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Livro 'Para Ouvir o Samba: Um Século de Sons e Ideias' é lançado pela Funarte com show
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Esqu.: Luis Filipe de Lima. Dir.: Pedro Miranda. Foto: Nadejda Costa.Teatro Dulcina - 17/3/2022
A Fundação Nacional de Artes – Funarte lançou a edição Para Ouvir o Samba: Um Século de Sons e Ideias , d o violonista profissional, compositor, arranjador, professor e produtor musical Luís Filipe de Lima, no dia 17 de março, quinta-feira, no Teatro Dulcina – espaço da Fundação, situado no Centro do Rio de Janeiro. O autor, acompanhado pelo compositor e cantor Pedro Miranda, apresentou um pocketshow, com entrada franca, no qual tocaram e narraram um pouco da história do samba. A ação integr ou a Mostra Bossa Criativa Arte de Toda Gente, fruto de parceria da Funarte com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
“ O samba é uma árvore frondosa, com raíz e s profundas e muitas ramificações”, resumiu o instrumentista . É essa anatomia do gênero, além de sua história, que ele explica no volume, considerado um eficiente manual para entender o samba urbano carioca.
O show reuniu músicas que deram vida aos principais trechos do livro, entremeadas de partes das histórias, que o texto também registra. O estudioso se apresentou ao violão e seu parceiro cantando e tocando pandeiro e tamborim. Em seguida, houve a sessão de autógrafos. Estiveram presentes vários outros músicos e compositores, especialmente do samba; outros reconhecidos pesquisador es de música popular; além d as direções dos centros da Música e de Artes Cênicas da Funarte; coordenações da entidade , como a de música popular; e a Gerência de Edições; acompanhados por servidores de diversos outros setores da Fundação.
O livro já pode ser adquirido em todo o Brasil, através d a Livraria Mário de Andrade (Funarte), por e-mail . A Mostra Bossa Criativa, ainda em cartaz, com atrações presenciais e on-line, integra o Programa Arte de Toda Gente – realizado pela Funarte e pela UFRJ, com curadoria da Escola de Música da Universidade. Acesse abaixo mais informações sobre essa iniciativa, e sobre edições anteriores da Fundação.
O samba conta sua própria trajetória e histórias
“ O samba urbano do Rio de Janeiro é resultado de uma mistura de muitos 'sambas rurais', como também de um substrato do que já existia no panorama d a cidade – como o batuque, o lundu, a modinha, e o maxixe (parente próximo do choro). O samba carioca vai acontecendo meio aos poucos: primeiro vem o samba maxixado, depois o do Estácio e o samba-choro. A partir de ste , o de breque, o de gafieira, uma certa linha de samba-exaltação e os demais”, resumiu Luís Filipe de Lima.
O show começou com Pelo Telefone , sempre citado como “o primeiro samba gravado” - fato que foi refutado pelo músico . “ F oi, na verdade, o p rimeiro samba de sucesso, que projetou o gênero. M as, n a verdade, houve cerca de 20 títulos da mesma época, entre eles três ou quatro que podem te r sido os primeiros”, informou o violonista , que interpretou alguns deles, como : Quando a mulher não quer (1910) – compositor ignorado, gravado por Artur Castro e depois por Orlando Silva.
Foto: Nadejda Costa
Do Estácio ao samba-choro e ao “samba sincopado”
Em seguida, a dupla mostrou composições representativas do que o autor chamou de “samba do Estácio”, acompanhadas por instrumentos inventados na época dessa modalidade, como o tamborim, por exemplo. Foi na batida dele que Pedro Miranda interpretou Se você jurar (1931), de Ismael Silva, Nilton Bastos e Francisco Alves).
O pesquisador passou a comentar sobre o samba-choro, que se originou na Capital Fluminense, na década de 1870. “A levada do pandeiro era diferente, menos quebrada, mais reta”, ensinou, enquanto seu parceiro mostrava isso ao vivo. Luís Filipe acrescentou que, à época, a melodia do choro começou a influenciar a do samba. Explicou ainda que, nos anos 1930, instrumentistas de samba passaram a acompanhar cantores famosos no rádio – obviamente, a mais forte mídia de divulgação musical, naquele tempo. Para ilustrar, os artistas tocaram Conversa de Botequim (1935) de Noel Rosa e Vadico – talvez a mais celebrada criação nesta vertente.
