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Publicado o livro 'A produção radiofônica de Deocélia Vianna'
Livro 'A produção radiofônica de Deocélia Vianna' - 2022
O livro A produção radiofônica de Deocélia Vianna, que mostra uma fração do acervo do Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) da Fundação Nacional de Artes – Funarte, foi publicado, em formato digital, no site da instituição, gov.br/funarte.
A obra, organizada pela documentalista e historiadora Caroline Cantanhede, reúne roteiros digitalizados de programas radiofônicos das décadas de 1940 e 1950, escritas pela dramaturga Deocélia Vianna. Foram incluídos no volume textos introdutórios sobre cada programa. A edição está disponível apenas na versão eletrônica (e-book), com download gratuito.
O livro é o primeiro da série Cadernos do acervo Cedoc/Funarte, cujo objetivo é dar visibilidade aos documentos históricos sob a guarda do Centro. A publicação tem como base a curadoria da organizadora, realizada no arquivo pessoal de Deocélia. Disponível no Cedoc, ele contém registros documentais acumulados pela dramaturga, relacionados à sua vida profissional e pessoal. O conjunto integra o Arquivo Família Vianna, juntamente com os arquivos do marido da titular, Oduvaldo Vianna, e de seu filho, de mesmo nome – conhecido como Vianninha. Esse acervo tem como eixo central o trabalho de Deocélia Vianna para o rádio. Inclui, ainda, alguns textos da autora para a televisão, compostos entre as décadas de 1940 e 1960.
Para a obra, Cantanhede selecionou alguns dos roteiros da autora para programas de diferentes gêneros – tais como radionovela e radioteatro –, além de um texto para a TV e do rascunho de um discurso que a roteirista elaborou, para a ocasião em que recebeu o Prêmio Roquete Pinto – 1952. Na escolha do material, a documentalista procurou destacar a variedade dos trabalhos produzidos por Deocélia.
A família da artista participou do projeto, especialmente seu neto, Pedro Ivo Vianna, que escreveu o prefácio.
Acesse o livro no link abaixo.
Deocélia Vianna agora em primeiro plano
Deocélia Vianna escreveu, sozinha ou em parceria, inúmeros textos para teatro, cinema, mídia impressa, rádio e TV, entre os anos 1940 e 1980. A partir de 2006, quando a Funarte concluiu o processamento dos acervos dos Vianna, “alguns estudos e publicações foram produzidos sobre os dois homens da família”, informa Cantanhede. Porém, além do papel de esposa e mãe, Deocélia exerceu importante trabalho de cooperação com os trabalhos do marido e do filho – admitida constantemente, por ambos – sublinha a organizadora. Na visão dela, os estudos sobre os dois autores acabaram por deixar a obra de Deocélia em segundo plano – até mesmo a autobiografia da escritora, Companheiros de viagem (1984), muito utilizada por estudiosos de Vianninha “e, em menor escala”, de “Oduvaldão, como era carinhosamente chamado pelo Filho”.
Amostra do acervo do Cedoc - Funarte
A organizadora da edição explica que, por meio do lançamento, a Funarte deseja “contribuir para a difusão da produção intelectual dessa mulher, importante personagem da dramaturgia brasileira”, bem como “apresentar uma amostra do acervo do Cedoc” – a instituição também preserva inúmeros outros conjuntos documentais, de artistas ligados a muitas linguagens. Segundo o Centro, além disso, o volume transmite um olhar sobre as coleções e arquivos privados que mantém; mostra uma síntese do tratamento dado ao material; e apresenta características de alguns dos documentos que o compõem; ultrapassando aspectos técnicos.
