Eudóxia de Barros
Entrevista concedida a Ester Moreira e Sharine Melo, na casa de Eudóxia de Barros
São Paulo, 1º de setembro de 2016.
Eudóxia de Barros – Em 1984, o Osvaldo Lacerda, meu marido, já falecido, teve por ideia fundar o Centro de Música Brasileira. Antes, nós tínhamos a Sociedade de Música Brasileira, mas houve um desentendimento com a diretoria. Então, nós saímos e fundamos – foi no dia 18 de dezembro de 1984 – esse Centro de Música Brasileira, que tem a finalidade de divulgar todos os compositores de qualquer corrente musical, mesmo os de vanguarda, esses mais modernos, sem preconceito nenhum. Tudo é válido, não é mesmo? Naquela época, nós arregimentamos um quadro social de mais de 400 pessoas.
Ester – Todos músicos?
EB – Não, nem sempre. Muitas vezes, conhecidos da gente, amigos de cada um. A diretoria era formada por quatro pessoas. Foi muito bonito aquele movimento e havia muita gente querendo participar. Olha que a entidade não tinha dinheiro para pagar cachê. Mesmo assim, o pessoal queria dar uma contribuição. Então, nós precisávamos de sala. Foi aí que o Osvaldo se lembrou da Valéria Peixoto, lá da Funarte do Rio, que era bastante amiga dele, e ela nos pôs em contato com a Funarte daqui para conseguir aquela sala maravilhosa, a Sala Guiomar Novaes. Tinha um piano tinindo de bom.
Sharine – Ainda está lá.
EB – Ainda está bom?
S – O Yamaha? Está sim.
E – Que bom! É bom saber! Houve manutenção, não é? Em geral, o que atrapalha os pianos é que não há manutenção, jogam o piano para cá e para lá.
S – Às vezes, a gente muda ele de lugar, mas sempre com cuidado.
EB – Com cuidado… Pois é… Fico contente de saber. Eu já toquei lá.
S – se quiser voltar, fique à vontade. Para a gente, vai ser um prazer.
EB – Como não? É uma sala muito simpática. Não é uma sala grande, mas, para o que nós pretendíamos, vinha a calhar. Quer dizer, era o público certo, foi muito agradável. Fomos muito bem tratados lá dentro, foi um pessoal maravilhoso que nos deu aquele reforço, aquele esteio. Foi muito bom. Depois, não me lembro por que saímos de lá. Acho que não podia mais, acho que mudou a diretoria…
E – Você falou em 1984?
EB – 1984.
E – Logo em seguida, vocês começaram a fazer as apresentações na Funarte?
EB – Eu tenho aí os cartazes, que, depois, eu posso mostrar. Eles estão pendurados lá. Querem ver já? Vamos ver já.
(…)
EB – Depois, a gente foi diminuindo o número de apresentações porque dava muito trabalho…
S – 1985 (apontando para o cartaz).
EB – Esse foi o primeiro ano. (…) 1985. Fundamos em 18 de dezembro de 1984. Na verdade, a gente começou a temporada em 1985. Então, já foi na fase inicial. Nós tínhamos quatro salas. Depois, começou a dar muito trabalho. Quer dizer, cada um de nós era músico e a vida da gente é uma vida corrida. Então, chegou num ponto que não demos mais conta. Fomos diminuindo o número de salas até ficar com uma só, e olhe lá. (…) Sinceramente, eu não me lembro por que saímos da Funarte. Foi isso que aconteceu. Começamos a ter muito trabalho. Cada produção dava um trabalho louco. Mandar fazer programa, ficar atrás dos artistas para mandar currículo, mandar programa…
E – Organizar tudo…
EB – A gente perde tempo com isso. E cada músico com a sua profissão. Fica muito difícil. Foi isso que aconteceu. (…) Eu me lembro que fizemos um concurso lá na Funarte, um concurso de flauta. Só que não me lembro o ano.
(…)
EB – Na verdade, precisaríamos fazer um site do Centro, mas eu não tenho muito tempo. Atualmente, eu estou sozinha porque todo o pessoal da diretoria foi envelhecendo. Até me preocupa, porque o nosso tesoureiro está com 84 ou 85 anos, anda para cá e para lá, e a gente percebe que ele já não está mais muito bem.
S – Então, ainda funciona até hoje?
EB – O CMB? Ah, sim. Nós vamos para tricentésima décima sexta apresentação, agora, no dia 17 de setembro.
