Ângela Dória
Entrevista concedida a Ester Moreira e Sharine Melo, na Sala São Paulo
São Paulo, 19 de agosto de 2016.
E – (Nós temos uma demanda) muito grande de informações por estudantes, por pesquisadores, sobre a história da Funarte SP; e (essa demanda) passa por duas questões: a primeira, o espaço físico, os prédios, para entender a origem daqueles edifícios, daquelas edificações. Então, tem muito estudante de arquitetura ou de história da arte que vai lá, em busca dessas informações; do outro lado, isso acaba também despertando o interesse sobre a história da Funarte São Paulo, o porquê da Funarte SP, como ela foi surgindo, foi se desenvolvendo, das relações ali com o MEC… E acaba sendo um pouco a história da construção das nossas políticas de cultura. Até tem alguns estudos sobre isso, mas não específicos. Em geral, quando (o estudo) fala, fala da Funarte nacional, como políticas públicas, e fala que tem as representações, mas ninguém nunca contou essa história. A Sharine teve essa ideia de que: “Olha, quando (alguém) vem aqui, a gente mal tem algumas plantas…” Tem o CEDOC lá no Rio.
A – Acho que a Funarte do Rio é mais atuante atualmente. Não sei, porque é mais central lá. É mais centralizado.
E – Mas, na verdade, é porque lá tem o Centro de Documentação. Todos os documentos, tanto de artistas… De algum jeito, acabam os acervos indo para o setor, vão lá para o CEDOC, como os documentos da instituição. São guardados lá na Funarte do Rio. Depois, a gente vai lá ao CEDOC. A gente vai, também, em busca disso. Mas aqui em São Paulo, a gente tem muito pouca coisa, em termos de documentação guardada, de imagens, de fotos, de plantas.
S – Mesmo lá no Rio, não está organizado.
E – A gente vai quebrar pedra, um pouco.
A – A Funarte daqui tinha muitos shows… Não tem esse material em vídeo?
S – Não. A gente mandou tudo para lá.
A – Ah, vai tudo para o Rio.
E – Vai tudo para o Centro de Documentação.
A – Certo.
E – Lá, eles fazem um tratamento e guardam como acervo.
A – Eu lembro que eles filmavam todas as apresentações que aconteciam. A gente fazia uma coisa independente. Quando eram espetáculos do curso da Myriam (Myriam Muniz), ou um aluno ou um maquiador dela fazia a filmagem. Acho que tem até uma atriz, uma das meninas que fez o curso durante muitos anos… Simone Faro. Porque a Myriam era meio assim, ela dava um curso e as pessoas ficavam 10 anos com ela, acabavam fazendo parte do grupo dela. Ela tinha um grupo chamado Mangará, e aí todo mundo acabava fotografando, filmando… Então, deve ter o material com algumas pessoas sim, com certeza.
E – Então, a gente resolveu começar conversando com as pessoas que, de alguma forma, passaram aqui por esse espaço da Funarte. A gente está fazendo essas entrevistas. Quando a gente conversou com a Myrian (Christofani), ela falou: “É fundamental vocês conversarem com a Ângela. Ela ficou muito tempo lá no curso com a Myriam e deve ter lá suas histórias.”
A – É porque a Myrian Christofani era assessora de imprensa lá na Funarte.
S – Isso.
A – Então, a gente ficou anos, acho que mais de 10 anos lá… Eu fiquei uns 12 com a Myriam Muniz Algumas vezes, a gente saiu, foi para outros espaços, mas sempre voltava para a Funarte, inclusive quando o Collor fechou. A gente invadiu lá para continuar o curso, para não deixar o escritório daqui ser fechado. Acho que ele cortou muita verba.
S – Na verdade, ele extinguiu a Funarte.
E – Colocou todo mundo em disponibilidade.
A – Todo mundo estava optando por se aposentar e tudo o mais, e a gente falou: “Nossa, o que vai ser de São Paulo?” Porque o Centro Cultural (Centro Cultural São Paulo) tinha uma programação bem diversa, porque era verba municipal; o Teatro Sérgio Cardoso, que tinha a verba da Secretaria e, no fim, a Funarte ficou às moscas, o que era um absurdo naquela época (…).
S – Então, vocês trabalhavam lá antes do fechamento pelo Collor. Foi na década de 1980?
A – É isso aí. 1985, por aí, 1986, se não me engano.
S – Foi quando começou…
E – Desde o início que ela foi para lá, você estava com ela?
A – No primeiro curso que ela deu lá, eu fui como aluna. Eu trabalhava aqui na Secretaria de Estado da Cultura e eu fazia uns projetos de arte pelo interior do estado, pelo departamento aqui. Como eu cantava no coral da Secretaria, eu me interessei em fazer o curso da Myriam Muniz, de interpretação. Também, justamente para poder ficar mais perto das pessoas que faziam teatro, porque a gente procurava trabalhar com artistas que também faziam parte da programação da Funarte: Walter Franco, Jorge Mautner, Itamar Assumpção, Marlui Miranda. Essas pessoas todas faziam espetáculos lá. Eu fui ao primeiro curso, acabei saindo da Secretaria e fiquei com ela durante 12 anos, trabalhando na administração dos cursos, na produção e nos espetáculos, até nos que ela fazia fora da Funarte, como atriz. No primeiro curso, eu já estava lá, como aluna.