Um registro da Era de Ouro do rádio
Na orelha da publicação,a professora e pesquisadora de história cultural e políticas públicas de cultura Lia Calabre comenta: “O mundo do rádio das décadas de 1940 e 1950 esteve fortemente marcado pela presença das radionovelas, dos radioteatros e das radiodramatizações em geral. Alguns escritores se destacaram nesse campo, mas no caso das mulheres dramaturgas, redatoras e produtoras, esse número era ínfimo. Algumas funções da complexa cadeia de produção radiofônica da Era de Ouro eram ocupadas predominantemente por homens [...].Passear pelos conjuntos documentais que compõem o arquivo dessa escritora nos permite conhecer muito da complexidade, da dinâmica e das estratégias de escrita dos textos ficcionais radiofônicos. [...] A publicização da obra, dos conteúdos presentes nos arquivos de Deocélia e no arquivo do restante da família Vianna, permite nos aproximar desse espaço de construção de imaginários, que foi o rádio dos anos 1940 e 1950...”.
A Gerência de Edições da Funarte e o Cedoc da Fundação consideram que o trabalho de Deocélia é “essencial para a história da dramaturgia radiofônica” no Brasil; e que ações como o projeto do Arquivo Deocélia Vianna são importantes ferramentas de divulgação, levando ao público documentos de grande valor “para o entendimento das artes do País”.
A história de uma família e da radiodramaturgia brasileira
Nascida em 1914, em Curitiba (PR), Deuscélia Requião Reis passou a adotar o sobrenome Reis Vianna, ao casar-se com Oduvaldo Vianna, em 1935. Mas passou a utilizar a grafia “Deocélia”, a partir da década de 1960. Aos sete anos, mudou-se com a mãe, para São Paulo, após a separação dos pais. Na adolescência, precisou trabalhar para ajudar a família, em vários empregos.
Com 19 anos, candidatou-se à vaga temporária oferecida pela Companhia Teatral de Procópio Ferreira e Regina Maura, para datilografar cópias de peças. Em 1933, foi trabalhar na Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT), onde conheceu Vianna, um de seus fundadores – já reconhecido como célebre autor teatral e, depois, como um dos principais dramaturgos brasileiros das décadas de 20 e 30. O dramaturgo a convidou para ser sua secretária. Eles se enamoraram. Mais tarde, ambos residindo no Rio de Janeiro (RJ), eles se casaram, em 1935. No ano seguinte, nasceu Vianninha. Em 1939, eles se mudaram para Buenos Aires (ARG), onde Vianna trabalhou com teatro e cinema, passando a escrever regularmente para rádio, num programa de música brasileira e radioteatro, sobre folclore do País.
Cantanhede explica que, em seguida, vieram as novelas – gênero já de sucesso em diversos países, mas ainda pouco difundido no Brasil, representando, por isso, um nicho a ser explorado –; e que, possivelmente, quando retornou ao país em 1940, Oduvaldo identificou que poderia direcionar sua experiência dramatúrgica para o rádio.
“Ao longo da década anterior, a radiodifusão foi, pouco a pouco, ampliando seu alcance pelo território brasileiro, ao mesmo tempo que diversificava a grade de programas. Se, no seu início, foi idealizada uma função educativa para o rádio, naquele momento já predominavam emissoras com diversas atrações voltadas para o entretenimento”, pontua a documentalista.
Ela também registra que, a partir de 1932, as radiodifusoras estavam liberadas para vender publicidade, o que até então era proibido pela legislação. “Segundo o historiador Antônio Pedro Tota [...], essa mudança colaborou para a profissionalização do rádio e imprimiu uma nova relação com o público, agora entendido como radiouvinte (consumidor de programas e produtos anunciados), e não mais como rádio amador (mantenedor). Também contribuiu para a sua popularização a diminuição dos custos de aparelhos Receptores, que eram muito caros para a maioria dos brasileiros [...] Não à toa, os anos 1940 e 1950 são considerados a ‘era do rádio’ no Brasil, pois diferentes camadas da sociedade, de diferentes regiões, passaram a ter acesso ao que antes estava restrito a poucos [...]”, destaca a historiadora. Assim, acrescenta, Deocélia e Oduvaldo se depararam com emissoras “ávidas por textos para alimentar seus programas”, e manter audiência – determinante para a contratação de bons anunciantes. “Essa cadeia mantinha as engrenagens do rádio em funcionamento”, resume.