S – São sempre os mesmos músicos?
EB- Vocês convidam pessoas novas…
E – Sim, convidamos…
EB – Nós fizemos um concurso de flauta que foi lá na Funarte. Foi tão bonito! Não me lembro o ano…
E – Pode ser que, depois, encontre lá na documentação…
S – Deve ter sido nesta época: entre 1985 e 1990, mais ou menos.
EB – Teria sido…
E – Porque depois, em 1990, quando entra o Collor, a Funarte fecha…
(…)
EB – Acho que foram dois anos, só, que conseguimos ficar lá. Foi muito agradável.
E – Você se lembra quem é que cuidava dessa parte lá, ou não?
EB – Não me lembro… Era um pessoal muito simpático. A diretora parece que faleceu… Uma senhora muito simpática…
E – A Maria Luiza Librandi? A Lulu Librandi?
EB – Isso. Exatamente. Ela foi muito boa para nós. Ela faleceu?
S – Faleceu no ano passado.
EB – Ela foi muito bacana com a gente. Librandi, isso mesmo.
E – Ela era coordenadora.
EB – Ela morava na rua Pamplona. Eu tinha o endereço dela.
E – Ela era coordenadora lá da Funarte.
S – Foi a primeira coordenadora aqui de São Paulo.
EB – É?
S – Foi ela que fundou.
E – Ela ficou bastante tempo lá.
(…)
EB – Parece que, quando houve o concurso, não fazíamos mais concertos lá….
E – Foi só para o concurso.
EB – Se não me engano…
(…)
S – Vocês se apresentavam toda semana?
EB – Não, era uma vez por mês. Tínhamos uma série, parece que de seis concertos.
E – Por ano?
EB – É. E séries em três ou quatro salas, como vocês viram lá nos cartazes. Isso dava muito trabalho.
E – Faziam em mais de um lugar…
EB – Pouco a pouco, a gente foi restringindo. Também houve isso: todo aquele entusiasmo daqueles sócios foi esmorecendo. Por um, dois anos, eles pagavam a anuidade, que sempre foi muito barata. Mesmo assim, foram esmorecendo, uns perdem o entusiasmo, outros vão envelhecendo, já não dá para sair mais e a coisa foi indo. Hoje em dia, estamos com poucos sócios. Nós estamos vivendo assim… Temos aquela sala da Cultura Inglesa. Há muitos anos a gente está lá. É do Centro Brasileiro Britânico. É muito boa a sala. Tem um piano bom e ainda nos dá uma ajuda de custo de R$800 por mês. Isso é muito bom, ajuda bastante, tem contador, essas despesas de manutenção… Nos ajuda bastante. Estamos fazendo oito concertos por ano. É o que nos cedem. São oito datas; em geral, o terceiro sábado do mês. Quanto a público, é sempre… Poderia ser muito mais. Então, justamente para poder ter mais público, a gente sempre faz um concerto com dois artistas. Cada um leva o seu público. Então, ajuda a ter mais público, e tem dado certo. Quanto ao cachê, eu tenho conseguido pagar. É pouco. Apenas R$1000 para cada artista. Eu faço da seguinte maneira: o Osvaldo, quando faleceu, me deixou duas pensões. Com esse dinheiro das pensões, eu faço essa manutenção do Centro de Música Brasileira, que era a menina dos olhos dele. Ele não gostaria que o fechássemos. E está indo muito bem agora. Temos uma assessoria de imprensa, que faz o que é possível fazer. Infelizmente, os grandes jornais, O Estado (de São Paulo) e a Folha (de São Paulo), quase nunca publicam. Então, ela tem que jogar com blogs, com sites.
E – Na mídia digital.
EB – E mais a revista Concerto, que é a única que publica mesmo. Está satisfatório. Mas a gente lamenta muito que não continue mais lá na Funarte, porque, realmente, justamente com a… Como é o primeiro nome dela?
E – Maria Luiza, Lulu.
EB – Exatamente. Ela foi muito amável, nos deu tudo o que foi possível. Tudo era possível, ensaio, tudo. Ela foi muito bacana conosco.
E – Acolheu bem.
EB – E tinha uma média de público razoável. Quer dizer, para música erudita, nunca há muito público mesmo. Ainda mais, em se tratando só de música brasileira, a gente só fazia concerto de música brasileira.
E – Vocês mantêm essa linha?
EB – Ah, sim. É o fundamento, a finalidade da entidade.
