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Espaço da Funarte no RJ recebe espetáculo multilinguagem 'Atraque'
Espetáculo ‘Atraque’ - foto: Gean Carlo
A Fundação Nacional de Artes – Funarte, apresenta, de 20 a 23 de junho, o espetáculo de artes integradas Atraque, no Teatro Cacilda Becker, no Rio de Janeiro (RJ). Com a proposta de refletir a cultura “ballroom”, o trabalho desafia convenções e celebra as diversidades de gênero e étnica, mesclando dança contemporânea, performance e moda. O projeto que foi contemplado no Programa Funarte Aberta tem apresentações gratuitas, de quinta-feira a sábado, às 19h, e às 18h.
O projeto, que reúne artistas trans, conhecidos no movimento cultural “ballroom” no Rio de Janeiro, celebra o mês do orgulho lgbtqiapn+. A mensagem da peça é transmitida com técnicas elaboradas pelas próprias performers, Wallace Ferreira e as integrantes do coletivo House of Mamba Negra. Elas trabalham com o que denominam “incorporação, inscrição, recriação e transmissão” de poses e gestos, “operando variações para contornar qualquer tentativa de captura”.
O foco da iniciativa, que une no palco, elementos de várias linguagens artísticas, é “investigar os princípios históricos, estéticos, comunitários e de disputa” da “ballroom” e do “vogue” – movimentos culturais de reafirmação de identidades de gêneros e sexualidades lgbtqiapn+, negras, latinas e periféricas. A obra tem também como foco tensionar os limites entre as expressões de moda, dança contemporânea, performance e audiovisual, rearticulando coreografias de violências codificadas e legitimadas historicamente.
“Balroom” e “vogue”
Uma das manifestações lgbtqiapn+, a cultura “ballroom” é definida como um movimento “underground”, afro-americano, preto e latino. Ele é considerado relevante na luta social pela diversidade. Envolve as artes e o posicionamento político de afirmação de gênero, sexualidade e etnia. Caracteriza-se pela espontaneidade e liberdade de expressão. Nasceu nas periferias dos Estados Unidos e, aos poucos, foi ganhando a mídia. Hoje, é considerado também parte da cultura pop, mas mantém seu aspecto de resistência cultural. Já o “vogue” é algo mais específico: é uma dança com movimentos semelhantes a poses de modelos de passarelas – muitas vezes com caráter competitivo.
Levando a manifestação ao grande público
As realizadoras observam que, apesar de essas expressões culturais terem passado por intensa divulgação midiática, desde a sua formação, abrigam uma comunidade ainda considerada como gueto, com práticas e dinâmicas grupais desconhecidas do grande público. A atenção que o projeto lança sobre o movimento “balroom” se deve ao fato de que este é formado por uma comunidade performática ainda fora do foco das instituições de políticas públicas; e que carrega “várias questões identitárias de gênero, raça e sexualidade” e de relações de poder e controle.
“A peça foi sonhada e construída por pessoas que vivem diariamente a realidade ‘Ballroom’. Mais do que um estilo ou modalidade artística, essa é a nossa vivência. Portanto, o que está em cena reflete a história artística dessas pessoas. Somos artistas com trajetórias diversas e é na cultura ‘Ballroom’ que as nossas histórias se encontram”, destaca Patfudyda, diretora artística do projeto. Nomeado a partir de uma gíria popular, cujo significado remete à intensidade do confronto entre corpos – seja em sentido de disputa ou afetivo – Atraque não se limita a um mero espetáculo: é um terreno fértil de experimentação, transgressão e, acima de tudo, resistência. A proposta é revelar a beleza da individualidade e da criatividade humanas, por meio de movimentos únicos e pessoais.
“O que nos move nesta peça é a vontade de criarmos outras narrativas para nossos corpos, que se esquivam das que já são estão impregnadas no imaginário popular sobre pessoas trans. Celebraremos nossa existência juntas em cada sessão desta temporada e das próximas [...]. Estaremos a cada dia dispostas a aproximar o universo ‘Ballroom’ da arte contemporânea, entendendo que mais do que um grande movimento artístico, ele é também uma possibilidade de vida”, conclui a diretora.
House of Mamba Negra
A House of Mamba Negra é um coletivo interestadual de cultura “ballroom” criado em 2019. Com atuação em quatro capitais, Brasília, Goiânia, São Paulo e Rio de Janeiro, é liderada por pessoas trans em cada uma das cidades. Reúne hoje cerca de 50 integrantes, com interesses em pesquisa e formação em áreas como artes visuais, performance, moda, audiovisual, música, educação e produção cultural. A equipe que compõe o projeto Atraque e a House of Mamba Negra já desenvolveram trabalhos no Festival Panorama; na Escola de Artes Visuais do Parque Laje; no Galpão Bela Maré; nos museus de Arte do Rio (MAR), do Amanhã e da Língua Portuguesa; no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – RJ, no Sesc – SP; Organização das Nações Unidas (ONU), no ImPulsTanz e em grandes empresas.
"Atraque é um projeto realizado pela House of Mamba Negra e apresentado pelo Governo Federal, Ministério da Cultura e Governo do Estado do Rio de Janeiro - Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Paulo Gustavo’.
SERVIÇO:
“Atraque”
Data: 20 a 23 de junho
Horário: Quinta sexta e sábado, às 19h | Domingo às 18h
Local: Teatro Cacilda Becker, Rua do Catete, 338, Catete – Rio de Janeiro (RJ)
Ingresso: gratuito, com retirada na bilheteria
Classificação: 16 anos
Duração: 50 minutos
Ficha Técnica
Realização: House of Mamba Negra | Direção geral: Wallace Ferreira / Patfudyda | Produção executiva: Mario Netto / Germanetto | DIreção assistente e preparação corporal: Allenkr Soares | Performance: Idra Maria, Kali, Leona Mamba Negra, Gabe Arnaudin, Laxxota e Shade Arruda | Design e operação de som: Bida Sarô | Figurino: Idra Maria, Kali e Germanetto | Assistência de produção e Adereços: Azre Maria Tarântula Mamba Negra | Violinista: Gabe Arnaudin | Hairstyle: Shade Arruda | Identidade Visual: Renan Graccowvisk / GRCK. Studio | Iluminadora: Dafne Rufino | Redes sociais e assistente de produção: Caduda Mexias | Consultoria de acessibilidade: Larissa Ferreira | Formação de plateia: Nana Rosas | Assistente de produção: Isadora Maria | Parceria: Quafá Produções | Fotos: Atraque - © Gean Carlo