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Conheça sobre a vida de Paschoal Carlos Magno, fundador do Teatro Duse, do TEB e da Aldeia de Arcozelo
Conheça mais da história de Paschoal Carlos Magno (Crédito: Brasil Memória das Artes)
Existem figuras em nossa história que marcam para sempre. Uma delas é Paschoal Carlos Magno (1906-1980), fundador do Teatro do Estudante do Brasil (TEB), do Teatro Duse e criador da Aldeia de Arcozelo (Paty dos Alferes, RJ). Hoje relembramos sua carreira, que teve fim no dia 24 de maio de 1980, tendo passado pelas funções de ator, poeta, teatrólogo, diplomata, produtor, entre outras. O artista é considerado um dos renovadores do teatro brasileiro, sendo responsável pela criação no Brasil da função de diretor teatral e, ter revelado grandes nomes da atuação como Sérgio Britto, Othon Bastos e Sérgio Cardoso.
O início na cultura
Filho dos italianos Nicolau Carlos Magno e Filomena Campanella Carlos Magno, Paschoal nasceu no Catete, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro (RJ), em 13 de janeiro de 1906. Já aos 12 anos fez sua estreia na literatura com o livro de poesias Templos (1918). A publicação é sucedida por Tempo que Passa (1922) e Chagas do Sol (1925). Um ano depois do lançamento de seu último livro de poesias, ele estreou no romance com “Drama da Alma e do Sangue”, o livro chegou a receber menção honrosa pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Ainda em 1926, ele estreou no teatro como ator na peça "Abat-Jour" e, dois anos depois, tornou-se crítico literário para O Jornal.
Fundada em 1929, por Paschoal e Ana Amélia Carneiro de Mendonça, a Casa do Estudante do Brasil (Rio de Janeiro/RJ), foi pensada para promover assistência social aos estudantes sem recursos. Para conseguir financiar o local, enquanto cursava o último ano de direito, ele percorreu sozinho por oito meses o norte do país. Nesses encontros, ele promoveu feiras de livros, conferências e visitou prefeitos, governadores e intelectuais a fim de os convidar para ajudar a Casa do Estudante.
Em 1931, foi a vez de ganhar seu primeiro prêmio teatral, concedido pela ABL, pela peça "Pierrot", apresentada pela Companhia Jaime Costa, no Teatro João Caetano. Na plateia, o então presidente Getúlio Vargas, que o aplaudiu junto ao povo, projetou o jovem artista no cenário cultural. Em 1933, mais uma conquista: tornou-se vice-cônsul em Manchester (Reino Unido) e, logo em seguida, foi para o Consulado Geral, em Londres.
Teatro do Estudante do Brasil
Em 1938, o teatro no Brasil era muito diferente. Não havia a função do diretor artístico, os cenógrafos e figurinistas eram mal valorizados, e o sotaque português ainda imperava nas peças. Foi com a criação do Teatro do Estudante do Brasil (TEB), que Paschoal Carlos Magno começou a sua revolução artística. Inspirado nos teatros universitários europeus, ele ensinava e formava novos profissionais para o teatro e, assim, se deu a estreia com "Romeu e Julieta", de Shakespeare, que ganhou projeção nacional. Durante a Segunda Guerra Mundial, vivendo na Inglaterra, ele publicou o romance Sun Over the Palms (1943), que ganhou elogios de autores como Wells, Gilbert Murray, Clement Dane, Priestley, Macaulay, Robert Lind, Neumann, Yolanda Foldes, Edith Sitwell e outros. A obra posteriormente foi traduzida para o português, espanhol, dinamarquês, entre outras línguas. Três anos depois, a sua peça "Tomorrow Will Be Different" (Amanhã será Diferente, em livre tradução) é representada no Lindsay Theatre, em Londres. A peça ganhou resenhas no Daily Telegraph e também na Evening Standard, que a classificaram como uma “peça brasileira de qualidade”. No mesmo ano, no Brasil, ele assina a coluna teatral do Jornal Democracia e, em seguida, a do Correio da Manhã. Em 1948, o TEB apresenta no Teatro Phenix o clássico "Hamlet", de Shakespeare, lançando Sérgio Cardoso no papel principal. Os críticos da época consideraram a apresentação o maior acontecimento artístico dos últimos cinquenta anos! Nos quatro anos seguintes, ele percorreu vários espaços no Brasil, junto ao TEB, com peças de Shakespeare, Sófocles, Eurípedes, Ibsen, Gil Vicente, Martins Pena, entre outros.
