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Último dia do Seminário Internacional de Política para as Artes debate a memória e o legado coletivo das artes
Seminário Internacional de Política para as Artes: Imaginando Margens - tema “Memória das artes como legado coletivo” - foto: Felipe Iruatã
O terceiro e último dia do Seminário Internacional de Política para as Artes: Imaginando Margens, realizado pela Fundação Nacional de Artes - Funarte, em parceria com o Ministério da Cultura e o Sesc São Paulo, abordou em sua primeira parte, realizada na manhã desta quinta-feira (19), o tema “Memória das artes como legado coletivo”. O evento acontece no Sesc 14Bis, em São Paulo.
Seguindo o processo de construção do Seminário, inspirado no fluxo das águas doces e no delicado equilíbrio que mantém esse fluxo vivo, a primeira parte do terceiro dia continuou à “Beira do Rio”, para falar sobre “Memória das artes como legado coletivo”.
Vivendo revisões profundas, os debates contemporâneos sobre direito à memória escancaram apagamentos, colocando em disputa as próprias noções de acervo e patrimônio, intencionando o convívio da oralidade, da digitalidade e da inteligência artificial no atravessamento de tempos. Cada acervo de artista extrapola o âmbito privado e carrega as ressonâncias de um tempo para a arte e para o país, constituindo uma coleção de vestígios e suportes de interesse público e ressaltando o valor coletivo de sua proteção.
A primeira mesa do dia foi composta pela musicista e diretora Geral do Museu Itamar Assumpção, Anelis Assumpção; pela Produtora cultural, pesquisadora e empreendedora, Ionara Silva e pela Curadora, mestre em Antropologia Visual, Karen Bernedo, do Peru. A mediação foi realizada por Daniele Ávila Small, artista de teatro, crítica e curadora.
A produtora cultural, pesquisadora e empreendedora, Ionara Silva abordou a questão das tecnologias digitais frente às memórias e acervos e falou sobre a importância de discutir a normatização da interferência desses meios em nossos patrimônios. “É importante a gente começar a pensar no uso das tecnologias generativas nas artes e discutir o que é e o que não é autoria, discutir eticamente e artisticamente como utilizar tecnologias no processo criativo. Não podemos ignorar essa realidade. Outra coisa importante é que os artistas possam em vida dizer o que querem e como querem que lidem com seus acervos. O Brasil tem a lei geral de proteção de dados, que já é um passo importante para conseguir lidar com essas questões, mas ainda precisamos definir se precisamos de normas ou um conjunto de leis para definir como as tecnologias digitais nesse progresso”.
Anelis Assumpção, musicista e diretora Geral do Museu Itamar Assumpção, levantou a questão da falta de apoio para organizações novas e pequenas, por parte do setor público, para que os trabalhos cheguem a mais pessoas. “Eu tenho um museu negro, racializado, tentando construir e atender milhares de questões, para além do objetivo do museu, que é a preservação de uma memória específica. Mas esse museu é uma ONG, um instituto, que tem uma equipe pequena, muitos deles voluntários. Nós só conseguimos executar projetos através de patrocínio. Não temos apoio de poder público nenhum. Só patrocínio pela iniciativa privada e pela lei de incentivo da Lei Rouanet. Do ponto de vista jurídico social ainda somos muito novos, apenas quatro anos e isso nos impede de ter mais apoio. E sendo assim, dependemos quase que totalmente do voluntariado para nos manter”.
A curadora e mestre em Antropologia Visual do Peru, Karen Bernedo, falou sobre as dificuldades de criar e manter memórias em seu país, devido a questões públicas e em como é importante discutir o modo de arte. “Não é possível em uma política pública para a arte sem democracia. Essa conversa que estamos tendo aqui, discutindo todas essas questões ao longo desses três dias, é impossível no Peru, porque o governo não permite. Nós não estamos disputando agendas com o Estado, disputando com o governo. Não é um favor que eles nos fazem, nós pedimos os nossos direitos. No Peru foi instalada a ideia de que a cultura é um privilégio, que a cultura não é um direito. E ver essa experiência no Brasil é muito bom, estou muito feliz. Vamos usar de exemplo, mas que também serve para outros contextos na América Latina. Então o legado que estamos construindo agora nessa margem de ação, que deixe esse espaço de margem e atinja mais pessoas”.
Reunindo participantes de todas as regiões do Brasil e de outros seis países, como Bolívia, Canadá, Colômbia, Moçambique, Peru e Portugal, o Seminário Internacional de Política para as Artes: Imaginando Margens é a primeira ação do Programa Funarte de Pesquisa e Reflexão. O encontro de três dias tem promovido um espaço para reflexão e pensamento sobre temas atuais do campo das artes e suas políticas, com ênfase na construção da Política Nacional das Artes, a PNA.