E – É a filosofia do trabalho…
EB – Não é mesmo? Mas sem preconceito nenhum. Por exemplo, se há compositores atuais, bem contemporâneos, bem modernos, a gente aceita. Apenas eu faço… Não é uma ordem…
E – É uma orientação.
EB – Como o Osvaldo foi fundador e, na verdade, é ele que está mantendo o Centro de Música Brasileira, nada mais justo que cada artista apresente pelo menos uma música dele no repertório. É uma maneira também de preservar a memória dele. Então, está indo muito bem. O que mais eu poderia falar da Funarte?
S – A TV Cultura gravava esse programa de vocês. Acho que a Marta, que é uma funcionária mais antiga, disse isso.
EB – Como é o nome?
S – Marta.
EB – Eu me lembro que houve algumas tomadas lá. Eu me lembro.
E – Você não guardou esse material da TV Cultura?
EB – Nunca tivemos. Naquele tempo era mais difícil. Hoje em dia se tira a cópia assim na hora.
E – Era tudo fita beta. Era complicado.
EB – Naquela época, a gente conseguia mais divulgação também na imprensa. Eu me lembro que, quando houve a fundação do Centro de Música Brasileira, havia um jornalista – já faleceu –, Eduardo Martins, que deu meia página de jornal. Imagine! No Estado de São Paulo com meia página, fotografia, tudo… Foi muito bonito. A inauguração foi muito bonita. Foi lá na Sala Rubens Sverner do Teatro Cultura Artística. Essa sala nem existe mais, devido à tragédia daquele incêndio. Então, como vocês viram, já naquela época, naquele ano, começamos com quatro salas. Depois, no ano seguinte, tínhamos cinco salas.
E – E era uma relação de cessão de espaço? O que a Funarte fazia? Cedia espaço?
EB – Gratuitamente.
E – E tinha a infraestrutura da sala.
EB – Exato.
E – A produção era de vocês?
EB – A produção era nossa, os programas também. Aqueles que eu falei. O Banco Francês & Brasileiro nos deu bastante cobertura, e eles imprimiam… Eles que idealizaram o logotipo do Centro. Ficou muito bonito. E faziam programas muito especiais. Era uma capa e dentro tinha como se fosse um envelope para encaixar o programa dentro. Com muito gosto, muito bom gosto. Era um produto fino, bastante caro, talvez. Infelizmente, depois o Banco Francês acabou. Tivemos ainda o patrocínio da Bovespa para essa impressão dos programas. E, também, uma vez eles patrocinaram um concurso.
E – A Bovespa?
EB – A Bovespa. Com pouca contribuição, mas ajudava. Lá na Funarte, nós tivemos esse concurso. Se não me engano, foi prêmio da Funarte.
S – Eu anotei aqui… Em 1995, você ganhou um Prêmio Nacional da Música. Foi pela Funarte. Mas o prêmio foi seu. Não tem relação com esse?
EB – Não tem relação.
E – Você já tocou lá?
EB – Que eu me lembre, uma vez ou duas vezes. Não estou bem lembrada.
E – Dentro desse programa de vocês ou não? Como uma artista convidada ou dentro do programa de vocês?
EB – Eu acho que foi fora do Centro de Música Brasileira. Foi, porque era de praxe a gente não se envolver, o pessoal da diretoria…
S – Vocês sempre convidavam outros artistas.
EB – Exato. Para não dizerem…
E – Que estavam aproveitando.
EB – Exatamente. Que eu me lembre, eu fiz um programa (com obras de) Nazareth, Ernesto Nazareth. Não era do Centro de Música Brasileira, não.
S – Eu encontrei… É que está muito pequenininho e não dá para ler. Mas, na Folha de São Paulo de 1981, tem um programa seu tocando lá, como pianista, não como organizadora.
EB – Eu me lembro que eu fiquei louca pelo piano. Nossa, o piano estava tinindo, um Yamaha, que delícia que era!
E – Não devia ser muito antigo, porque a Funarte começou em 1975 e você foi lá em 1981…
EB – De verdade, eu nem sei se foi depois da fundação do Centro de Música Brasileira, talvez tenha sido antes.
E – 1981.
(…)
EB – Nossa, e como eles cobriam tudo, era tão formidável!
E – Também, eu acho que tinha menos concorrência. Você tinha menos atividades culturais acontecendo.
EB – Isso é verdade. Hoje em dia, todo dia, o que tem, não é mesmo?
