Urbano.