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‘Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva’ em curta temporada no Teatro Dulcina
Foto: Ernani Pinho
O espetáculo Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva apresenta-se em quatro sessões no Teatro Dulcina, entre os dias 12 e 15 de dezembro. A montagem saúda um dos nomes ilustres da música brasileira: Ismael Silva (1905 − 1978). O sambista carioca é um dos fundadores da Escola de Samba Deixa Falar – a primeira agremiação, que anos mais tarde se tornaria a conhecida Estácio de Sá. O projeto foi contemplado pelo Programa Funarte Aberta.
Na trama, o personagem-título apresenta uma roda de samba, ambientada no universo da boemia carioca, nas décadas de 20 a 50. Com muitas histórias e músicas e a boa ‘malandragem’, característica do bairro da Lapa, Ismael Silva conta suas aventuras e passeia por fatos importantes da cultura popular e do histórico cenário do Rio de Janeiro da época. Com texto da premiada autora Ana Velloso, o espetáculo reúne três atores, que se revezam, dando vida ao “Professor Samba”: Édio Nunes, Jorge Maya e Milton Filho.
Com muita versatilidade, eles ‘reencarnam’ Ismael Silva e ainda se desdobram em diversas outras figuras, transitando por fatos importantes da sociedade no contexto daquele tempo, onde o samba se renova, resiste, luta contra preconceitos e permanece vivo e forte, tanto tempo após sua saída da Casa da Tia Ciata (1854 – 1924), para conquistar o mundo.
Transformação do samba em um estilo de vida
“A transformação do samba, os blocos de carnaval, a virada para a criação da escola de samba, o pulsar da bateria, a criação da estrutura não só musical, mas de organização daqueles blocos, cordões, a evolução do maxixe para o samba, são sedimentações feitas a partir do envolvimento de Ismael e seus contemporâneos, que transformaram o samba na potência do Rio, num estilo musical que transcende; que é estilo de vida, de cultura, e sociedade; que desenha a figura da malandragem, da cabrocha, da cadência, do que se tornou símbolo não só do território fluminense, mas de um país. Assim como o futebol, o Brasil é a terra do samba, a partir dele e de outros artistas representados na peça”, diz Édio Nunes – que idealizou e dirigiu a montagem, ao lado de Ana Velloso. “É a cultura do povo preto, que foi abraçada, mas este mesmo povo sempre foi colocado de lado”, comenta, acrescentando que histórias como a desse protagonista “merecem ser contadas, cantadas e reverenciadas’’. O ator afirma, ainda, que a peça também é uma forma de chamar a atenção para que a sociedade não se esqueça de nomes tão importantes como o do compositor, que ajudaram a transformar a cultura nacional, “mesmo com o peso do estigma social e racial, batalhas travadas, ainda na atualidade”, complementa.
“Brigar para não cair no esquecimento”
“Professor Samba – Uma Homenagem a Ismael Silva conta a história de um artista, negro, favelado, que mostra que tem talento e que pode ter o espaço dele por merecimento, ser valorizado. Algo não tão distante da realidade atual. É o nosso caso. Somos três artistas pretos, transitamos de maneira multifacetada pela arte. Eu, Jorge e Milton temos uma carreira extensa, com mais de trinta anos, e todos os dias temos que provar que podemos, que somos capazes. Nada vem fácil; nós criamos e produzimos espetáculos; temos outros trabalhos, além de viver da arte, para nos mantermos. Estamos sempre na corda bamba, lutando para nos mantermos de pé, com trabalho e dignidade. Os aplausos acontecem, mas como os sambistas que interpretamos, vivemos a instabilidade, à parte. Para os artistas pretos, a luta é contínua”, argumenta Édio Nunes, pontuando que Ismael e os demais sambistas do passado já travavam a batalha, de “ser” a arte, viver dela e deixar um legado. “Defender a cultura e o pão de cada dia. Brigar para não cair no esquecimento’’, arremata.
Já Ana Velloso afirma que o espetáculo também tem como objetivo provocar uma reflexão sobre a descolonização dos corpos pretos. “Entendemos, Édio e eu, que precisávamos extrapolar o objetivo inicial, de contar a história do sambista do Estácio, um dos criadores da primeira escola de samba. Queríamos traçar um paralelo entre passado, presente e futuro; discutir problemas humanos; enfatizar que corpos negros são corpos políticos, que não podem ser dissociados de sua realidade histórica, social e cultural. Para alcançar esse objetivo, inseri na dramaturgia traços da vida dos atores, que também compõem a cena, ajudando a contar a história de tantos ‘Ismaeis’, artistas brasileiros, negros, que dedicaram suas vidas à construção da nossa cultura”, pontua a autora.
Ismael Silva (1905 − 1978)
Nascido em Niterói, caçula de um cozinheiro e de uma lavadeira, Ismael Silva mudou-se com a mãe e os quatro irmãos para a capital fluminense, após a morte precoce do pai. No Rio Comprido, bairro vizinho ao Estácio (Zona Norte), o menino tornou-se o melhor aluno da escola. Começou na rua seu interesse pelo samba. O primeiro, Já desisti, ele compôs aos 14 anos de idade. Muito jovem começou a frequentar os bares próximos, onde sambistas se reuniam. Lá conheceu Francisco Alves, um dos principais cantores da época, que procurou o jovem para gravar seus sambas. O Ismael aceitou e, ao lado de Nilton Bastos e Francisco Alves, integrou uma das mais famosas parcerias da música popular brasileira, o trio Os Bambas do Estácio.
Ismael Silva foi um dos fundadores da primeira escola de samba do Brasil, a Deixa Falar, em 1928, que depois virou a Estácio de Sá. Tornou-se parceiro frequente de Noel Rosa. Mas, após a morte do amigo, em 1937, passou por momentos de extrema dificuldade: foi preso por uma briga de bar, teve problemas financeiros e ficou um tempo isolado. A volta triunfal ocorreu em 1950, quando seu samba Antonico foi gravado por Alcides Gerardi, com grande sucesso. Nas décadas de 60 e 70, foi reverenciado por diversos artistas, como Vinícius de Moraes, Chico Buarque e os integrantes do Zicartola. O “Professor Samba” morreu em março de 1978, aos 73 anos, deixando mais de cem composições.
SERVIÇO:
Espetáculo “Professor Samba – Uma homenagem a Ismael Silva”
Data: de 12 a 15 de dezembro de 2024
Horários: quinta-feira a sábado, às 19h; domingo, às 18h
Local: Teatro Dulcina - R. Alcindo Guanabara, 17 - Centro, Rio de Janeiro (RJ)
Ingressos: R$ 50 | Meia-entrada: R$ 25
Duração: 80 minutos
Classificação indicativa: 14 anos