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“De Frente Pra Costa” debate sobre doença da urina preta (Haff) e impactos na pesca artesanal
“O que sabemos e o que não sabemos sobre a doença da urina preta (Síndrome de Haff)?” Este questionamento foi assunto na abertura do "Ciclo de Debates Virtuais de Frente Pra Costa 2021", na última sexta-feira (26), transmitido ao vivo pelo canal da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) no YouTube, que disponibiliza a live completa na íntegra. Sob coordenação da pesquisadora da Fundaj Lígia Albuquerque de Melo, o evento tem iniciativa da Diretoria de Pesquisas Sociais (Dipes), do Centro de Estudos em Dinâmicas Sociais e Territoriais (Cedist) e do Centro de Estudos de Cultura, Identidade e Memória (Cecim).
Confira o webinário na íntegra: https://bit.ly/3lYXIRt
Representado pelo pesquisador Tarcísio Quinamo e mediado pela pesquisadora Beatriz Mesquita, ambos da Fundaj, o webinário de estreia do “De Frente Pra Costa” contou com a participação de três palestrantes: Dr. Paulo Pena (médico, professor titular da Universidade Federal da Bahia – UFBA - e doutor pela EHESS - Paris, Pós-doutorado pela ENSP/FIOCRUZ); Josemaryson Bezerra (gerente geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), farmacêutico e especialista em Vigilância Sanitária - Escola Nacional de Saúde Pública); e Severino Antônio dos Santos, mais conhecido como Bill (educador social e membro do Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) - Regional Nordeste 02).
“O ciclo de debates traz temas de interesse público. Esse evento surgiu no ano de 2008 como parte de um conjunto de atividades que a Fundaj vinha organizando e desenvolvendo com relação às pesquisas e encontros científicos sobre os ambientes costeiros e a pesca artesanal no Brasil, particularmente na região Nordeste”, destacou Tarcísio Quinamo.
Registrada pela primeira vez na Europa, exatamente em 1924, a doença de Haff tem suas causas sob investigação até hoje, sendo considerada rara. Na região Nordeste, os primeiros casos foram relatados na Bahia, em dezembro de 2016. Paulo Pena, um dos convidados do debate, comentou sobre os surtos e os aspectos associados ao consumo de pescados na Bahia, entre eles o peixe “Olho de Boi”, que leva um nome diferente em Pernambuco, chamado de “Arabaiana”, mas trata-se da mesma espécie (Seriola spp.).
“Os surtos foram identificados em seis municípios do litoral norte baiano. Esses casos causaram sérias consequências para os pescadores artesanais, além de ter deixado dúvidas para os consumidores. A Secretaria de Saúde da Bahia informou sobre o aumento para 40 casos da doença de Haff, sendo divulgado pela imprensa um crescimento de 206% no estado, o que resultou na redução drástica do consumo de peixes e mariscos oriundos de seu litoral. Além do mais, o que foi noticiado pela imprensa acabou gerando prejuízo e desespero para os pescadores locais que, subitamente, deixaram de comercializar o pescado e chegaram a pedir recursos para a alimentação por questão de sobrevivência”, recordou o professor da UFBA.
No Estado de Pernambuco, em fevereiro deste ano, também houve a existência de intoxicação associada ao consumo do peixe, chamado de “Arabaiana”, que veio de Belém/PA. Uma distribuidora pernambucana adquiriu 5 toneladas da espécie, sendo que apenas 300 kg foram embargados pois o restante já havia sido comercializado. Os fatos acenderam o alerta para os cuidados efetivos com a alimentação de um modo geral, como ressaltou o gerente geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), Josemaryson Bezerra.
“Há urgência em relação às investigações. Considerados surtos quando duas pessoas se queixam de problemas físicos e desconfortos após o consumo de alimentos. Quando se trata de doença rara, como é o caso da Doença de Haff, a restrição é para uma única pessoa. Os pilares para a investigação são a Vigilância Epidemiológica, que identifica o agente de transmissão, a Vigilância Sanitária, responsável por rastrear o agente causador e bloquear esse risco, e os laboratórios de análises, que estão espalhados por todos os estados do Brasil e são ligados à Vigilância Sanitária”, declarou.
Durante a sua fala, o gerente geral da Apevisa garantiu que os estudos e pesquisas atuais não fornecem elementos para impor quaisquer restrições ao comércio e consumo do pescado em Pernambuco.
Devido aos desastres naturais e tecnoindustriais com impactos no meio ambiente e nas atividades socioeconômicas, as populações em situação de alta vulnerabilidade social são as mais afetadas. Diante disso, o Conselho Pastoral dos Pescadores (CPP) – Regional Nordeste 02 –, atua no acompanhamento de comunidades de pescadores artesanais no litoral de estados do Nordeste: Alagoas, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Paraíba.
“A gente precisa mais do que nunca ter clareza nas respostas do Estado para que possamos de fato dialogar com firmeza nas comunidades. Só assim as comunidades vão poder apresentar para a sociedade a procedência do seu pescado. Além disso, é preciso cobrar aos meios de comunicação sobre o que é veiculado. A forma como as notícias são publicadas afeta diretamente os pescadores”, pontuou o educador social e membro do CPP, Bill.
Próximo encontro
O segundo webinário do “Ciclo de Debates Virtuais de Frente Pra Costa 2021” está marcado para o mês de abril, no dia 30, com a temática “O desastre do petróleo e as atividades litorâneas no Nordeste do Brasil”. O encontro virtual será transmitido pelo canal da Fundaj no YouTube.