E – Me diz uma coisa: você sabe por que a Myriam Muniz precisou ir para a Funarte para fazer esses cursos? Porque ela tinha uma escola…
A – Ela tinha o Macunaíma, mas ela saiu do Macunaíma, ela se separou do Sylvio Zilber, que era marido dela, e resolveu ficar. Justamente, ela também não estava com muita vontade, naquela época, de fazer teatro. Ela queria continuar o trabalho dela como professora, que era mais forte. Ela não queria ir para a televisão. A Globo chamava todo ano, mas era um trabalho muito exaustivo. Você tem que ir para o Rio e não tem horário, e ela não queria largar os alunos…
E – Não era regulamentado.
A – Essa coisa de estar tudo incerto… Eles queriam pagar muito pouco. Então, ela resolveu continuar com o grupo dela. Para você alugar um espaço em São Paulo, era uma coisa cara, você tinha que cobrar ainda mais caro o curso. Acho que ela já estava casada com o Cacá D’Andretta, que era iluminador lá na Funarte, cuidava da parte de iluminação. Ele cuidava de toda a parte de iluminação, não só da Sala Guiomar Novaes como dos outros espaços de exposição… Se não me engano, na época, ou a Lulu Librandi ou o Marcelo Nitsche eram diretores lá. Então, acho que ficaram sabendo que a Myriam Muniz estava procurando um espaço e ofereceram para ela dar aula lá, justamente porque ela fazia um trabalho de montar espetáculos, porque o curso dela era bem completo. Tinha aula de corpo, aula de voz. Ela também trazia alguns amigos dramaturgos para falar um pouquinho do autor que ela escolhesse para fazer cenas, trechos de livro do Nelson Rodrigues e tal… Então, ela fazia um trabalho bacana, em que a pessoa não precisava querer ser ator.
E – Podia ser produção…
A – Podia ser. O cara podia ser bancário, psicólogo, ou então, bailarina, musicista, modelo. Ela trabalhava muito a comunicação e a interpretação, mas para a pessoa se desinibir e saber trabalhar em equipe, ler mais. Porque o teatro é isso, é um trabalho de equipe, de comunicação. Então, no primeiro ano, ela dava curso para direção, justamente para poder formar um núcleo de diretores, e de interpretação para músicos, bailarinos, enfim.
E – Aberto?
A – Era aberto. Para pessoas interessadas em artes. E ela acabou indo para lá justamente por causa disso, para poder ter um espaço com palco, o que era uma coisa difícil também de achar em São Paulo.
S – Você saberia dizer se esse curso era contratado pela Funarte ou pela Fundacen? Porque nessa época ainda tinha a Fundacen…
A – Se era subsidiado?
E – Isso.
A – Não. Eram os alunos que pagavam. Eu acho que eles cederam o espaço com possibilidade de utilização de todo o equipamento. A gente podia fazer as aulas com microfone, mexer na luz. Então, tinha o equipamento de som, luz, o piano, a Funarte sempre tinha um piano, e ela cobrava mensalidade, matrícula e tudo. Eu não sei nesse primeiro curso, mas acredito que não… O que ficava para a Funarte era uma porcentagem da bilheteria quando a gente se apresentava, que a gente fazia preço popular…
E – Como espetáculo?
A – Como espetáculo. Normalmente, a gente fazia dois espetáculos anuais, um no meio do ano e, depois, o outro no final. Ela dava aulas já numa escola, acho que no MAM ela deu, no Centro Cultural, deu em Pinheiros, na escola de dança. Mas ela dava aulas para alunos de teatro, de interpretação teatral. Então, no final do ano, sempre que ela estava dando aula de teatro fora, ela juntava o grupo e a gente fazia uma grande festa. Era um happening. Ela tinha muitos amigos, então, os atores amigos frequentavam os espetáculos: Paulo Autran, Karin Rodrigues, todo mundo que conhecia a Myriam Muniz acabava indo ver os alunos dela. Ela convidava, às vezes, como inúmeras vezes convidou, a Ná Ozzetti, a Suzana Salles, que estavam começando a carreira. O Jean e Paulo Garfunkel também faziam parte do grupo dela. A Maricenne Costa… Alguns músicos, instrumentistas também, que ela convidava para fazer parte da banda, porque tinha música ao vivo. Então, ela fazia um espetáculo, às vezes, com 50 pessoas. Era muito atraente para quem queria fazer teatro, e mesmo para músico, que é tão travado em cena… Mas todo mundo pagava, a não ser os músicos. Ninguém ganhava nada, todo mundo fazia gratuitamente, porque já eram profissionais, chegavam (os músicos) mais na semana, para ensaiar. E a gente fazia os espetáculos.
