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Discurso de Maria Marighella no 17ª edição do Festival Latinidades Brasília, 25 de julho de 2024
Salve Latinidades! Salve mulheres negras! Salve Julho das Pretas!
Eu sou Maria Marighella e hoje eu peço licença pra chegar tomada por uma grande emoção, porque hoje é dia de saudar nossas ancestrais. De reconhecer a luta e de reverenciar legados. De nos fortalecermos nos olhares e nos abraços. De reescrever a memória e de celebrar a nossa vida. São muitos os convites que o Latinidades faz para quem experimenta viver esse encontro, inspirado no marco histórico que é o 25 de julho. É importante dizer que essa data foi sancionada em 2014, por nossa presidenta Dilma Rousseff, através da Lei 12.987, que estabelece o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra, a ser celebrado anualmente em todo o Brasil.
Eu sou uma mulher (audiodescrição) Sou uma mulher das artes, do teatro, sou atriz, sou Nordestina. Hoje estou presidenta da Fundação Nacional das Artes e, quando assumi esse cargo, me tornei também a primeira mulher negra a ocupar esse lugar. E conto isso não pra falar de mim, mas pra falar de coletividade. Porque eu não cheguei sozinha. Eu cheguei a convite de outra mulher das artes. Também negra, também nordestina. E para aproveitar o tema desta edição, eu digo: eu sou fã de nossa Ministra da Cultura, Margareth Menezes! Nossa ministra artista que amplifica os ecos das artes e da cultura afro-brasileiras. Nossa timoneira nessa missão coletiva de reconstruir e fortalecer, através do Ministério da Cultura renascido, as políticas públicas paras as arte e cultura nessa imensidão-Brasil.
Festejo junto as mulheres celebradas nessa 17ª edição do Latinidades: Rita Marley, Sister Nancy, Alaíde Costa, Sandra Sá. E aqui acrescento: Lia de Itamaracá, Leda Maria Martins, Dona Dalva, Sônia Gomes, Mestre Bigica, Mestra Odete de Pilar, mulheres negras e mestras das artes brasileiras. E outras tantas que com suas trajetórias e tecnologias ancestrais sustentam os céus e protegem nossos futuros. É impossível imaginar o futuro sem o saber preto, indígena e quilombola, sem o saber de nós mulheres.
E faço meu salve às companhias aqui presentes: a Ministra da Mulher, Cida Gonçalves; a Secretária de Políticas, Ações Afirmativas, Combate e Superação do Racismo do Ministério da Igualdade Racial, Márcia Lima; a Secretária de Justiça do Distrito Federal, Marcela Passamani - mulheres que aceitaram a missão de erguer políticas comprometidas com o debate de raça e gênero.
Também saúdo o presidente dos Correios, Fabiano dos Santos, [Vilma Reis, assessora especial da presidência, se estiver presente, saudar] que nos honra com lançamento do Selo Institucional do Dia da Mulher Afro-Latino Americana e Caribenha que estampará nas cartas e envelopes a imagem simbólica da nossa representatividade. Meu salve ao deputado distrital Fábio Félix, ativista dos direitos LGBTQIA+; à cineasta Viviane Ferreira, que tem levado o cinema brasileiro a voos altos; e à Jaqueline Fernandes, essa grande realizadora, diretora do Instituto Afrolatinas. Viva o Latinidades, esse festival que, com a ousadia e a coragem de uma rede imensa de pessoas, gera circuitos, que geram reconhecimento, pertencimento e sim, aquilombamentos!
Eu estive no Latinidades em Salvador, na abertura desse grande circuito, e é incrível ver toda essa conectividade que movimenta e articula criadoras, produtoras e o público. Todas engajadas nas experiências de partilha e fruição, de construção de vínculos e pertencimentos, grafando a importância das mulheres negras na história da latinoamérica.
Quando chegamos na Funarte, entre nossas ações da retomada, nós lançamos o Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas, direcionado à continuidade e permanência de espaços, grupos e coletivos, feiras, mostras, encontros e festivais em todo o país como esse, o Latinidades.
O documentário que assistiremos hoje, dirigido por Viviane Ferreira, é plataforma para nossa história, para nossa memória, terreno de disputa que nós disputamos sim, porque a memória é também construção de futuro. E nesse sentido, as artes, num grande levante, reivindicam ser parte da imaginação de um novo tempo, sobretudo, as mulheres negras, artistas, corpos e poéticas que fazem a real insurgência de novas narrativas, imagens e políticas escritas com vocabulário próprio.
Este Festival emprega na sua construção um modo próprio de se constituir enquanto uma plataforma, que articula territórios de Latinidades, pautando a diversidade, criando suas próprias ações afirmativas e medidas de acessibilidade. E eu tenho muito orgulho de dizer que somos a gestão que implantou ações afirmativas como uma política estruturante em todos os programas da Funarte. Nós sabemos dos efeitos que isso gera na redistribuição de direitos, no combate ao racismo, quando fomentamos projetos e iniciativas que criam ambientes de fabulações e confabulações das grandes transformações.
Eu quero terminar com uma frase que é dita em um espetáculo por uma grande artista preta brasileira, Grace Passô, que diz: “Existe também essa espécie de fogo, que arde, aqui dentro e que é capaz de incendiar qualquer gesto que o apague. Incendiar qualquer gesto que apague esse fogo de dentro!” Sejamos essa chama ardente da democracia, da participação, dos sonhos, dos direitos e da igualdade.