História
A criação da unidade da Fundacentro em Campinas foi anunciada na Reunião Ordinária do Conselho Deliberativo, de 26 de janeiro de 1984, que aprovou a decisão. O objetivo era ampliar as atividades prevencionistas no interior do estado de São Paulo, principalmente nas regiões de grande concentração industrial. As atividades começaram em agosto de 1984 sob a direção do engenheiro Osvaldo Mitsufo Oushiro.
Um intenso trabalho no setor da construção civil marcou as ações da unidade em Campinas na década de 1980, com o envolvimento dos sindicatos de trabalhadores e de empregadores. Além de curso de capacitação em SST para o Sindicato do Trabalhadores nas Indústrias da Construção e Mobiliário de Campinas e Região, utilizava-se uma unidade móvel de ensino para realizar palestras nos canteiros de obra.
“O trabalho não se limitou a Campinas e cidades vizinhas, mas se estendeu a regiões afastadas, como Ribeirão e São José do Rio Preto”, recorda o então chefe da Fundacentro Campinas em 2016, Álvaro Ruas. A indústria da construção continua em foco na unidade, com a participação no CPR de Campinas.
Nos anos 1990, a Fundacentro Campinas participou da avaliação da concentração de sílica em cerâmicas na cidade de Pedreira/SP. O objetivo era verificar a possibilidade de retorno ao trabalho de funcionários afastados por terem contraído silicose. Assim foram realizados, na regional, centenas de exames médicos de provas de função pulmonar em trabalhadores de empresas das cidades paulistas de Pedreira, Salto, Itu e Leme.
Outro projeto da época desenvolveu roupa adequada às regiões de clima quente para proteger o trabalhador na atividade de pulverização de pesticidas agrícolas. Buscava-se a proteção contra respingos e névoa agrotóxica. Esse estudo teve a participação de profissionais de empresas privadas e resultou no desenvolvimento de uma vestimenta com característica de repelência à calda agrotóxica e à água, confeccionada com tecido 100% algodão tratado com Teflon. Com a disponibilização das informações desse trabalho, empresas privadas começaram a produzir roupas similares para essa finalidade.
Entre 2000 e 2010, os profissionais da Fundacentro Campinas desenvolveram três teses de doutorado, que resultaram em dois softwares e três livros: “Conforto térmico nos ambientes de trabalho”, “O ruído nas obras da construção civil e o risco de surdez ocupacional” e “Estimativa de exposições não contínuas a ruído”.
Os dois últimos resultaram da pesquisa “Estimativa de exposições não contínuas a ruído: desenvolvimento de um método e validação na construção civil”, que desenvolveu um procedimento para obtenção de índice representativo da real exposição ao ruído ocupacional de trabalhadores que sofriam variação diária desses níveis. O método foi validado na construção civil e gerou o software “Noise 1.0”, que está disponível no portal da instituição.
O software “Conforto 2.3”, resultado da tese “Sistematização da avaliação de conforto térmico em ambientes edificados e sua aplicação num software”, também está disponível no portal e possibilita a simulação de intervenções nos ambientes para melhoria da sensação térmica.
Por fim, a tese “Vida de cão: o trabalho dos motoristas de caminhões que transportam combustíveis da cidade de Paulínia- -SP” avaliou as condições de trabalho desses profissionais. Para tanto, realizou levantamento socioeconômico, análise da organização de trabalho das empresas que operam esse tipo de transporte, identificação das representações desses trabalhadores sobre o trabalho e a relação trabalho-saúde-doença, além de avaliar material informativo sobre saúde e segurança dos caminhoneiros.
Ainda nos anos 2000, realizou-se um estudo sobre a exposição ao calor e ao ruído de operadores de tratores agrícolas com cabine aberta e cobertura metálica, no qual se fez propostas para a melhoria das condições de trabalho encontradas, que foram apresentadas para trabalhadores e empregadores. Outro estudo focou o setor de pesca artesanal profissional, traçando o perfil socioeconômico dos pescadores de águas interiores do estado de São Paulo e levantando as condições de trabalho, os riscos de acidentes e de doenças ocupacionais.
Nos últimos cinco anos, o trabalho de pesquisa da Fundacentro Campinas foi direcionado para o problema da sobrecarga térmica nos trabalhos a céu aberto, principalmente na área rural. Nesse contexto, a unidade desenvolveu o software Sobrecarga Térmica, que obteve registro no Instituto Nacional de Marcas e Patentes (INPI) e está disponível no site da Fundacentro.
Ele permite monitorar a exposição do trabalhador à sobrecarga térmica nas atividades a céu aberto em todo território nacional por meio da estimativa do Índice de Bulbo Úmido-Termômetro de Globo (IBUTG), calculado com dados meteorológicos do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A ferramenta também fornece a taxa metabólica média dos trabalhadores e informações relativas às medidas de prevenção e controle, entre elas, o critério de trabalho/descanso.
“A origem do software, justamente, se deu por uma reunião com membros do Ministério Público solicitando ajuda para evitar as mortes de cortadores de cana-de-açúcar devido à exposição à sobrecarga térmica”, explica o engenheiro Paulo Maia, servidor atualmente aposentado da Fundacentro. “O software está sendo utilizado por centenas de usuários e em monografias de fins de curso, mestrados e doutorados e em pesquisas sobre estresse térmico em várias instituições do país”, completa.
Em 2015, o software foi utilizado para a realização de outra pesquisa na unidade, a dissertação de mestrado “Risco de exposição à sobrecarga térmica para trabalhadores da cultura de cana-de-açúcar no estado de São Paulo”. Nesse estudo, foi feita a quantificação espacial do risco de sobrecarga térmica a que esses trabalhadores estão submetidos, utilizando-se o software para obter o IBUTG estimado dos últimos quatro anos.
Fonte - Fundacentro: Meio século de Segurança e Saúde no Trabalho