História
A Fundacentro/PR foi inaugurada em 9 de novembro de 1979, em Curitiba¹, e teve como primeiro diretor executivo José Tiaraju Massa. Na cerimônia, participaram o ministro do Trabalho, Murillo Macêdo, o então presidente da Fundacentro, Arthur Rodrigues Quaresma, e o superintendente Eduardo Gabriel Saad. Com a presença de representantes do governo estadual, da indústria e dos trabalhadores, o discurso do ministro reafirmava o compromisso em dar ao trabalhador maior segurança do trabalho, prevenir e combater os acidentes.
As pesquisas realizadas nas décadas de 1980 e 1990 abrangiam tanto projetos propostos pelo CTN, quanto resultantes de demandas surgidas regionalmente, mas, a partir de 2000, o enfoque foi no desenvolvimento de ações voltadas para as necessidades locais. Se no início havia trabalhos gerados a partir da assessoria técnica prestada às empresas, com o tempo, essa lógica se inverte, e essa ação ocorre como complementação da pesquisa, com identificação, avaliação e sugestão de medidas de controle no setor, visando à construção de um conhecimento a ser repassado.
Na década de 1980, foram desenvolvidas ações de assistência técnica às pequenas empresas; caracterização dos acidentes de transporte rodoviário; atividades relacionadas à construção civil, como o treinamento com unidade móvel em canteiros de obras em Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina e Maringá; e avaliação de chumbo em indústrias de fabricação e reforma de baterias. Ainda se realizaram 24 assessorias técnicas para identificar riscos e sugerir medidas de controles às empresas solicitantes. Já o estudo em empresas do setor cerâmico destinadas à fabricação de peças de porcelana no município de Campo Largo/ PR e região foi desenvolvido nos anos 1980 e 1990. A investigação contemplou a avaliação e o controle tanto da exposição à poeira de sílica, visando à prevenção da silicose, quanto da exposição ao ruído, propondo medidas para minimizar ou eliminar o risco.
Um diferencial na década de 1990 foi o atendimento à demanda do Ministério Público do Trabalho da 9a Região. O órgão pedia o subsídio da Fundacentro/PR para identificar, avaliar e sugerir medidas de controle para eliminação ou diminuição dos riscos e dos acidentes de trabalho, o que resultou em 28 levantamentos em empresas. Também foram realizadas 15 assessorias técnicas.
Os projetos desse período ainda focaram a área rural, com a avaliação e a prevenção de intoxicação por agrotóxicos e a capacitação de agentes multiplicadores em escolas rurais, treinando 948 pessoas para disseminar a segurança e a saúde nesse setor. “Hoje o trabalhador fala veneno por causa da Fundacentro. Quando chegou ao Brasil, era chamado de defensivo agrícola. Íamos dar palestras para agricultores no interior do Paraná e víamos se havia contaminação. Treinamos professores. Fizemos vídeo”, recorda o atual chefe da Fundacentro/PR, Adir de Souza.
Houve a continuação do projeto de construção civil com o treinamento de trabalhadores nos canteiros de obras por meio da unidade móvel, além de estudos que avaliaram, em Curitiba e Londrina, as condições dos ambientes de trabalho nessa área e a implantação do CPR/PR. Outro estudo avaliou o controle e a exposição ocupacional ao ruído em metalúrgicas.
Na década de 2000, a Fundacentro/PR continuou a participar do CPR/PR, discutindo a melhoria e a implantação da NR 18. Desenvolveu, assim, ações voltadas para a indústria da construção e realizou pesquisa em Londrina/PR e região sobre as condições de trabalho nesse setor. Também avaliou as condições ambientais das minerações do Paraná e os reflexos para a saúde do trabalhador e o meio ambiente.
Desenvolveu, ainda, pesquisa relativa a acidentes e doenças do trabalho nas indústrias moveleiras de Arapongas/PR, além de assessoria técnica ao projeto de galvanoplastia, realizado em Loanda/PR, em conjunto com a equipe de São Paulo. A pesca artesanal foi outro tema estudado em projetos que focaram a avaliação das condições de trabalho, dos riscos e das doenças ocupacionais nesse tipo de atividade.
A unidade realizou estudo sobre as condições de saúde, segurança e trabalho dos catadores e trabalhadores de centros de triagem de materiais recicláveis de Curitiba e região metropolitana. Participou em levantamento de riscos ionizantes realizado pelo CTN e prestou assessoria técnica ao Hospital de Clínicas do Paraná, às casas lotéricas do Estado do Paraná e à Caixa Econômica Federal.