Falando sobre o “samba sincopado” o instrumentista e seu parceiro deram breve esclarecimento sobre a noção musical de “síncope” (o uso de sons em “tempos fracos” dos compassos e prolongado nos “tempos fortes” seguintes). “Todo samba é sincopado. Mas nesse, em especial, a acentuação é bem maior”, sintetizou Luís. Para demonstrar, Pedro Miranda puxou Hello my girl (2009) , que ele mesmo gravou, de Silvio da Silva.
O samba-exaltação, o de terreiro e o gênero nas agremiações
A o expor sobre o samba-exaltação, o acadêmico observou que há três tipos de expressões dess a sublinguagem : “ a ufanista, nacionalista – como Aquarela do Brasil (1939 - Ary Barroso), Brasil Pandeiro [ 1941 - Assis Valente ] , Bahia com H [ 1947 - Denis Brean ] ; o sambas-exaltação de terreiro, produzido nas escolas de samba, que aclamam a comunidade; e os que louvam o próprio gênero – como nos versos : ' Samba , quando vens ao meus ouvidos / Embriaga meus sentidos...' [ Apoteose ao Samba ( 1957 ) - Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola]”, enumerou .
“ Já havia sambas de terreiro nos anos 20 e 30”, disse o autor, comentando também que, nesta segunda década, já começaram alguns sambas-enredo, feitos para os ranchos. Disse que esses antecessores das escolas de samba já tinham elementos utilizados por estas, como enredo, estandartes e outros. “A maioria usava marcha; mas alguns, samba. As escolas provavelmente começaram como ranchos que tocavam sambas” avaliou. Assim, o samba-enredo teria origem no samba de terreiro – que teria sua consolidação do final dos anos 1940 até a década seguinte. “Ele passou a ser chamado 'samba de quadra'. Mas já havia desfiles desde 1932. Em 1946, o samba-enredo passou a ser quesito obrigatório”, acrescentou.
Falando sobre samba de terreiro, o músico citou como fonte o repertório das velhas guardas das escolas. Para exemplo, os artistas tocaram Água do Rio (1961) , de Noel Rosa de Oliveira – não o Noel da Vila mas o mestre salgueirense –, que compôs a obra, com Anescarzinho do Salgueiro. Como típico samba-exaltação, mas também de enredo, interpretaram Exaltação a Tiradentes ( 1973).
Do samba canção à MPB, passando pela bossa-nova
O pesquisador apontou que o samba-canção veio do estilo denominado “canção brasileira”, que seria derivado, principalmente, do schott. Descreveu fases do samba-canção, desde a era Lupicínio Rodrigues – apresentando como música emblemática No Rancho Fundo (1931 – Ary Barroso/Lamartine Babo) – que muitos nem percebem ser samba –, até chegar às composições com levadas mais jazzísticas, as quais estariam, segundo o autor, inclusive, na origem da bossa-nova – linguagem que o duo também exemplificou. Luís Filipe c omentou que houve polêmica sobre se o estilo seria ou não de fato samba – mas que Tom Jobim e outros afirmavam que sim – considerando que “bossa-nova” foi um termo utilizado por crítica e público, para definir o então inovador modo de tocar e cantar.
O violonista comentou sobre o samba na MPB, dizendo: “Ela não é um gênero, mas um movimento, que abraça vários gêneros, já sedimentados e os combina”, agregando-se também com estilos estrangeiros e tradicionais – como o próprio samba. De acordo com o autor, desde a era dos festivais – cujo auge foi, aproximadamente, de meados da de 1950 até a metade dos anos 70 – teriam surgido compositores na MPB que faziam samba. “Porém, nos cursos que dou sobre história do samba provoco: eles são sambistas ou não? Digo que não. Sambista é quem pertence a uma comunidade que produz o gênero. Por exemplo: Nei Lopes”. Para ilustrar a MPB-samba, puxou Deus Dará (1972 – Chico Buarque de Hollanda).