E – Em que ano você foi para lá?
A – Eu fui para lá em 1986, 1985/1986, que foi quando começaram, se não me engano, esses cursos. Eu devo ter até material do espetáculo desse ano… Eu tenho, eu acabei pegando porque nós fizemos um vídeo caseiro, tinha até a Regina Braga… Ela (Myriam Muniz) convidou a Regina para fazer parte do grupo. Ela falava: “Vai lá, amiga, vai fazer umas aulas comigo. Vai lá mostrar um pouco da sua arte para quem está começando. Você não gosta de cantar?”. A pessoa falava: “Mas eu não canto…”. “Vai, tem professor de canto”. E aí o pessoal acabava indo e fazia parte. A Regina participou do espetáculo. Eu tenho esse DVD. Eu acabei passando…
S – Se você puder emprestar para a gente…
A – No Youtube, se você olhar, tem umas coisas do Custódio Mesquita… Se não me engano, em 1987/1988, a Funarte lançou, no Rio, um LP com a obra do Custódio Mesquita. Lá no Rio, a Funarte então conseguiu uma verba para fazer um espetáculo lá. E, aqui em São Paulo, eles convidaram a Myriam Muniz para dirigir. Ela falou que ela toparia desde que fosse com o grupo que estava se formando, de alunos dela. A gente acabou fazendo o espetáculo. Teve o subsídio da Funarte para produção, para figurino, para assessoria de imprensa, divulgação. A Myrian Christofani (é) que fazia assessoria de imprensa, mas (tinha verba também para) material, programa… Antigamente se usava muito lambe-lambe pela cidade. No Youtube, você acha alguns trechos do Custódio Mesquita. O LP se chama Prazer em conhecê-lo. Acredito que tenha algumas outras coisas. Mas eu vou pegar. Depois eu te mando o nome dos espetáculos de alguns anos. Eu fiquei com alguns cartazes…
E – Se a gente puder copiar…
A – Com certeza. O pessoal da família dela tinha uma cantina aqui em Higienópolis, Cantina Mamarana, e eles acabaram fazendo uma homenagem para ela. Todo o material, que ela tinha dos espetáculos dela e dos cursos, eles colocaram em moldura, fizeram uma parede lá, com todos os cartazes do teatro.
E – Ainda está lá?
A – Não, o filho dela deu para mim. Então, está na minha casa. Eu tenho uma parede cheia de coisas da Myriam, dos cursos que a gente fez.
E – Se você não se incomodar, a gente poderia ir um dia bater foto.
A – Claro! Com certeza.
E – Vamos pedir para o Gyorgy. Acho que o Gyorgy bate fotos bem.
A – E o Gyorgy também acompanhou desde o começo.
E – É, a gente podia pedir para o Gyorgy bater umas fotos.
A – Legal.
E – A gente combina isso. Outra coisa que a gente queria perguntar: então, você vai para lá mais ou menos em 1985/1986. É logo depois que eles (Gyorgy e Bicelli) entram, não é?
S – É na época do Gyorgy, mais ou menos.
E – Duas perguntas: você se lembra de como era aquele espaço, fisicamente? E qual espaço vocês ocupavam para fazer o curso?
A – O espaço não tinha a parte da frente. Aquela parte da frente é mais nova, não é tão recente, mas é nova. Era só o espaço da entrada, ali.
E – Aquele galpãozão…
A – É, na verdade, era só a Sala Guiomar Novaes. Em cima, tinha a sala de iluminação, com os refletores e tudo o mais, tinha uma sala do escritório, que era para o lado de cá, logo na entrada, à direita, onde ficava a sala do diretor e das secretárias. Do lado de lá, depois, foi aberta a sala da assessoria de imprensa, em cima. Tinha uma escadinha que subia.
E – Mas isso é nos galpões ou no casarão?
A – Não, não… Ali no corredor, quando você entra na Funarte, do lado direito…
E – Nos galpões… Onde é a Sala Guiomar Novaes.
A – Tinha um camarim, eu acho que o camarim é igual… É onde é a Sala Guiomar Novaes. Era bem pequeno aquele espaço de exposição. Tinha um barzinho…
E – Uma livraria…
A – Isso mesmo, uma livraria pequenininha. Era só aquele espaço. Tinha um corredor, que dava para uma sala grande. Às vezes, quando a gente precisava fazer uma roda, uma coisa assim maior, depois de um certo tempo, a gente começou a usar ali. Eles estavam pensando em fazer uns escritórios… Acho que, no fim, acabaram abrindo depois de um tempo. Fizeram umas salas… Mas era só aquele espaço pequenininho.
E – Então, vocês trabalhavam na Sala Guiomar Novaes?
A – Na Sala Guiomar Novaes, direto.
E – Que era aquele palco de auditório…
A: É isso mesmo. Era ótimo, porque você já estava dentro de um teatro. Muito bacana.