A partir de 2010, a pesquisa sobre pesca artesanal foi ampliada para uma avaliação dos riscos e das doenças ocupacionais nos estados do Paraná e Santa Catarina, visando à melhoria das condições de trabalho e ao desenvolvimento sustentável dessa prática. Também foram realizados estudos sobre as condições de segurança e saúde na agricultura familiar e os determinantes de permanência de catadores em associações de materiais recicláveis.
A Fundacentro/PR deu andamento ao programa de capacitação e atualização de profissionais de SST, realizando cursos e eventos. Foram 1.990 profissionais capacitados na década de 1980, 3.502 nos anos 1990, 6.761 entre 2000 e 2009, e 3.273 de 2010 a 2015, totalizando 15.526 participantes. A esse número, devem ser acrescentados os 2.192 profissionais formados na área de SST quando a Fundacentro era responsável pela formação desses especialistas: 338 médicos do trabalho, 1.293 supervisores de segurança do trabalho, 281 auxiliares de enfermagem do trabalho, 207 engenheiros de segurança do trabalho e 73 enfermeiros do trabalho. Assim, de sua criação em 1979 até o ano de 2015, houve a capacitação e formação de 17.718 pessoas.
Os cursos e os eventos abrangeram diversos temas ao longo do tempo, como a SST em setores específicos: trabalho rural, agricultura familiar, construção civil, galvanoplastia, unidades armazenadoras de grãos, indústrias madeireiras e moveleiras, atividades de pesca e mergulho profissionais, transporte rodoviário e segurança em máquinas e equipamentos. A legislação em SST, de forma geral, esteve em pauta, assim como normas regulamentadoras específicas: implantação da NR 7 – Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional, da NR 9 – Programa de Prevenção de Riscos Ambientais e da NR 32 – Segurança e Saúde nos Serviços de Saúde. Riscos químicos, ruído, prevenção à surdez, vibrações mecânicas, mapeamento de riscos, método da árvore de causas, análise de acidentes de trabalho, agrotóxicos, exposição à sílica, benzeno, nanotecnologia, lixo domiciliar, prevenção de acidentes, grandes acidentes industriais, ventilação industrial e espaço confinado foram outros assuntos abordados.
Também estiveram em discussão estresse, ergonomia, saúde mental, inclusão no trabalho de pessoas com deficiência, Cipa, dermatoses ocupacionais, proteção respiratória, formação de perito trabalhista, mulher, EPI e fundamentos didáticos.
Foi na unidade que nasceu o Movimento Abril Verde, em 2014, por iniciativa de Adir de Souza. O objetivo é construir uma cultura de prevenção, conscientizando trabalhadores, empregadores e a sociedade em geral sobre os agravos à saúde do trabalhador. O mês foi escolhido devido à celebração do Dia Internacional em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, 28 de abril. Outra atuação foi fomentar a criação de semanas municipais de prevenção de acidentes em 14 cidades do Paraná. “É uma forma de criar uma cultura de prevenção e não ficar algo fechado entre os muros da empresa”, afirma Adir.
Desde 2015, passou a realizar ciclos de palestras comemorativos ao cinquentenário da Fundacentro. Ainda desenvolve um projeto voltado para ações de saúde e qualidade de vida no trabalho na unidade. Os servidores participam em reuniões mensais do Fórum de Proteção ao Meio Ambiente de Trabalho no Estado do Paraná, Comitê de Óbitos e Amputações Relacionadas ao Trabalho/PR, Grupo de Trabalho Executivo da Agenda Estadual do Trabalho Decente, Fórum Lixo e Cidadania e Fórum de Erradicação do Trabalho Infantil.
Em relação às normas, houve a participação de técnicos na primeira revisão da NR 18 – SST na Indústria da Construção; na Comissão Regional do Setor Mineral (CRSM) cujo objetivo principal era acompanhar a implementação da nova redação da NR 22 – Segurança e Saúde Ocupacional na Mineração (2001); na Comissão Permanente Regional Rural – NR 31 (2013); no GTT da NR 20 – SST com Inflamáveis e Combustíveis, da NR 29 – Segurança e Saúde no Trabalho Portuário e da NR 36 – SST em Empresas de Abate e Processamentos de Carnes e Derivados.
¹ Seu primeiro endereço foi na Rua Brigadeiro Franco, 1.438.
Fonte - Fundacentro: Meio século de Segurança e Saúde no Trabalho