O Projeto Pixinguinha e os primeiros anos da Funarte SP
O Projeto Pixinguinha, primeira ação da Funarte de grande visibilidade nacional, foi idealizado por Hermínio Bello de Carvalho, inspirado no Projeto Seis e Meia, que acontecia no Teatro João Caetano, no Rio de Janeiro. A proposta era colocar em circulação shows de qualidade artística e técnica que levassem ao público um panorama da música brasileira. Para isso, eram formadas duplas que, em geral, traziam um artista renomado que apresentava outro em início de carreira ou que ainda não tivesse reconhecimento e espaço para seu trabalho. Foi a partir do Projeto Pixinguinha que a Funarte começou a ser estruturada em São Paulo.
5 de agosto de 1977 |
Nana Caymmi e Ivan Lins apresentaram, no Teatro Dulcina (Rio de Janeiro—RJ), o primeiro show do Projeto Pixinguinha. |
Setembro de 1977 |
Em parceria com a Funarte, o SESC São Paulo transformou o Ginásio Vermelho, no segundo andar do Centro Cultural e Desportivo Carlos Ernesto de Souza Nazareth, em Teatro Pixinguinha, com a proposta de apresentar shows de música popular brasileira. |
Na verdade, o Pixinguinha começa em 1976 (…) É quando a Maria Luíza (Librandi) viaja com uma das duplas ao Sul do país. E, se eu não me engano, quando eu viajo, em 78, a Lulu (Maria Luíza Librandi) era a coordenadora do escritório – ou, não era ainda o escritório, era coordenadora do Projeto Pixinguinha em São Paulo, não é isso? E o Projeto Pixinguinha era realizado no Teatro Pixinguinha, que era do SESC na Maria Antônia? (na rua Dr. Vila Nova). Esse SESC fica ali, no final da Consolação, lá embaixo – final ou começo da Consolação, não sei (…) O Pixinguinha começa a perder força em 84. Ele vem muito bem, em 77 ele ainda é acanhado, só no Sul do Brasil; mas em 78 ele toma uma força tão grande que ele vai a Brasília muitas vezes e vai a Belém do Pará trinta vezes. Em Belém do Pará tinha o centenário do Teatro da Paz, se não me engano, ainda dirigido pelo grande maestro Waldemar Henrique, e foram trinta duplas lá. Em 79 também, 80, 81, aí a Petrobras entra para apoiá-lo, acho que em 82-83, por aí, mas esse patrocínio não durou muito tempo. E, a partir de 84, a gente começa a ter muita dificuldade para realizá-lo. Mas a gente ainda o realiza até 89. (Trechos de entrevista concedida por Paulo César Soares a Sharine Melo em 30/11/2016).
E na época em que eu comecei na Sala Guiomar Novaes (1979) eu também cuidava do Projeto Pixinguinha, que era ali onde é o SESC Vila Nova. Lá tinha o teatro Pixinguinha. Era um ginásio, anteriormente… E era época, assim, de Zezé Mota, Marina Lima, Zé Ramalho, Belchior, Ivan Lins… E era aquele projeto maravilhoso de trazer uma pessoa de fora do estado, já com nome, apresentando um talento do estado que as pessoas ainda não conheciam. (Trecho de entrevista concedida por Myrian Christofani a Ester Moreira e Sharine Melo em 04/08/2016).
1977 |
Maria Luiza Librandi foi convidada a inaugurar o Projeto Pixinguinha nas cidades da Região Sul. O trabalho é tão reconhecido que a Funarte abre o espaço de São Paulo, colocando Librandi como coordenadora e Telma Monteiro como assistente administrativa. |
Eu achava um absurdo como a gente ficava no Rio, tendo sede também em Brasília, e não tinha uma sede em São Paulo. Isso não tem sentido… Aí, nós descobrimos a Delegacia do MEC, que é aquela da Alameda Nothmann, não é? (…) Que é uma bela casa! É um belo prédio! Era um prédio burocrático. Não tinha nada, nada da área de cultura. Aí, surgiu um pequeno teatro, surgiu uma galeria de arte. Foi bom porque a gente conseguiu começar a fazer… Fazia exposição no Rio e seguia para São Paulo, fazia em São Paulo e seguia para o Rio, do Rio seguia para Brasília. (…) (O escritório regional da Funarte SP) não foi pensado politicamente. São Paulo foi pensado exatamente para você ter uma presença nacional. Você não pode ter um órgão nacional que não tenha um peso em São Paulo. Principalmente um órgão de cultura. (…) Ora, se você compara Rio e São Paulo, hoje São Paulo é muito mais forte. Na época, talvez não. Na época talvez fossem semelhantes (…). E a nossa ideia era a criação das fundações culturais nos estados, pelos estados. (…) Eu fiquei muito desapontado porque eu fiz um conselho com um dos presidentes, que foi o professor Ferreira Reis, que tinha sido governador do Amazonas e tal. O Ferreira Reis cismou de fazer, ao longo do Amazonas, uma série de representaçõezinhas de casas de cultura, modelo francês. Nós fizemos Manacapuru, Itacoatiara, Parintins, Cametá, e por aí foi, Santarém… Quando eu fui lá ver, um ano e meio depois, nenhuma funcionava como casa de cultura. Uma era junta do serviço militar, a outra era não sei o que da saúde. Aí se começou a ver que o modelo não ia prosperar. Não tinha como ter braço para chegar a esses lugares. Quem tinha que chegar era o estado. Daí surgiu a questão das fundações. (Trechos de entrevista concedida por Roberto Parreira a Ester Moreira e Sharine Melo em 25/04/2016).