Samba de raiz, partido-alto, pagode e novas formas
O professor t ambém falou do samba de raiz, que chamou de “samba pós- MPB ”. C onhecid a como uma categoria que resgata as origens do gênero, esse estilo estaria personificado em vários músicos de MPB, os quais , de fato, partiram para uma conexão com sambistas e composições tradicionais – como Cartola, Nelson Cavaquinho e outros. Isso teria começado nos anos 1970. “São nomes como Paulinho da Viola, Martinho da Vila Clementina e D. Ivone Lara”, elencou . “Nessa época, também foram lançadas muitas gravações das velhas-guardas das escolas; e também surgiu o partido-alto. Ele é, ao mesmo tempo, uma raiz e um ramo do samba”, sintetizou. “Sua l evada é específica”. Para ilustrar o tema, os músicos tocaram Moro na Roça , registrado em 1972 por Xangô da Mangueira e Jorge Zagaia, como “adaptação” do repertório popular tradicional*.
O estudioso lembrou ainda que, em meados dos anos 1980, apareceu o pagode. “Ele representa uma manifestaçâo da continuidade da cultura afrodescendente no samba”, considerou, diferenciando o subgênero de outros, que estariam mais impregnados de raízes portuguesas e estrangeiras – a exemplo da bossa-nova. Destacou a reverberação nacional que o do samba adquiriu a partir da difusão midiática do pagode. Apontou, ainda, novas influências que o samba tem incorporado, como a música sertaneja e outras.
Como exemplo da produção de samba mais recente, Pedro Miranda mostrou uma nova composição sua, ainda sem título, cujo tema é a Mata Atlântica e a proteção ao meio-ambiente. O show terminou com o samba-enredo-exaltação Eu sou o Samba ( Zé Keti – 1955) .
A importância da pesquisa e do show
Ao final do evento, Luís Filipe agradeceu a toda a equipe Arte da Toda Gente e da UFRJ, coordenadora e produtora do programa; e à Gerência de Edições da Funarte – que, por sua vez, manifestou gratidão a todos os outros setores da Fundação que colaboraram.
Pedro Miranda comentou que o livro Para Ouvir o Samba explica essa linguagem e colabora para sua divulgação. “ É muito importante que público possa, de fato, saber e conhecer melhor o que ouve. Ótim o projeto da Funarte. Ninguém melhor para ele do que o Filipe, que transitou por vários subgêneros e também é muito ilustrado academicamente: e le é da roda de samba mas também da academia, fazendo essa ponte entre elas”. A dupla pretende realizar novos shows semelhantes, continuando a divulgação d a obra.
P resentes ao evento, re presentantes do bloco carnavalesco Simpatia é Quase Amor consideraram excelente as iniciativa s da Funarte de lançar o livro e de fazer um show. “ Elas fortalecem, divulgam e destacam a cultura brasileira, contando a história do samba, por meio de um músico e estudioso como Luís Filipe – que sabe tudo sobre o tema; e é parceiro, desfila e toca no bloco”, comentaram.
O autor comemora: “ O samba é um dos pilares da identidade cultural brasileira. Lançar e divulgar um livro que trata do assunto é iniciativa bastante oportuna da Funarte. Se considerarmos a fundamental importância do samba, podemos reconhecer que os títulos publicados sobre ele e seu universo são relativamente escassos – apesar do interesse permanente em torno do tema. Costumamos encontrar, em livrarias argentinas, estantes inteiras sobre o tango. Nas portuguesas, o fado ocupa lugar de honra. Sobre a música norte-americana, nem é preciso comentar. Investir na produção de saberes sobre o samba, portanto, é, naturalmente, o objeto de uma política cultural atenta e consequente.”.
Na imagem, Luís Felipe de LIma. Foto: Nadejda Costa
Leia mais aqui sobre o
livro
Para Ouvir o Samba
Para adquirir o livro, em todo o Brasil, envie e-mail para: livraria@funarte.gov.br
Preço: R$40
* Registros históricos de músicas com o título Moro na Roça , foram encontrados antes de 1972, mas não o acesso a todas as letras.
Música, Artes Integradas