“Deocélia colaborou diretamente com o marido, considerado um dos mais produtivos autores do Brasil, com cerca de 123 radionovelas. No entanto, além da importante função de companheira, ela também se notabilizou por construir uma carreira própria, ainda que não tenha se desenrolado de maneira contínua como a de Oduvaldo”, salienta.
“Na década de 1950, o rádio passou a ocupar um papel central na produção cultural e artística do país. A diversificação da programação possibilitou que públicos os mais variados possíveis fossem contemplados, qualquer que fosse o nível socioeconômico, faixa etária e sexo [...]. Até mesmo as rádios se especializaram”, relata, lembrando que a demanda por textos era grande e só aumentava: em 1951, revistas especializadas em rádio já reconheciam Deocélia como “uma das nossas grandes escritoras de novelas radiofônicas”, e que “ela e o esposo foram responsáveis por produzir diversas novelas de sucesso”.
“A maior parte das obras escolhidas para compor este livro se localiza justamente nesse período, [...] quando Deocélia desenvolveu sua carreira para o rádio de maneira mais contínua e solo, chegando, inclusive, a receber o Prêmio Roquete Pinto como melhor redatora de programas femininos de 1952”, explica.
Em 1964, na Rádio Nacional, Vianna foi afastado de suas funções, por motivos políticos. A partir de então, o casal não encontrou mais espaço para a divulgação de seus trabalhos. Logo após a morte de Oduvaldo, em 1972, “Deocélia retornou ao trabalho com as novelas para o rádio, atualizando-as e vendendo-as para emissoras de todo o país”, comenta Cantanhede; e acrescenta que, no ano seguinte, Vianninha iniciou tratamento contra câncer no pulmão, doença que causou-lhe a morte, em 1974.
“Provavelmente em decorrência da diminuição do interesse do público pelas novelas radiofonizadas, já que a teledramaturgia se encontrava em franco desenvolvimento nesse momento, a novelista começou a escrever textos para fotonovelas publicadas pela revista Amiga”, argumenta a historiadora. Em 1984, Deocélia publicou seu livro de memórias, Companheiros de viagem, último tributo à sua família.
Os arquivos
Em 1982, Maria Lúcia Lousada Marins, viúva, e, em 1987, Vinícius Vianna, filho mais velho de Vianninha, doaram à extinta Fundação Nacional de Artes Cênicas (Fundacen) – uma das antecessoras da Funarte –, algumas obras do autor e mais de mil textos de Oduvaldo e Deocélia. Isso inclui 123 radionovelas de Vianna, 20 delas em coautoria com a esposa – sem contar radioteatros “unitários” –, além de outras onze, redigidas exclusivamente por Deocélia.
Desde 2006, o arquivo da escritora compõe, juntamente com os itens, produzidos por seus familiares (o que inclui documentos pessoais), o Arquivo Família Vianna. Ele foi disponibilizado para o público, assim como os conjuntos documentais de cada autor. Apesar de apresentarem interrelações e estarem reunidos sob um mesmo título, cada um dos arquivos foi organizado segundo suas características próprias e de seus respectivos titulares.
A organizadora
Caroline Cantanhede Lopes é servidora de carreira, documentalista do Cedoc – Funarte desde 2006. Graduada em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) – 2005 –, cursou especialização em História do Brasil Pós-1930 na Universidade Federal Fluminense – UFF. É mestre em História, Política e Bens Culturais pelo Cpdoc/FGV e doutora em História pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), além de graduada em Arquivologia na Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2016, organizou o livro Arquivos e coleções privados Cedoc/Funarte: guia geral, edição da Funarte.
Série Cadernos do acervo Cedoc/Funarte
Livro
A produção radiofônica de Deocélia Vianna
Edição Funarte
Organizadora: Caroline Cantanhede
285 páginas
Formato digital (e-book)
Download gratuito no site da Funarte, neste link.
Mais informações: edicoes@funarte.gov.br