E – Tem um monte de coisas em vários lugares.
EB – O jornalista seleciona. A seleção dele, infelizmente, nunca coincide com a nossa.
E – É o critério deles.
EB – Fazer o quê?
EB – Naquele tempo, se usava fazer programas mais longos. Hoje em dia, é tudo… Senão, tem que pagar hora extra para os funcionários.
E – Para os iluminadores…
EB – Os tempos mudaram muito. Não sei se para melhor. Algumas coisas…
E – Com certeza.
(…)
EB – Eu queria poder falar mais. Mas eu não sei…
E – Naquela época em que vocês estavam lá na Funarte, você já conhecia a Funarte antes de o Osvaldo pensar em fazer contato? Você já sabia que existia esse espaço?
EB – Sim. O Osvaldo, acho que ele era requisitado para concursos da Funarte, para fazer parte dos juris, aí que ele conheceu a Valéria Peixoto. Ficaram amigos… Foi por aí.
E – Porque ali não tem uma tradição de ser um espaço de música clássica. Tanto que, depois, a Sala Guiomar Novaes vai muito lá para o pessoal dessa vanguarda alternativa paulistana.
S – Ela ficou conhecida como o palco do Lira Paulistana, de Jorge Mautner, esse pessoal.
E – A gente achou bastante interessante essa abertura desse espaço para música clássica…
EB – Naquela época… Porque hoje não tem mais…
S – Eventualmente, tem alguma coisa.
E – Não é o foco.
EB – Sem propaganda, a gente nem fica sabendo…
E – Isso que a gente queria saber. Se, naquela época, vocês, como moradores de São Paulo, artistas que circulavam no meio, se era um centro cultural que era referência…
EB – Era referência, se tornou importante a Sala Guiomar Novaes, sobretudo no ambiente erudito, porque era uma sala com um bom piano. A gente se queixava um pouco da localização. Aquele lugar nunca foi muito bom. Já estava se tornando um pouco perigoso. Mas dava perfeitamente. Eu me lembro que eu chegava lá e estacionava praticamente em frente, porque era de noite, não havia multa.
E – Não tinha tanto trânsito…
EB – Eu estive lá em 2012. O Osvaldo, antes de morrer, estava escrevendo um livro, Curiosidades musicais. Eram vários artigos. Ele foi compilando e ia continuar mais. Aí ele faleceu. Então, eu comecei a recolher o que ele tinha escrito e completei com alguns depoimentos dos alunos mais recentes, naquela época, e mandei publicar. Paguei uma gráfica, ficou bonitinho o livro, aí eu precisei ir à Funarte para registrar aquele número.
E – Na Biblioteca Nacional…
(…)
S – Você se lembra de alguém em especial que tocou lá?
EB – Eu me lembro com muito agrado desse concurso de flauta. Foi muito simpático, muito gostoso. Foi à tarde…
S – E era aberto para qualquer flautista.
EB – Foi. Um concurso de flauta, só de música brasileira, naturalmente. Música erudita brasileira. Foi muito bonito. Eu preciso achar. Não sei onde está…
(…)
E – É como se fosse um centro de referência, não é? Ele também tem aula para alunos ou não?
EB – Não. É tudo problema de tempo… A gente não dispõe de muito tempo. Então, nos concentramos nisso. Antigamente, o Osvaldo cuidava muito dessa parte de não gastar demais, fazer economia, cobrir com o dinheiro das anuidades, para poder ter um fundo para fazer concursos.
(…)
E – O concurso era para quem tocasse, eram habilidades musicais, ou era de composição?
EB – Houve também de composição. Fizemos de tudo. Fizemos dois ou três concursos de composição, de flautas. Chegamos a fazer dois concursos, no geral, de piano, vários concursos de piano. Isso que eu não estou fazendo mais.
E – Precisa de uma equipe…
EB – Realmente, a gente não dispõe de um patrocínio grande…
E – Para ter uma equipe…
EB – E precisa de muita gente para trabalhar. Quer dizer, eu não aguento fazer sozinha.
(…)
S – Mas, lá na Funarte, foi só o (concurso) de flauta? Não teve os outros?
EB – Não. Foi só de flauta. O que teve foram apresentações. (…) A gente ficou duas temporadas lá. Foi muito agradável.
E – Eu acho que todo mundo da Funarte, dos funcionários que ainda estão lá, gostou. Porque todo mundo falou para a gente…
EB – Se lembravam?!
(…)
S – A Marta, principalmente.