Eu entrei para a Funarte em 1978 e já existia a Representação de São Paulo que, me parece, era uma decisão do Roberto Parreira para, obviamente, ter um pé na maior cidade do país. Roberto sempre teve uma sensibilidade política muito grande. (…) Ele é o “arquiteto” da Funarte. É a pessoa que vem do PAC – Programa de Ação Cultural, que é o que origina a Funarte e todas essas decisões foram dele. (…) Agora, eu computo a importância da Funarte São Paulo à Maria Luiza Librandi. É a personalidade Lulu Librandi que faz da Funarte São Paulo um lugar que chamou a atenção, que teve um papel importante na vida cultural local. A ligação dela com a rede de produção de teatro, de música (…) . (Trechos de entrevista concedida por Isaura Botelho a Ester Moreira e Sharine Melo em 19/10/2016).
O que levou (a ter um espaço da Funarte em São Paulo), eu acho que é exatamente isso… Bom, deve ter um interesse da instituição, de ampliar as ações para os estados e tal, e acho muito, muito, muito ação da Lulu junto ao Rio de Janeiro, junto ao governo: vamos lá, vamos fazer isso, eu quero fazer, eu quero fazer isso, quero fazer aquilo. (Trecho de entrevista concedida por Roberto Bicelli a Ester Moreira e Sharine Melo em 01/08/2016).
O escritório da Funarte SP foi instalado no prédio do MEC (Ministério da Educação e Cultura), situado à Rua General Júlio Marcondes Salgado.
A gente só tinha aquele galpão, que funcionava como sala de espera e tinha a lojinha com as coisas da Funarte, com todas as publicações. Tinha muita coisa de fotografia – eram muito bons aqueles cadernos de fotografia –, coisas de música, tinha uma loja bem interessante e frequentada, também. (Trecho de entrevista concedida por Myrian Christofani a Ester Moreira e Sharine Melo em 04/08/2016).
Tinha um pé direito altíssimo, portas imensas para entrar caminhão, duas portas de madeira maciça. Tinha um forno em um desses galpões, um forno de ferro pequeno, uma miniatura, mas funcionava, que era para os alunos (…) Na Alameda Nothmann, o primeiro galpão, no começo não era nosso. Nessa época era forte aquele registro de diploma de professor, do MEC (Ministério de Educação e Cultura). Então, as ruas ficavam cercadas de carros de prefeitura, que vinham trazer professora, pegar documento de diretora… Parecia a Santa Casa. Vinha gente do estado inteiro. (…) Três galpões daqui eram para essa burocracia. E o primeiro também era para essa burocracia. Esses galpões tinham um teto rebaixado… Isso deve ter sido uma coisa da época da ditadura… Em tudo que era federal havia um padrão (…) Aquele metálico, um negócio fluorescente, em cima uma mantinha preta isolante… Um vazio no galpão… Tinha um negócio de aço pendurado nas vigas… Tudo o que era expediente tinha que ser uma coisa opressiva, baixinha, um horror. (…) A Funarte ocupava o galpão que dá para o estacionamento (pátio), onde hoje é a entrada, o galpão principal. Ali era a (Sala) Guiomar Novaes.(…) O outro galpão era onde está a galeria agora. Ali era onde ficava a Funarte. escritório e um andarzinho em cima. Você subia e lá dentro tinha mais duas salinhas. Embaixo, ficava o registro. Tinha um cantinho em cima que, na época, era a CONCINE. Embaixo, (ficava) a Biblioteca Nacional, um corredorzinho no cantinho do galpão, dividindo… E ali, no cantinho, tinha o escritório da Funarte e um banheiro… Nessa distribuição, tinha uma área fora, que era onde ficava a livraria. Começaram a fazer a galeria nesse corredor e na parte do salão inteiro. Me chamaram para fazer isso… Aí resolveram me contratar. (Trecho de entrevista concedida por Gyorgy Forrai a Ester Moreira e Sharine Melo em 26/067/2016).
Além da Funarte, em 1981, o Concine e o Conselho Nacional de Direitos Autorais -CNDA, vinculados ao MEC, passaram a compartilhar os espaços da Alameda Nothmann e da Rua General Júlio Marcondes Salgado. Os escritórios foram instalados no antigo casarão da Escola de Aprendizes Artífices. Em 1983, o Instituto Nacional do Livro – INL também instalou sua representação no local.