Ecos de um Casarão
Realizei a curadoria e direção artística de um projeto premiado pela FUNARTE em 2015. A Ocupação Inquietos teve como objetivo criar um novo espaço: despertar a reflexão sobre formas não usuais de fusão entre a dança e a música. Comecei a pesquisar sobre o tema e percebi que não havia, na época, espetáculos que tivessem uma obra contemporânea com essa intencionalidade, apenas trabalhos de minha criação. Parti para então para encomenda de espetáculos e contatei obras que se assemelhavam de alguma forma ao que eu queria, mesmo não sendo o que eu queria de fato. Nesse tempo, via a FUNARTE como um grande casarão, com a sua história, mas que era revivificado constantemente pelos ventos e tempestades que por ali passavam, ocupados com seus afazeres, com as suas vidas, e com as suas próprias histórias. Essa impressão de casarão vazio se modifica na medida em que nos relacionamos com as reminiscências das salas, o significado de cada espaço, na relação com os funcionários e na relação com a equipe da FUNARTE São Paulo que, de certa forma, torna legítima e valorizada a nossa presença lá. E essa luz que é possível de ser identificada, como uma fenda no meio do contexto em que se encontrava a FUNARTE na época em que a ocupei, me deu forças para acreditar também na importância do meu trabalho, que de fato teve uma repercussão que nem eu esperava. O casarão que produzia o eco de nossos corpos foi, afinal, o espaço que difundiu uma ideia, uma reflexão que influenciou o entorno artístico, e influencia até hoje. Vemos os seus efeitos, a sua equipe, a sua história e as suas paredes carregando os sonhos das artes e resistindo.