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Abertura da exposição ‘Necrobrasiliana’ redefine um Brasil marcado pela memória colonial
Em um país como o Brasil, no qual as violências e nocividades proporcionadas pelo racismo fazem parte das frágeis fundações da sua formação, a abertura da exposição Necrobrasiliana, realizada nesta quinta-feira (15), na Galeria Vicente do Rego Monteiro, no campus Derby da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), propôs uma releitura dessas danosas memórias coloniais. A mostra reúne 26 obras de uma geração de artistas contemporâneos e busca redefinir o acervo documental brasiliana, composto por registros de desenhistas estrangeiros que tematizam o país entre os séculos XVI e XIX, essencialmente dessensibilizados pelos corpos não brancos em posições de subalternidade ou precárias.
A mostra é ilustrada pelas obras dos artistas Dalton Paula, Rosana Paulino, Gê Viana, Denilson Baniwa, Thiago Martins de Melo, Ana Lira, Sidney Amaral, Zózimo Bulbul, Jaime Lauriano, Rosângela Rennó, Yhuri Cruz e Tiago Sant’ana, trazendo um novo olhar sobre os corpos negros e indígenas para além das amarras coloniais. “São registros repetidos acriticamente em livros de histórias, propagandas e vestuários que são consumidas passivamente pela sociedade. Imagens que normalizam essas violências coloniais que vigoram até o momento no país”, declara o curador da mostra Moacir dos Anjos. “A Necrobrasiliana é composta por artistas que criticam esse racismo implícito nessas imagens e a constituição de uma nova forma de vida no Brasil, mais inclusiva”.
Para o presidente da Fundaj, Antônio Campos, fazer viver a história não é uma coisa apenas para os historiadores, mas também para os artistas. “Doze artistas contemporâneos trazem novos olhares, traços e interpretações nas telas, com releitura do acervo documental da brasiliana, da memória colonial, na exposição”, atesta. Historiador e diretor de Memória, Educação, Cultura e Arte da Fundaj, Mario Helio ressalta que a exposição Necrobrasiliana integra uma série de outras exposições que são reflexões críticas de imagens de um país como o Brasil, especialmente o passado, que sempre se reflete no presente, podendo repercutir no futuro. “É uma ressignificação plástica dessas interpretações coloniais”.
Dialogando com os resquícios dessa herança colonial, ampliando o panorama sobre a causa racial e seus desdobramentos até o momento presente, a mostra também contou com a performance inédita de Angu, realizada pela artista visual Gê Viana, na qual deu voz às vivências negras que traspassaram por sua vida e o legado das mesmas em seu fazer artístico. A exposição Necrobrasiliana segue em exibição na Galeria Vicente do Rego Monteiro, no campus Derby da Fundaj, de 16 de setembro de 2022 a 29 de janeiro de 2023, de terças a sextas, das 14h às 19h, sábados, domingos e feriados, das 13h às 17h. A visitação é gratuita