E – Tinha coxia até…
A – Sim. A Myriam Muniz fazia todo um trabalho de você chegar, cuidar do espaço… Todo mundo varria, passava pano, passava álcool. Era silêncio no camarim. A gente colocava flores. O trabalho já começava quando você entrava pelo camarim… Chegar antes, se aquecer, procurar não falar, não levar bebida. Claro que tem gente que gosta de tomar alguma coisa, mas ela fazia um trabalho, começando a mostrar como era o trabalho do artista para se concentrar e tudo o mais. Então, a gente usava todo aquele espaço. Era maravilhoso. Porque, em São Paulo, você não tinha um lugar assim, aberto. A Funarte tinha uma programação. É lógico que, nos dias de espetáculos, o palco ficava para o artista que ia se apresentar. Mas, geralmente, os cursos dela eram, no início, na parte da manhã. Depois, a gente começou a usar, um pouquinho, algumas horas da tarde, porque ela gostava de ensaiar todo dia. Depois, nós passamos para a noite, mas durante a semana, quando já não tinha muita programação, só tinha no final de semana. Mas era um horário assim, bem extraordinário. Se pudesse, ela ficava o dia inteiro no teatro.
E – Você não se lembra exatamente… Isso a gente consegue, não é difícil, saber se era a Lulu (Lulu Librandi) ou se já era o Marcello (Marcello Nitsche)…
A – Eles trabalharam nesse período e eles eram muito amigos da Myriam Muniz… Eu acho que era a Lulu, depois (é) que foi o Marcello.
S – Eu acho que sim. Pela época…
A – Começou com a Lulu Librandi.
S – Depois trocou…
A: Ela agitava bastante o espaço. O Marcello, claro que ele tinha essa coisa forte de exposição, porque ele é artista plástico, mas também a programação musical era muito boa lá.
E – Então, chegou a época do Collor…
A – A gente continuou fazendo o curso. A Myrian Christofani tinha bom relacionamento com a imprensa. A Myriam Muniz também era uma pessoa conceituada. Então, as pessoas davam o espaço. Talvez eu localize algumas matérias da época, falando dos cursos da Myriam, que tinha um espetáculo no final. Então, ficamos por lá e, quando chegou essa determinação de fechar, ela falou: “Mas para onde a gente vai? O dinheiro não dá nem para pagar a equipe de professores”. Porque cada hora ela queria colocar uma figurinista, para todo mundo também poder ter uma noção de figurino, ter uma orientação, e claro que ela não queria que ninguém trabalhasse de graça. Aí, a gente resolveu ficar lá. Ela falou: “Por que a gente não fica aqui?”. Ninguém se opôs, falamos: “Vamos ficar”. Até para o pessoal do escritório, acho que o trabalho foi interrompido…
E – Só ficou a Marta.
A – Só a Marta. A Marta era a nossa fiel escudeira. Ela ficava na bilheteria… Ela está lá ainda?
S – Está.
A – Ah, ela está lá? Já se aposentou, mas continua…
E – 33 anos…
S – Não, 38, eu acho.
A – Nossa, ela foi muito parceira. Como eu cuidava da parte administrativa, eu trocava muita figurinha com ela. Ela era ótima. Só ficou ela, mesmo. E acho que o Cacá dava um suporte porque, às vezes, tinha que ligar a luz, justamente para esse trabalho da Myriam Muniz, para você estar em cena, para saber onde a luz está te iluminando… Ela colocava todo mundo na plateia para mostrar a luz do espetáculo. Era como se (o aluno) fizesse um curso profissionalizante mesmo, um curso livre, mas que era abrangente… Aí, ficamos lá… Nessa época, também fizemos espetáculo… Tanto é que as pessoas achavam que ia fechar mesmo o espaço. Era um espaço que já estava fechado. (As pessoas) saíam do espetáculo e falavam: “Mas vai fechar aqui?” “Já está (fechado). Nós estamos aqui mesmo de teimosos”. Ficamos até essa época, acho que até depois. A gente saiu e voltou, se não me engano, na época do Px. Ele também topou continuar o trabalho que a Myriam Muniz fazia… Também com dificuldade, porque a Funarte foi retomada, mas aos poucos…
E – O MEC tomou muito dos espaços, então, para retomar os espaços depois…
A – Isso mesmo. No fim, o MEC também acabou saindo dali. Agora tem o MinC.
S – É, o MinC está lá.
A – Eles estão lá ainda?
S: Estão.
E – O MinC fica no casarão. Os galpões são da Funarte. Hoje é assim. O MEC foi minguando as funções dele, administrativas, até ser fechado, acho que em 2011. Dizem, nas entrevistas, que foi justamente depois do Collor, que o Px foi conseguindo trazer esses espaços para ocupação da Funarte: conforme o MEC ia saindo, ele ia conseguindo e ocupando. Depois, fizeram uma primeira reforma.
A – Que foi ótima. Agora tem os editais…
E – Agora já tem a segunda reforma.
A – Tem editais de ocupação lá das salas?
