Notícias
Música, piano, Nelson Freire, Funarte
Funarte lamenta a morte de Nelson Freire, um dos melhores pianistas do mundo
Pianista Nelson Freire (1944 - 2021). Foto: rede social do músico
O piano do brasileiro Nelson Freire, considerado como um dos melhores intérpretes do instrumento no planeta no século XX, silenciou neste dia 1º de novembro, segunda-feira. A Fundação Nacional de Artes – Funarte lamenta profundamente essa perda para a música mundial. O artista mineiro faleceu aos 77 anos, em sua casa, na Barra da Tijuca – Rio de Janeiro. A causa da morte não havia sido revelada, até o momento desta edição.
O repertório predileto de Freire era o de estilo romântico. Ficaram célebres suas gravações notáveis de Schumann, Chopin e Brahms. Mas não se esqueceu da música brasileira, tendo executado e gravado obras de Villa Lobos, Camargo Guarnieri e Henrique Oswald – por exemplo, no álbum Brasileiro - Villa Lobos & Friends, que ganhou o Grammy Latino (melhor álbum de música clássica) de 2013. Mas, ganhou muitas outras honrarias, entre prêmios, condecorações, menções honrosas e distinções. Elevou o nome do Brasil na imprensa internacional, ao longo de toda a sua carreira. Por exemplo, a revista norte-americana Time lhe deu o título de “um dos maiores pianistas desta ou de qualquer outra geração”.
Nelson José Pinto Freire nasceu em Boa Esperança (MG) em 18 de outubro de 1944. Conheceu o piano aos três anos de idade, vendo sua irmã tocar, e já começou a dedilhar. Ao perceber o talento do menino, seus pais se mudaram para o Rio de Janeiro, dois anos depois. O prodígio logo começou a estudar, com as professoras Nise Obino e Lúcia Branco. Em 1957, com 12 anos, ele foi o mais jovem entre os 47 participantes de um concurso internacional de piano, realizado na Capital Fluminense. no Rio de Janeiro um. Ficou em nono lugar e foi considerado uma grande revelação, ganhando uma bolsa do Governo Federal (Juscelino Kubitchek) para estudar em Viena, Áustria. Esse fato marcou o início da carreira de Freire na Europa. Aos 19 anos, ele ganhou o primeiro lugar no Concurso Internacional Vianna da Motta, em Lisboa, Portugal. Com 24 anos, fez sua estreia na Orquestra Filarmônica de Nova York (EUA). Voltou ao Brasil em 1962.
Ao longo da carreira, o músico apresentou-se nas maiores cidades da Europa e dos Estados Unidos, com algumas das orquestras mais fortes do mundo – tais como as filarmônicas de Berlim e Munique (Alemanha) e Rotterdam (Holanda); e, na Inglaterra, a Sinfônica de Londres e a Filarmônica Real (Royal Philharmonic Orchestra), com a qual realizou várias turnês internacionais. Nessas formações orquestrais, trabalhou com os mais conceituados maestros dos anos 1900 e início deste século, tais como Pierre Boulez, Kurt Masur, André Previn, Rudolf Kempe e o brasileiro Isaac Karabtchevsky.
Em 2016, recebeu o título de Doutor Honoris Causa, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Participou de inúmeras produções fonográficas, com repertórios de Chopin, Schumann, Brahms Beethoven e muitos outros compositores. A discografia de Freire registra sua primeira participação em disco em 1968*. O site discogs.com documenta a participação do músico em 66 gravações. O último CD do artista foi Encores (2019).
Esse virtuose do piano mundial foi tema de um filme, Nelson Freire, de João Moreira Salles – prêmio de Melhor Documentário no Grande Cinema Brasil 2003.
Nelson Freire era muito discreto, falava muito pouco aos meios de comunicação. Era considerado tímido. Há dois anos, caiu e fraturou o braço direito; foi operado, mas não voltou a tocar – informa O Globo.
O diretor do Centro da Música da Funarte, Bernardo Guerra, comentou: "Conhecemos bem o Nelson e convivemos bastante com ele. Foi um dos maiores músicos do mundo. Era simples, modesto e reservado. A música brasileira chora muito hoje, juntamente com os artistas e público de todo o mundo. A Funarte agradece a esse gênio dedicado, que engrandeceu o Brasil, nos vários países em que levou seu desempenho de perfeição". Entre muitos outros colegas músicos, amigos e fãs do pianista que lamentaram sua morte está o diretor da Sala Cecilia Meireles, da Fundação Anita Mantuano de Artes do Estado do Rio de Janeiro (FUNARJ), João Guilherme Ripper. Ele declarou a O Globo: "Perdemos nosso grande pianista, um artista generoso e genial! [...] Com Nelson, desaparece mais um pedaço daquele Brasil que encantou o mundo”. O maestro e pianista João Carlos Martins disse ao jornal que o mundo perdeu "o maior pianista da atualidade", que “dignificou o Brasil em todos os continentes”. O pianista francês Philippe Cassard, a cravista e pesquisadora musical Rosana Lanzelotte, o crítico e jornalista Nelson Motta, o documentarista João Moreira Salles também se pronunciaram, entre muitas outras personalidades das artes e do mundo da cultura em geral.
O piano de Nelson Freire se cala para sempre. Mas o legado desse músico ressoará eternamente.
Em seu programa de rádio Estúdio F, a Funarte homenageou o grande pianista. Acesse a página aqui.
Leia aqui mais informações sobre a carreira de Nelson Freire (original em inglês).
Com informações do Jornal O Globo, do site oficial de Nelson Freire, www.discogs.com, *www.imdb.com e www.deccaclassics.com