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“O Contato” estreia com sessão debate no Cinema da Fundação
“Esse foi o filme mais arriscado que fiz na minha vida”. A revelação é do cineasta Vicente Ferraz, diretor do longa-metragem “O Contato”, que participou da sessão debate na quinta-feira (22), na Sala Museu do Cinema da Fundação, em Casa Forte. Com a estreia mundial feita durante o Festival É Tudo Verdade 2023, a obra é uma oportunidade de o público conhecer um pouco mais sobre os povos originários da região do Rio Negro. Mediado pelo coordenador do Cinema da Fundação, Luiz Joaquim, o debate também contou com a participação do indigenista e cineasta Vincent Carelli. O Cinema da Fundação é vinculado à Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Arte (Dimeca) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj).
Localizada na fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela, a cidade de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, onde convivem 23 etnias com 18 idiomas nativos, é o cenário de travessias feitas pelos personagens do longa. “Eu sempre trabalho com memórias, histórias da América Latina e conflitos. Esse filme também é sobre um conflito, uma guerra que está acontecendo há muito tempo. Para falar sobre esse universo completo, diverso, eu queria contar histórias que fossem próximas, universais”, compartilhou Vicente Ferraz.
O filme acompanha uma mãe que busca a cura da filha, uma criança cujos pais são de etnias diferentes, que será apresentada à bisavó materna, e um filho que busca a foto do pai que faleceu. “Essas histórias poderiam acontecer no Recife, na Palestina ou em qualquer parte do mundo. Mas isso acontece naquela parte do Brasil, com aquela cosmovisão, e eu tinha que entender aquilo ali. Isso foi o desafio do filme”, revelou o diretor.
Após a exibição, o cineasta Vincent Carelli destacou a força desses personagens, que afloram questões da região. “Esses povos, de diferentes culturas e línguas, estabelecem um convívio entre eles e a regra de ouro é a exigência de casar com alguém do outro povo. Aí vai se estabilizando essa aliança, por isso eles são poliglotas. O dilema dos Hupdas, o grupo mais marginalizado da região, a presença da igreja e dos militares é muito forte. O filme é uma aula de Rio Negro muito bem sucedida”.
Durante o debate, quando questionado pelo público sobre a elaboração do roteiro, Vicente Ferraz contou que o filme foi gravado quase de olhos vendados. “Eu sabia disso e me preparei. O documentário foi filmado em quatro línguas, numa região de imensa complexidade e só descobri o teor das histórias durante as traduções. Quando estava filmando a matriarca da família, eu não sabia da profundidade do que ela estava compartilhando, quando disse se Deus fala português, ele se esqueceu de nós ", pontou o cineasta. Exibido no Festival Internacional do Novo Cine Latino-Americano, em Havana, Cuba, em 2023, o filme “O Contato” é distribuído pela Pipa Pictures e segue em cartaz na Sala Museu do Cinema da Fundação.