Cícero
São Paulo, 19 de outubro de 2017.
Querida mãe,
Assisti a uma peça de teatro que se chamava Sobre as baleias, que refletia sobre as mães que perderam seus filhos por conta da ação violenta da polícia, e lembrei de você, quando viemos morar em São Paulo em 1994. Éramos menores, cheios de medos, e você não dormia enquanto não visse todos em casa, quando saíamos para passear com os amigos. Lembra!
Também lembrei, quando estive de férias em sua casa, em julho deste ano, e a senhora havia me perguntado o que faço de trabalho. Naquela instância, respondi que trabalho como bilheteiro no Teatro de Arena; e você me olhou com expressão de face encolhida, perguntando:
– Teatro de Arena! Teatro de briga?
– Sim, quero dizer, não. Não da maneira como você imagina. Mas é um espaço de luta, sim, onde pensamento e consciência buscam entendimento. Não conversamos sobre isso, porque foi momento de seus afazeres e não falei sobre o que é esse teatro em que trabalho; e vou lhe escrever sobre o Teatro de Arena, onde trabalho como bilheteiro.
O Teatro de Arena tem 53 anos de história, teve seu início em 1954. Tem um histórico rico de acontecimentos e atuação em busca de uma identidade teatral mais próxima do que é o Brasil, naquela instância. O Teatro de Arena é um espaço aconchegante, põe a plateia próxima dos atores, diferente dos palcos italianos em que ficam distantes público e artista.
Tenho como função bilheteiro, justamente cobrar a entrada de quem vem assistir às peças. Entro no trabalho às 14h. Entre as 14h e a abertura da bilheteria, atendo telefone, informando sobre as peças que teremos no teatro e também informo sobre outros trabalhos que acontecem no Complexo Cultural Funarte SP, e auxilio o coordenador no Arena no que for preciso.
Gosto do que faço e, claro, também de assistir às peças. O teatro é pequeno e aconchegante, não tem distância entre artista e público, e isso é muito mágico. O afeto chega rápido na gente e a gente é logo atravessado pela força dos artistas. Quando você vir nos visitar em São Paulo, quero lhe presentear e, claro, assistir a uma peça juntos.
Escrevo para lhe falar o que faço no Teatro de Arena
Bjo!
Cícero