S – Tem.
E: Por que vocês acabaram saindo de lá, você se recorda?
A – Eu acho que, no último ano do curso eu não fiquei mais, porque eu fui fazer um trabalho de teatro com o Cassio Scapin, e a assistente da Myriam Muniz também foi dirigir o Cassio, a Regina Galdino. A gente acabou trabalhando juntas fora dali. A Myriam tinha ido para o Rio para fazer um filme da Ana Carolina, o Amélia, e ela ia ter que ficar um período grande lá, não conseguiria manter o curso. Mas o grupo já estava formado, ela tinha uns assistentes. Na verdade, o grupo Mangará foi se transformando… As pessoas foram montando seus próprios grupos, foram fazer projetos, fomento…
E – (O grupo) se multiplicou…
A – Buscar espaços alternativos… Aí, algumas alunas ficaram com ela. Se não me engano, a Cris Ferri, que é sobrinha da Myriam (…), ela ficou bravamente lá com algumas alunas que faziam parte da equipe, com o grupo da Myrian, durante esse último ano na Funarte.
S – Em que ano foi isso?
A – 1997, será? 1997, 1998, eu posso ver depois e te passar direito, porque foi a época em que a gente montou o Brás Cubas com o Cassio e a Myriam foi fazer o Amélia. Ela vinha às vezes, a cada três semanas, para fazer uma supervisão. Mas a Cris Ferri (é) que acho que ficou como coordenadora lá do curso. Se não me engano, também naquela época, a Funarte acho que foi tendo alguma dificuldade também de manter a verba para manter a sala Guiomar Novaes com equipamento de luz… Eu sei que a Myriam acabou parando de dar aula, resolveu não fazer mais o trabalho lá. Depois de muito tempo, eu acho que em 2000 e sei lá, vou procurar saber também, a gente acabou entrando em um edital do Ministério da Cultura… Tinha uma verba pequena para fazer um show lá na Funarte.
E – Mas com a Myriam Muniz?
A – Com a Myriam, ela dirigindo, e com os ex-alunos, que já eram profissionais. Mas, naquela época, ela começou a ficar muito cansada. Ela fumava muito. Então, começou a ter problema, teve quase uma pneumonia, estava fazendo o último filme dela. Então, ela ia pouco aos ensaios, mas a gente sempre estava na casa dela e Roney Facchini, que é ator e que foi o assistente dela, e a gente acabou fazendo um último show lá como profissionais.
E – Você tem esse material? Tem alguma coisa?
A – Eu acho que eu tenho alguma coisa. Inclusive, nós íamos fazer um trabalho sobre a obra do Brecht; depois, a agente da obra do Brecht vetou porque ela queria que tivesse coro, cantores e orquestra e não tinha verba. Na época, tinha muito pouco dinheiro do edital. Então, o Ministério da Cultura acabou cedendo e a gente mudou o repertório do espetáculo. Eu devo ter coisas de jornal, sim. Acho que não tenho gravado, mas eu tenho de jornal.
E – Seria ótimo.
A – Mas foi por isso, porque ela foi fazer cinema e acabou não tendo mais disponibilidade de ficar lá.
E – Da convivência que você teve com ela, o que você pode contar para a gente da Myriam Muniz de antes, da Myriam lá do Teatro de Arena?
A – Eu conheci a Myriam depois que ela fez o Falso Brilhante. Eu não peguei essa fase.
E – Eu sei.
A – Tem um ex-aluno dela, que hoje é diretor e ator, que é uma pessoa interessante também para vocês falarem, que se chama Marcelo Braga. Eu vou te dar o contato. Ele escreveu um livro sobre a pedagogia da Myriam Muniz, como professora. Foi a tese dele lá na EAD.
S – Eu acho que foi essa que a gente achou.
E – Está disponível na internet.
A – Ele conta um pouquinho dessa época porque ele entrevistou muita gente. A Myriam sempre foi uma pessoa muito dedicada ao ofício do teatro, das artes. Ela lia muito, ela estava sempre atualizadíssima, (lia) tudo o que aparecesse. Era uma pessoa resistente, que não deixava a peteca cair, estava sempre com o astral lá em cima. Tinha sempre muita gente em volta dela. Os amigos, artistas, frequentavam a casa. Ela também era muito presente na vida de cada um. Ela era agregadora, estudava. Mesmo que não fosse para apresentar nada, ela falava: “Vamos fazer uma leitura da obra do fulano, ciclano?” Sempre promovendo esse crescimento nas pessoas, interagindo… Essa coisa da boa comunicação, ter harmonia, procurar fazer as melhores coisas para o outro. Sempre se espelhar no outro. E a coisa do dinheiro, que você não pode sempre só pensar no dinheiro, tem que pensar, ser consciente. Às vezes, ela resistia um pouco, mas, em uma época, ela começou a dar aula particular para algumas atrizes, que a Globo pedia. Ou então, as pessoas iam fazer o curso dela querendo ter DRT…
E – Ser artista da Globo…
A – Para poder ser global… Ela falava: “Não, você vai fazer outra escola porque eu não dou nada aqui”. Mas ela transmitia conhecimento. Ela dava muito mais. No Teatro de Arena Eugênio Kusnet, se não me engano, tem o material da última entrevista com ela lá, falando da época do Teatro de Arena. Se não me engano, eu devo ter isso. Quem fez isso, acho que foi a Cibele Forjaz (…)
S – A gente encontrou um documentário que acho que foi você mesma que fez. Está no Youtube.