(…)
EB – Logo que o Osvaldo faleceu, esse aluno dele, o Fernando Cupertino, que escreveu a capa para o livro, esteve aqui e precisava de uma música analisada pelo Osvaldo, precisando de uma cópia. Eu, para procurar, sou péssima. Então, eu falei: “Você sobe lá, fica à vontade”. Abri todos os armários. Ele ficou um tempão lá. Quando voltou, estava até emocionado de ver a qualidade do acervo dele (de Osvaldo Lacerda) e disse: “Isso não pode ficar assim”. Fomos falar com o Secretário de Cultura, Marcelo Araújo, que se interessou pela compra do acervo. O processo demorou um ano e meio, mais ou menos. Em 2014, foi vendido todo o acervo. E agora todo o material está na OSESP… (…)
E – E ficam onde, na OSESP? É um acervo a que as pessoas têm acesso? Lá na Funarte, lá no Rio, tem o CEDOC, de documentação, um lugar de preservação e divulgação de acervo das artes com que a Funarte trabalha. Então, às vezes também se compra algum acervo importante ou se recebe doação. Esse processo de organização, catalogação, higienização é bem demorado. Leva um tempo. Depois, eles digitalizam tudo. Só depois é que eles podem abrir para o acesso público. Tem todo um trabalho.
(…)
S – Mas é bom que tenha ficado em um lugar organizado.
E – Pelo menos com isso, se tem uma garantia maior de preservação e de que o público tenha acesso, quando (o material) vai para esses acervos públicos.
E.B – É melhor?
E – É, sem dúvida. O CEDOC, lá da Funarte, tem acervos hoje maravilhosos que, se a Funarte, de algum jeito, não comprasse, ficariam com as famílias. Isso se perde.
EB – Eu também, quando morrer, tenho tanta coisa interessante… Tenho duas sobrinhas, como herdeiras: nós não tivemos filhos… (…) Voltando ao CMB: tínhamos filial também em Jundiaí. Aquele começo foi maravilhoso! É que chegou num ponto em que não aguentávamos mais com tanta tarefa!
E – Cresce, cresce, e a gente não dá conta.
EB – Já estava prejudicando a nossa vida profissional. Em Pindamonhangaba, tivemos sucursal lá… Em São José dos Campos, Muriaé, Campinas…
E – Nossa! Vocês cresceram mesmo…
EB – Em Juiz de Fora… O Estado de São Paulo dava sempre notícias…
(…)
EB – Olha o programão que se fazia naquela época, de mais de uma hora…
S – Quando tem orquestra, ainda se tem o costume de fazer grande, mas recital é difícil.
EB – Em Bauru também a gente esteve… Que maravilha que era! Presidente Prudente…
E – Nossa, viajou o interior todo, por todo lado.
EB – Em Santos também (…). Eu tenho um disco lá pela Funarte, do Furio Franceschini. Foi da Funarte, naquele tempo em que Edino Krieger era o presidente.
(…)
S – Ele (Osvaldo Lacerda) não tocava, né?
EB – Como compositor, ele tinha que ter uma base. Tinha sido pianista, estudou viola, estudou canto também, precisa ter uma compreensão maior dos instrumentos.
S – Sim, mas eu quis dizer que ele não se apresentava…
EB – Não.
E – Ele compunha e dava aulas.
S – Teve muita coisa de música erudita e a Funarte ficou conhecida pela música de vanguarda.
E – A cena alternativa…
S – É bom resgatar isso também.
(…)
EB – Mas houve esse concurso (de flauta). Pelo menos já tem a data. Foi em 1986.
E – Fica mais fácil localizar. Talvez tenha lá no CEDOC o material.
EB – Se, por acaso, acharem alguma coisa…
E – A gente fala para você.
S – Até na internet, tendo a data, talvez tenha saído em algum jornal…
EB – Então, pelo jeito, ficámos somente dois anos lá.
S – Mas em dois anos vocês fizeram muita coisa!
EB – Muita coisa!
E – Bastantes apresentações.
EB – Acho que foram oito em cada ano. São 16… E com público… Havia público. Não muito, não enchia a sala. Mas isso era normal para música erudita, ainda mais música erudita brasileira. Há muito preconceito.
E – Por isso é que queriam ajudar…
EB – Exatamente. Ver se levantava um pouco… Se, por acaso, eu achar alguma coisa, eu falo, eu comunico.
E – Adoramos conhecê-la!