O Teatro Duse
Durante o seu mandato como vereador pelo Distrito Federal, em 1952, em sua própria casa em Santa Teresa, foi inaugurado o Teatro Duse, hoje um espaço cultural da Fundação Nacional de Artes - Funarte, conhecido como o primeiro teatro-laboratório do Brasil. Com 100 lugares, um palco aconchegante e sem bilheteria, só podia frequentá-lo quem fosse convidado. Nos intervalos aconteciam coletas para a cantina dos estudantes do grupo de teatro que atuava. O Teatro Duse lançou atores, diretores, cenógrafos, figurinistas, eletricistas e autores, e obteve prestígio dentro e fora do Brasil. Devido a problemas de viabilidade econômica, em 1957, o Teatro Duse foi fechado, para ser reaberto em 1975 e, posteriormente, ser vendido em 1978. Atualmente, ele é administrado pela Funarte.
Festival Nacional do Teatro de Estudantes
Em 1958, Paschoal Carlos Magno organiza em Recife (PE) o primeiro Festival Nacional de Teatro de Estudantes. A primeira edição reuniu 800 jovens e deu início ao evento que também passou por Santos (SP), Brasília (DF), Porto Alegre (RS), Rio de Janeiro (RJ) e Paraty (RJ). Em 1964, com apoio do então Ministério da Educação e Cultura, ele promove a Caravana da Cultura, que levou 256 participantes, em oito ônibus, seis automóveis, dois caminhões, uma kombi com exposição e toneladas de livros e discos. A Caravana passou pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia, Sergipe e Alagoas, com a participação dos Teatros de Estudantes do Paraná, Brasília e Goiânia. E, ainda, o Quinteto da Villa-Lobos; os grupos de dança da Escola Leda Iuqui; o bailarino Toni Petzhold, e o Conjunto Internacional Gaúcho de Folclore. Foram mais de 274 espetáculos que aconteceram em praças, igrejas, escolas, orfanatos, asilos e colégios.
Aldeia do Arcozelo
Um dos seus mais queridos espaços, a Aldeia do Arcozelo, foi inaugurada em 1965, em Paty dos Alferes (RJ). O lugar é considerado o maior complexo cultural da América do Sul, com uma área total de 51 mil metros quadrados. A Aldeia é um espaço pensado para tornar-se local de repouso para artistas e intelectuais e um centro de treinamento para as diferentes áreas das artes. Em 1971, aconteceu na Aldeia o VI Festival Nacional de Teatro de Estudantes, que contou com a participação de 32 grupos teatrais. O espaço abriga dois grandes teatros: o Teatro Itália Fausta, com capacidade para 1.200 pessoas, e o Teatro Renato Vianna, com capacidade para 240 pessoas. O complexo ainda dispõe de uma sala para récitas musicais, com capacidade para 240 pessoas; uma sala de vídeo com capacidade para 80 pessoas; duas galerias de arte; e uma biblioteca, com cerca de 5 mil livros. A volumosa obra da Aldeia do Arcozelo acaba por consumir o que restava da fortuna de Pachoal Carlos Magno e, em 1978, ele teve de vender a casa onde estava o Teatro Duse para pagar as dívidas. Infelizmente, ainda não foi o suficiente para finalizar os seus sonhos para a Aldeia do Arcozelo.
Com a morte de Paschoal em 1980, que viveu os últimos anos de vida no local, os herdeiros do artista entregaram a Aldeia de Arcozelo à Secretaria de Cultura do Ministério da Educação e Cultura (MEC). Hoje, a Aldeia é um dos espaços culturais da Funarte e está em processo de restauração. O acervo de Arcozelo, com mais de 30 mil documentos, foi doado para o Centro de Documentação e Pesquisa (Cedoc) da Funarte, no final da década de 1990.
Conheça o Acervo Paschoal Carlos Magno no site do projeto Brasil Memória das Artes