A – Eu, Carmo Sodré Mineiro, Muriel Matalon, Sandra Mantovani e a Vânia Toledo. Na verdade é a partir de uma entrevista da Sandra Mantovani, que era aluna dela na época. Ela não queria fazer. No fim, foi uma das únicas entrevistas (maiores) que ela deu… Mas nós fizemos um documentário depois de um ano que ela morreu. A gente colocou outras coisas. Eu até vou fazer uma cópia e te passo… E tem o assistente dela, o Zebba Dal Farra, que trabalhou muitos anos com ela. Ele ficou um período antes de mim, em que ela fazia só cursos de teatro. Eles também criaram um espaço, através do fomento, e ela deu a última entrevista lá para eles, numa aula magna. Tem em DVD. Eles fizeram também com uma verba, não sei se era da Funarte ou da Caixa Federal. Eles acabaram fazendo um espetáculo e acrescentaram a entrevista da Myriam. A Myriam, aqui em São Paulo, onde ela chegava, todo mundo a reverenciava muito. Ela foi muito presente nessa época do Teatro de Arena, de repressão. Eles eram muito reprimidos. Até na entrevista que ela deu para a Sandra, ela fala um pouco disso, dessa época. Era uma coisa que você não podia falar nada. A ditadura era implacável.
E – Ferrenha.
A – Ela era uma pessoa muito disposta. Tinha uma energia que você falava: “Nossa, a mulher deve ter uns 30 anos”, e ela estava com 50 e poucos. É muito bom lembrar dela. A gente lembra dela todo dia. Eu encontro gente que fez curso com ela e fala: “Nossa, como eu penso na Myriam… Tudo o que eu tenho na minha vida foi a Myriam…” Porque ela abria a cabeça da pessoa. Muita gente largou profissão para virar ator, para fazer EAD, a partir desses cursos da Funarte…
S – Ela foi uma grande professora, mais do que atriz…
A – Durante um período da vida dela, ela era mais professora mesmo e diretora. Ela gostava de dirigir e (de dirigir) música. Gostava mais de shows do que de dirigir teatro. Ela era uma encenadora, na verdade. Então, ela fazia um trabalho… Claro que o teatro estava presente, mas ela gostava do cantor, da cantora, do músico… Tanto é que, durante uma época, ela levava o Pietro Maranca, que era muito amigo dela… Nós até fizemos um trabalho, um espetáculo também com ele, com direção do Fauzi Arap, e ele tocava muito bem piano. As nossas aulas eram todas de relaxamento com o Pietro na Funarte tocando piano. Era magnífico!
Porque o luxo daquela sala Guiomar Novaes, na época, era que tinha um piano maravilhoso e tinha uma acústica boa. Todo mundo queria se apresentar lá. Era uma concorrência.
E – Eu acho que tinha visibilidade…
A – Que bom! Vocês vão disponibilizar um material da história da Funarte.
E – Vamos ver o que a gente consegue. Enquanto a gente conseguir, a gente vai produzir.
A – Que bom.
E – Montamos lá uma equipe, vamos pedir ajuda também lá para o pessoal do Rio.
A – Em uma época, mais assim no final dos cursos da Myriam, ela começou a fazer um seminário, fazia parte do curso também. Então, ela convidava os amigos, que eram críticos de teatro, professores da EAD, ou até alguns dramaturgos, diretores, como Silnei Siqueira, que foi muito amigo dela, e eles iam dar uma palestra lá sobre o trabalho deles ou a carreira, ou então sobre um livro ou alguma peça que tinham feito, depois tinha um debate com os alunos. O curso dela era muito completo.
E – Era bem bacana.
A – Acho que foram uns dos melhores anos da Funarte. A gente passou lá… Que bom!
E – Viveram bem esse período!
A – Maravilhoso! Todo mundo falava: “Nossa, o curso da Myriam era excelente!” Era como se fosse uma faculdade mesmo… As pessoas ficavam de 5 a 10 anos com ela. Depois, acabavam fazendo parte do grupo.
S – Ela não escreveu nada sobre a pedagogia desses cursos?
A – Ela escrevia muito.
E – Onde está o acervo?
A – Então, ela escrevia muito. Ela tinha uns cadernos grandes e ela escrevia muito. Nos shows que ela dirigiu, em alguns deles eu fui assistente dela, ela também escrevia… Está tudo com o filho dela, o Marcelo (…). Quando ele levou os cartazes, ele me falou… Marcelo Zilber, ele se chama… Também tenho o contato dele. Ele falou para mim: “Ângela, é tanto caderno da minha mãe.” Tem coisa que, claro, era coisa pessoal dela. Mas muitas coisas que ela escrevia do espetáculo que ela estava montando no curso, algumas ideias que ela tinha… De noite, acordava, pegava o caderno… A gente pensou de tentar pegar algumas frases, algumas coisas que ela contava e fazer um livreto. Mas, claro, você tem que ter um patrocínio para fazer isso…
E – Tem que ter um projeto…
A – Tem que ter um projeto, tem que ter revisor… Ela tem um livro, que a Maria Tereza Vargas escreveu. A Secretaria da Cultura (é) que, acho, patrocinou, se não me engano, pela HUCITEC. Chama Giramundo. Na verdade, ela falou um pouco sobre a carreira dela como professora. Eles entrevistaram alguns alunos que fizeram projeto com ela, entrevistaram alguns atores que estudaram com ela: Paulo Betti, Cristina Pereira… Tem esse documento, sim. Mas acho que está esgotado.
E – Mas deve ter em bibliotecas.
A – Deve ter. Eu vou ver o ano em que foi isso também. Eu te passo depois todas as informações que eu tenho. Se vocês quiserem, um dia, ir lá fotografar… Que bom que isso vai ficar documentado. Não vai se perder na poeira do tempo.
S – Tomara que não!
E – Os historiadores estão aí para isso.
A – Porque eu falei: “Nossa, acho que a Funarte não tem nada mesmo”
E – A gente não tem aqui. O que a gente não sabe é o que tem lá no CEDOC. Como lá deve ter bastante coisa, a gente está deixando a gente ter mais histórias daqui para quando a gente mandar o material para lá já ter as coisas mais pontuadas.
A – A Myriam dirigiu muita gente na Funarte: Nana Caymmi, Itamar (Assumpção)…
E – Dos shows…
A – Dos shows, ela dirigiu bastante.
E – Eu acredito que esse material esteja lá no Rio. Eu só não sei se está organizado e como a gente vai poder ter acesso. Mas, se a gente não tiver isso também esclarecido, eles não vão saber localizar. Por isso, a gente está levantando o máximo de informação daqui, das pessoas que atuaram nesses períodos para a gente depois ir para o acervo.
A – Se vocês quiserem falar com o Zebba, ele chama Zebba Dal Farra, ele estava escrevendo alguma coisa também sobre a Myriam. Ele é diretor, compositor, músico. Ele trabalhou com a Myriam muitos anos lá na Funarte como diretor assistente e músico também. Nesses espetáculos, ele (é) que era diretor musical, montava as bandas. (…) Ele é professor da ECA, mestre, doutor. Ele é ótimo. Ele não tem Facebook, essas coisas…
S – A gente liga para ele.
A – Antes de mim, ele tem toda a trajetória da Myriam, dos cursos que ela deu, até chegar a esse curso na Funarte. Depois, ele tem a visão dela mais próxima…
S – Dos shows também…
A – Dos shows que ele fazia a parte de repertório, tudo, era ele quem escolhia junto com ela.
S – Então, os shows eram produzidos mesmo na Funarte.
A – Sim, a gente fazia a produção. Eu fazia a produção e a administração. A gente passava um livro de ouro entre os alunos, entre tios, avós, primos, maridos… Os amigos de trabalho… Íamos juntando dinheiro para poder produzir. A gente não ficou com acervo de figurino porque tinha uma atriz também, que trabalhava com ela, a Muriel Matalon, ela fazia a parte de figurino, e ela acabava emprestando e pedindo para as amigas, para a irmã, que também trabalhava com teatro, para todo mundo: “Ah, empresta para eu fazer um figurino…”. Também as pessoas traziam de casa… Mas essa parte de repertório, tudo, a escolha de cenas, de textos, o Zebba que fazia tudo com ela… Fazia luz com o Cacá, trilha sonora… Ele foi bem atuante na parte artística com ela.
E – Seria importante que o Marcelo conseguisse preservar esses cadernos…
A – A gente já conversou várias vezes.
E – Às vezes, simplesmente editá-los, desde que faça uma revisão e veja que não tenha coisas pessoais…
A: Claro, vai do jeito que tiver.
E – Deve ser um material riquíssimo! Imagina, uma artista pensando…
S – É só digitar o que tem lá e às vezes pôr na internet como pdf…
A – A gente pensou… Ele emprestou até uns cadernos para o Cassio… O Cassio Scapin e a Fernanda Signorini fizeram um espetáculo, nós fizemos em 2013, foi o CCBB que patrocinou. Ele pegou o nosso material desse documentário, falou com a Sandra Mantovani, pegou a entrevista completa da Sandra, porque nós editamos muita coisa, e ele montou um espetáculo que se chama “Eu não dava para aquilo”, em que ele faz a Myriam… É maravilhoso! Ficamos seis meses no CCBB daqui, depois nós fomos para o CCBB de Belo Horizonte. No ano passado, nós fomos para o CCBB do Rio. Este ano, ele estava fazendo um espetáculo dirigido pelo Jô Soares, mas ele fez os CEUs com o espetáculo.
S – Não vai ter mais apresentação?
A – Talvez a gente vá fazer, agora no segundo semestre, mais uns 10 CEUs.
S – Avisa a gente.
A – A gente avisa vocês porque ele é impressionante. Ele só está de preto, descalço, mas ele é a Myriam Muniz. O Jô Soares foi ver, os amigos da Myriam, atores… O filho da Myriam saiu de lá chorando, o Marcelo. O Sylvio Zilber… Tinha um jeito de pegar o cigarro… Ela usava uns xales e ele fez idêntico. É impressionante! A voz…
S – Eu quero assistir.
A – A Fernanda Montenegro foi ver no Rio e falou: “Filho, como você fez a Myriam se você nem estudou com ela?”. Ele falou: “Eu fiz um curso com a Myriam, lá na Três Rios, na oficina.” Eu trabalho com ele há uns 14 anos e uma amiga dele que era também assistente da Myriam, a Regina Galdino… Ele conhecia a Myriam pela gente. Às vezes, ele ia à casa dela e ela tinha verdadeira paixão de dirigir ele. No final da vida dela, ela falava para mim: “Nega, se eu pudesse sentar em uma cadeira, no palco, com meu cigarrinho, cinzeiro, e falar da minha vida, eu adoraria. Mas quem vai se interessar por isso?”
E – Agora, eu fiquei até arrepiada. Sabe por quê? O Guti Fraga foi presidente da Funarte, recentemente. Ele é um apaixonado pelos artistas de teatro. Ele é um artista, mas ele é um apaixonado. Ele fez um projetinho. A ideia era fazer um bate-papo com algumas pessoas expressivas do teatro. Isso está gravado, para que os estudantes, os novos artistas conhecessem essas pessoas – era a ideia da Myriam, e quem entrevistava era o Amir Haddad. Ele era o entrevistador. Eu não me lembro de todo mundo. Mas eu fui com a Marília Pêra. A entrevista da Marília Pêra é arrepiante.
A – Nossa, mas é muito bacana.
E – O Amir é um parceiro, um colega. Então, ele deixa a pessoa muito à vontade e troca, tem histórias em comum. Acho que ela se sentiu em casa. Ela (era) muito amiga (do Guti Fraga). O Guti começou na vida artística na companhia da Marília. Então, ela gostava muito do Guti. Acho que ela se sentiu em casa. Ela já estava com muito problema na coluna. Chegou no final, eu até falei com o marido dela: “Será que ela já não está exausta? Chega… Já tem mais de duas horas”. Ele falou assim: “Enquanto ela estiver com este sorriso…”.
A – “Está tudo bem, né?”. Você sabe que o Cassio pegou um amigo dele que é poeta, que se chama Cássio também, e eles fizeram um roteiro. Todas as falas do espetáculo, a Myriam falou, ou na entrevista que a Sandra gravou ou na entrevista que o Zebba gravou ou em alguma coisa que ela escreveu, como se ela estivesse fazendo um depoimento.
E – Deve ser lindo!
S – Eu quero assistir.
A – As pessoas que não conheceram a Myriam…, eu escutava no CCBB, as pessoas saíam e falavam assim: “Gente, que mulher fantástica! Que pena que essa mulher morreu. Eu nunca vi uma novela dela.” Ela fez Os Maias, lá atrás, ela fez o Nino, o italianinho, ficou muito amiga do Juca (de Oliveira), da Aracy Balabanian. A Aracy Balabanian foi assistir e saiu chorando, foi ao camarim chorando, falava: “Mas como?”. Porque parecia que a Myriam tinha baixado ali. E as pessoas que não conheciam, mesmo em Belo Horizonte, no Rio, todo mundo ia falar para ele: “Nossa, mas a gente esquece que é você que está em cena. Parece que a gente foi apresentado para ela.” É muito bonito porque tem falas dela.
E – É ela falando.
A – É ela falando. Então, é bem bacana… As coisas em que ela acreditava, os casos que aconteceram com ela também, tipo na época do Arena, quando ela começou a dirigir teatro infantil…. Ela pediu, e o Boal acabou falando: “Faz um teatro infantil aí. Você quer? Faz.” Então, tem umas histórias muito engraçadas. É bem bacana. Conseguimos fazer esse espetáculo e ele está vivo ainda, porque é um monólogo, um solo. Toda vez que o Cassio tem mais disponibilidade, a gente viaja e faz em algum lugar. A Myriam gravou uns áudios do Juó Bananére, que era um poeta paulista que falava igual italiano. O irmão da Cristina Mutarelli, Zezinho Mutarelli é que gravou para ela. Então, tem algumas coisas de voz dela também. É bem bacana o material. Eu acabei juntando para fazer esse documentário: Myriam por Myriam.